Segue Carta Resposta da Cia. Plastikonirica:
Apontamentos referentes aos últimos acontecimentos que envolvem o espetáculo O Rio e seus/suas criadores(as): Acompanhando a repercussão da carta do Prof. Wagner Cintra e do abaixo assinado referentes à ação judicial que devolveu os materiais do espetáculo O Rio aos seus autores e autoras para que, simplesmente, continuem a trabalhar, não pudemos deixar de destacar alguns fatos que convenientemente foram ignorados e suprimidos na descrição do próprio Wagner em suas manifestações públicas e tentativas de difamar a Cia. PlastikOnírica e seus/suas integrantes. Esperamos que estes apontamentos venham a esclarecer o posicionamento dos(as) estudantes e profissionais envolvidos(das), apresentando informações preciosas para o entendimento completo deste caso bastante complexo que vem se alongando desnecessariamente. Trata-se de um caso complexo pois durante a história do Teatro Didático da Unesp & Teatro de Brancaleone (este último sequer citado na carta do Prof. Wagner Cintra) misturaram-se duas instâncias: a acadêmica e a profissional. Vamos por partes: Desde que começamos a trabalhar no espetáculo, sempre houve o incentivo do próprio Wagner para que este trabalho pudesse se tornar nossa atividade profissional e fonte de renda . Assim que estreamos O Rio, este anseio foi crescendo e continuou a ser alimentado pelo professor que apoiava todas as investidas que fazíamos coletivamente. Assim, nos inscrevemos e apresentamos em diversas mostras e festivais mundo afora. Para que pudéssemos receber cachês pelo nosso trabalho, tiramos nossos DRTs e Wagner nos convidou a filiar-nos à Cooperativa Paulista de Teatro por meio de seu grupo Teatro de Brancaleone que a partir daquele momento estabeleceria uma parceria com o Teatro Didático da Unesp e responderia pelas atividades profissionais que exigiam um CNPJ que pudesse receber o dinheiro dos cachês. Tal dinheiro custeava a manutenção do material, as viagens do grupo e, às vezes, sobrava algum dinheiro para ser dividido entre nós estudantes (o Wagner nunca quis participar desta divisão por opção própria). Assim funcionamos até o dia em que o Prof. Wagner Cintra decidiu, sem apresentar qualquer justificativa, encerrar as atividades do espetáculo até "segunda ordem", como se nós não estivéssemos acostumados(as) a conversar, dividir problemas que nos desagradavam e a tomar decisões de forma conjunta como um grupo. Preocupados(as) com o que pudesse acontecer com o futuro do espetáculo e do grupo, tomamos a iniciativa de registrar a autoria do espetáculo na Biblioteca Nacional, direito reconhecido de qualquer autor e autora. O que foi registrado na Biblioteca Nacional foi apenas a autoria do espetáculo O Rio criado coletivamente por oito pessoas, inclusive o Wagner. O fato de termos considerado o nome dele no momento do registro não se tratou de um ato de benevolência ou misericórdia e sim de fazer o que era certo! No que se refere à pesquisa individual do Wagner como professor universitário nada foi registrado indevidamente. Por sinal, nos parece que o Prof. Wagner Cintra confunde sua pesquisa acadêmica intitulada Estudos propedêuticos acerca do Teatro Visual com o espetáculo que foi um desdobramento desta e de tantas outras pesquisas individuais de nós estudantes que resultaram em artigos publicados no Caderno de Resumos do III Seminário da Licenciatura em Teatro promovido em 2013 pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM e em Trabalhos de Conclusão de Curso que descrevem e investigam entre outras coisas o caráter coletivo da criação do espetáculo, T.C.C.s estes devidamente aprovados
São Paulo, 17 de novembro de 2014.
pelo Instituto de Artes da Unesp e dos quais o próprio Wagner compôs a banca examinadora em conjunto com demais professores e professoras da casa. Claramente o Prof. Wagner Cintra desconhece a Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98), insistindo em dizer que o espetáculo e o material produzido são bens públicos. Segundo a lei, autor é pessoa física e não jurídica o que não faz da Unesp detentora dos direitos da obra. Segundo a própria Norma Patrimonial da Unesp não é possível patrimoniar bens não duráveis como é o caso do material do espetáculo construído todo com material de consumo. Além destes fatos, Wagner não conta que desde 2010 o grupo de estudantes alimentava com investimentos pessoais um caixa que servia para compra de materiais para a realização do espetáculo. Após a estreia do espetáculo e começo de sua carreira profissional, parte significativa dos cachês que ganhávamos era destinada à manutenção e reconstrução dos elementos cênicos da obra. Tudo isto pode ser comprovado por meio de notas fiscais que guardamos desde 2010. Após apresentarmos o protocolo do registro do espetáculo na Biblioteca Nacional para o Wagner e nos surpreendermos com seu comportamento raivoso e ouvirmos acusações absurdas de imoralidade, o próprio Wagner disse que não conversaria mais conosco e que nós deveríamos nos reportar à Assessoria Jurídica da Unesp, em seguida nos expulsando do ateliê do Instituto de Artes da Unesp! Quando nos vimos privados do direito de acessar o material que elaboramos, construímos e financiamos, a primeira medida que tomamos, antes mesmo de irmos procurar apoio jurídico na Cooperativa Paulista de Teatro, foi conversar com a Direção e Vice-direção do Instituto de Artes da Unesp sobre o caso que, por sua vez, nos direcionou à Pró-reitoria de extensão universitária dizendo que o caso fugia do alcance do Instituto de Artes. Desta forma, considerando o muito importante apoio da Unesp no incentivo à construção do espetáculo, com o auxílio jurídico da cooperativa, por mais de três meses, cansamos de tentar diálogos, acordos e soluções amigáveis com o Prof. Wagner Cintra, que se recusou a reunir-se com o Conselho da Cooperativa, e com a Assessoria Jurídica da Unesp que, a princípio, se mostrou favorável a um acordo cuja proposta nunca veio. Um dos motivos para um acordo para o uso dos materiais não ter sido realizado e o rompimento com a Unesp ter sido inevitável foi o descaso do Prof. Wagner Cintra em colaborar, demorando para entregar documentos, atrasando prazos e, principalmente, mostrando-se terminantemente contra qualquer tipo de acordo. Destes fatos estão cientes o Dr. Geraldo Magela e o Dr. Leopoldo Zuaneti advogados da Assessoria Jurídica da Unesp e da AUIN (Agência Unesp de Inovação) como explicitado em conversas e e-mails trocados conosco e com nosso advogado. Em relação à dívida de seis mil reais com o Instituto de Artes da Unesp, o Prof. Wagner Cintra, sem comunicar-nos previamente, tomou a iniciativa de pagar sozinho. O grupo, não concordando com esta atitude que trouxe um prejuízo pessoal ao Wagner, se prontificou a pagar assim que foi comunicado. De qualquer maneira, hoje o Teatro de Brancaleone, grupo do qual o Wagner é representante oficial, tem pouco mais de seis mil reais em sua conta na cooperativa por apresentações e premiações do primeiro semestre deste ano. O que não justifica a afirmação do Wagner de que o grupo deixou uma dívida pendente. Não faz sentido o que Wagner afirma em relação aos "excessos do grupo" que ele cita em sua carta mas não explica e que, segundo ele, se intensificaram nas viagens internacionais e refletiam na qualidade do espetáculo. Ora, que excessos foram estes?
Como isto pode ser? Em todas as viagens internacionais que fizemos, recebemos os mais altos elogios e reconhecimento da qualidade de nossa participação e do espetáculo, fato comprovado por certificados, cartas e prêmios. Não entendemos como que tais "excessos" podem se converter em premiação e reconhecimentos da boa participação, compromisso e envolvimento do grupo! Permanecemos sem entender onde está a indignidade do trabalho ter extrapolado o âmbito universitário e claramente ter conquistado seu espaço no cenário profissional brasileiro e internacional. Da mesma maneira, não compreendemos onde está a inconsequência e prepotência da nossa ação que tenta garantir a continuidade de nosso trabalho. Além disto, sentimentos como afeto, apreço e carinho, no nosso entendimento, nada tem a ver com o que recebemos do Prof. Wagner Cintra nos últimos tempos: abandono acadêmico, expulsão de um grupo cuja reputação ajudamos a construir e prejuízo nas carreiras profissionais. A alegria que sempre nos nutriu (e que, aparentemente, deixou de nutrir o Wagner) será nosso combustível para continuar produzindo e investigando cenicamente a linguagem do Teatro Visual agora com a Cia. PlastikOnírica. Por todo o exposto, o debate a respeito da titularidade dos direitos e dos bonecos é bastante complexo e será tratado judicialmente. Reforçamos ainda que agimos sempre dentro da lei reunindo diversos documentos e evidências que provam a legitimidade de nossa causa. A princípio, a razão da titularidade dos direitos da obra e do material do espetáculo O Rio assiste somente à Cia. PlastikOnírica que tem uma ordem liminar vigorando. Lembramos também que reconhecemos a importância da Unesp como parceira e continuamos dispostos a dar os devidos créditos durante a vida artística do espetáculo O Rio. Concluindo, pensamos que se algum alerta tem de ser dado é que os professores e as professoras conheçam bem as instâncias e os trâmites de suas universidades, os compartilhem com os(as) estudantes e juntos(as) os reinventem se necessário para que não ocorram decepções e mal entendidos futuros. Existem maneiras e medidas para regulamentar o trabalho acadêmico, assim como existem para o trabalho profissional autônomo. É claro que isto deve ser sempre feito dentro da ética e honestidade sim, o que envolve também apresentar os fatos como ocorreram sem suprimir ou editar os acontecimentos convenientemente para angariar apoio, tentando prejudicar ou cercear o desenvolvimento da carreira profissional de quem quer que seja. Esta mesma ética e honestidade também pressupõe que os interessados e interessadas procurem conhecer o outro lado de uma história que é contada unilateralmente antes de tomar qualquer medida que possa ferir qualquer uma das partes envolvidas. Trata-se de generosidade, consideração e respeito com o outro e seu trabalho. Obrigado(a), Artistas integrantes da Cia. PlastikOnírica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário