"Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma." Augusto Boal
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Kassab, deixe as crianças comerem! Pra quê Kassar a merenda?
Fonte: OniPresente
Kassab corta refeição em creches
Depois de cortar 20% da verba destinada à varrição pública, a gestão Gilberto Kassab (DEM) coloca em prática uma nova redução de gastos, desta vez na alimentação das crianças matriculadas em creches administradas pelo município. Secretário de Educação alega que motivo não é economizar. Ubes critica medida.
A redução ocorre porque a prefeitura decidiu eliminar, a partir de segunda-feira, uma das cinco refeições do cardápio diário das crianças. O argumento é que o tempo de permanência das crianças nas creches diminuiu de 12 horas para 10 horas e foi preciso readequar o cardápio.
O horário de funcionamento das creches foi reduzido em janeiro e, segundo a assessoria de imprensa da secretaria de educação da prefeitura de São Paulo, por demanda dos próprios professores da rede municipal. Outra alegação é a de que a maioria das crianças não permanecia o tempo integral (12h) nas creches. Entretanto, a assessoria não soube dizer porque não adotar medida intermediária, como a contratação de um número maior de profissionais para atender as 12h, implementando uma justa redução da jornada destes professores.
Com a mudança, de acordo com o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, o gasto médio mensal da prefeitura com alimentação nas creches será 20% menor, caindo de R$ 2,85 milhões para R$ 2,28 milhões. Entretanto, o secretário afirmou que a intenção não é economizar. "O gasto mensal com merenda é de R$ 36 milhões, incluindo todas as escolas. A mudança no cardápio das creches vai representar menos de R$ 600 mil de economia."
Na contramão do Brasil
O presidente União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Ismael Cardoso, critica a medida: "São Paulo vai na contramão do Brasil. Enquanto o país aumenta os recursos para investimento em Educação, o município de São Paulo promove cortes. Enquanto a marcha em outras cidades é para diminuir o número de creches em situação de parcerias público-privadas, tornando-as cada vez mais públicas, a prefeitura de São Paulo prioriza milionárias verbas publicitárias e corta gastos na educação. É estranho cortar alimentação das crianças. O prefeito deve uma explicação".
A justifica apresentada pelo secretário de educação é a de que a mudança foi feita com o respaldo de nutricionistas e não haverá prejuízo nutricional para as crianças. Até janeiro deste ano as creches funcionavam por 12h e o intervalo entre as cinco refeições que eram oferecidas era de 2h40. Como o período de atendimento das creches foi reduzido para 10h diárias, a eliminação de uma das cinco refeições mudará para 2h50 o intervalo entre as refeições das crianças.
A assessoria de imprensa da secretaria de educação afirmou que a manutenção da dieta equilibrada das crianças dependia da redução de uma refeição durante as 10h em que elas ficam nas creches, mas não soube explicar por que, então, tal medida não foi implementada juntamente com a redução do período de permanência das crianças nestes institutos (que ocorreu em janeiro).
Sem café ou sem janta?
Schneider disse que algumas unidades ficarão sem o café da manhã, e outras, sem o jantar. "Nas creches que funcionam das 7h às 17h haverá café da manhã, mas não terá jantar. E as que funcionam das 8h às 18h darão jantar, mas não darão café da manhã."
Neste contexto, o caso mais dramático é o corte do jantar, afinal, segundo a nutricionista Pérola Ribeiro, crianças de famílias mais carentes teriam problemas, pois fariam lanche à tarde e só comeriam novamente no dia seguinte, na creche.
Indagada a respeito de crianças nesta situação, a assessoria de imprensa da secretaria de educação disse que não há estatísticas quanto ao número de famílias que viveriam tal drama e lembrou que a responsabilidade sobre a criança é da família, o Estado apenas oferece um serviço complementar e que garante conteúdo educacional para estimular o desenvolvimento da criança.
O corte de uma refeição pegou de surpresa os pais. No Centro de Educação Infantil Parque Novo Mundo, na Vila Maria (zona norte de SP), eles receberam um formulário com duas opções: escolher se o filho ficará sem café da manhã ou sem jantar. O papel não podia ser levado para casa e tinha de ser respondido no local.
Conceição dos Santos Umbelino, 23, que tem uma filha de dois anos na creche, discorda do corte. "Não acredito que a prefeitura quer economizar com alimentação", disse.
"Se elas vêm de longe, não dá para cortar o café da manhã das 7h30 e dar algo para comer só às 9h. É um intervalo muito grande para crianças que, muitas vezes, saíram de casa antes das 6h", afirma a professora de pediatria da Faculdade de Medicina do ABC, Denise de Oliveira Schoeps. "Isso poderia causar vários danos ao desenvolvimento físico", afirma. Além disso, diz ela, os cardápios precisam ser balanceados, para evitar ingestão de calorias em excesso.
Creches conveniadas (PPPs)
O corte não atinge creches conveniadas --mantidas por organizações sociais. Segundo a prefeitura, elas já vinham oferecendo às crianças o cardápio com quatro refeições. Cerca de 60 mil crianças terão uma refeição a menos. Elas ficam nas 360 creches diretas e 301 indiretas --cujo espaço é cedido pela prefeitura, mas a administração é feita por entidades filantrópicas. A cidade possui ainda 651 creches conveniadas. Ao todo, as creches atendem a 120.499 crianças.
Kassab e Serra - uma relação profícua
Os comentários de leitores que acompanharam a notícia pela Folha Online também demonstram revolta com a medida e atribuem a decisão a uma política do DEM e do PSDB. Após falar sobre a relação do prefeito Gilberto Kassab com o governador José Serra, o leitor Alessandro Correia tascou: "Acho que ele [Serra] pretende terceirizar a União também, terminando de passar o Banco do Brasil, Petrobrás entre outros. Deveríamos ter esses políticos terceirizados, assim se não cumprissem com seu dever ou fossem pegos em algum escândalo poderíamos manda-los embora e contratar outro. Pensem nisso no plenário."
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