MOSTRA BRECHT NO CINEMA
30 de novembro a 3 de dezembro
Sempre haverá mitos, mas deles podemos nos despir atualizando-os no presente, em nossa própria experiência, aproximando-nos do que de fato restou. Uma mistura de brinquedo e arqueologia. O que de Bertold Brecht sobrou foram os escritos, mas também filmes. Mas não pensemos que os filmes seguiram na História mais íntegros que suas peças, por exemplo, porque estas seriam passíveis de interpretações (literalmente), variações. Os filmes também o são, por motivos diferentes, seja pelo modo como desvendamos as imagens em outro contexto ou pelos cortes de censura, mutilando cópias. Podemos ver o que nos restou.
Brecht mais escreveu para o cinema do que dirigiu. Colaborou diretamente na realização de nove filmes e onze textos adaptados para a tela. Deixou ainda vários roteiros completos e mais de vinte argumentos. Em 1932, pouco antes de se exilar, ocorreu um dos episódios mais significativos da relação de Brecht com o cinema: o filme Kuhle Wampe: ou A Quem Pertence o Mundo?. Este é o único filme em que efetivamente colaborou, com liberdade e entusiasmo, da elaboração do argumento aos trabalhos de direção e filmagem. Este filme causaria uma situação curiosa quando no "tribunal" um censor argumenta com os realizadores os motivos para censurar o filme, desdobrando inesperadamente a estética brechtiniana:
A censura criou-nos grandes dificuldades e houve uma sessão com o representante da censura e os advogados da sociedade cinematográfica. O representante da censura mostrou-se inteligente: “Ninguém vos contesta o direito de descrever suicídios. Suicídios, vários deles aconteceram. Vós podeis também descrever o suicídio de um desempregado. Suicídios de desempregados igualmente ocorreram. Eu não vejo razão, senhores, de ficar em silêncio sobre isso. No entanto, faço uma objeção contra a maneira de descrever o suicídio de vosso desempregado. Ela é inconciliável com os interesses da coletividade que devo defender: estou desolado de dever vos fazer aqui uma censura de ordem artística”. Nós (ofendidos): “?”. Ele continuou: “Sim, vós ides admirar-vos que eu censure a vossa descrição por não me parecer suficientemente humana. Não é um homem o que vós mostrais (digo-o tranqüilamente), mas um tipo. Vosso desempregado não é um verdadeiro indivíduo, não é um homem de carne e sangue, diferente dos outros, com suas preocupações particulares, suas alegrias particulares e, no final das contas, seu destino particular. Ele é representado de maneira completamente artificial (desculpai, enquanto artistas, esta expressão um pouco brutal): nós aprendemos muito pouca coisa sobre ele. Entretanto, as conseqüências são de natureza política e forçam-me a opor-me à liberação de vosso filme. Este filme tende a fazer do suicídio um fenômeno típico, alguma coisa que não é a ação de um ou outro indivíduo doente, mas o destino de toda uma classe!!! Vós sois da opinião que a sociedade conduz os jovens ao suicídio, recusando-lhes a possibilidade de trabalhar. E vós não vos incomodais em dizer o que seria preciso aconselhar aos desempregados para que haja uma mudança neste domínio. Senhores, vós não vos comportastes como artistas. Não neste caso. Vós não vos inquietais de dar forma a um comovente destino individual, do qual ninguém poderia vos impedir”. (...) Com obstinação, acrescentou: “vós deveis, porém, admitir que vosso suicídio evita tudo o que há de impulsivo. O espectador não é levado a fazer nada para a isso se opor, o que deveria, no entanto, ser o caso de uma apresentação artística e calorosamente humana. Meu Deus! O ator fez isso como se mostrasse de que maneira se descascam os pepinos!”.
(...) Saindo da sala, nós não ocultávamos nossa admiração por esse censor tão lúcido. Ele tinha penetrado bem mais profundamente na essência mesma de nossas intenções artísticas do que os críticos mais benevolentes para com nossa proposta. Ele tinha conseguido dar um pequeno curso sobre realismo. Do ponto de vista da polícia.
- Bertolt Brecht em Pequena Contribuição ao Tema do Realismo.
O homem do colarinho pergunta: "E quem vai mudar o mundo?"
A operária responde: "Aqueles a quem o mundo não agrada."
Boas sessões!
ENCONTRO
Encontro sobre o Ativismo na Mídia com Jasmina Tesanovic, ativista política, autora de Diary of a Political Idiot (Kossovo, 1999).O encontro visa discutir as mídias como ferramentas de ações ativistas, tanto de um ponto de vista histórico como atual. Organizado pelo festival ARTE.MOV – Festival Internacional de Arte em Mídias Móveis, o evento conta com a coordenação de Almir Almas, a moderação de Bruna Callegari e Felipe Fonseca, além da participação de Rogerio Borovik, Jean Habib, Flavia Vivaqua, Vivian Accuri, Tulio Tavares, Paulo Lara, e outros, como debatedores.
O encontro acontece no CINUSP, dia 29 de novembro às 17h30, e tem o apoio do CINUSP e do PPGMPA (Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais) CTR/ECA/USP.
SESSÃO ESPECIAL
O abraço corporativoDireção: Ricardo Kauffman
Brasil, 2009, 75’, exibição em DVD
O filme acompanha a trajetória real de um consultor de RH fictício, chamado Ary Itnem, em busca de divulgação na mídia da Teoria do Abraço. Ele propõe a solução para uma doença chamada inércia do afastamento, causada pelo uso excessivo das novas tecnologias. Sua trajetória em busca da notícia está registrada no filme que apresenta de forma surpreendente o desfecho desta história.
A sessão acontece no CINUSP, dia 2 de dezembro às 19h.SINOPSES
A ópera dos três vinténs (Die 3 Groschen-Opera)Direção: G. W. Pabst
Alemanha, 1931, 112´, exibição em DVD
Elenco: Rudolf Forster, Lotte Lenya, Carola Neher
Versão restaurada da famosa adaptação de G. W. Pabst (A Caixa de Pandora) para o lendário musical de Brecht. Músicas de Kurt Weill.
Os carrascos também morrem (Hangmen also die!)
Direção: Fritz Lang
EUA, 1943, 134´, exibição em DVD
Elenco: Brian Donlevy, Walter Brennan, Hans von Twardowski
Um nazista é assassinado na Tchecoslováquia ocupada. Como represália, a Gestapo começa uma sangrenta caçada. Obra-prima de Fritz Lang. Roteiro de Bertolt Brecht.
Kuhle Wampe: ou A quem pertence o mundo?
(Kuhle Wampe oder: Wem gehört die Welt?)
Direção: Slatan Dudow
Alemanha , 1932, 80’, exibição em DVD
História de uma família operária durante a crise econômica na República de Weimar. Marco do cinema político-social. Roteiro de Bertolt Brecht e Ernst Ottwalt.
Como vive o trabalhador berlinense
(Zeitprobleme: wie der Arbeiter wohnt)
Direção: Slatan Dudow
Alemanha , 1930, curta-metragem, exibição em DVD
Realizado antes de Kuhle Wampe, este curta é uma denúncia sobre as condições de vida do trabalhador na capital alemã.
Os mistérios de uma barbearia (Mysterien eines Frisiersalons)
Direção: Bertolt Brecht e Erich Engel
Alemanha, 1923, curta-metragem, exibição em DVD
Elenco: Blandine Ebinger, Karl Valentin, Erwin Faber
Numa barbearia, clientes aguardam enquanto um aprendiz preguiçoso, interpretado pelo famoso ator Karl Valentin, dorme.
GRADE HORÁRIA
Segunda 29/11 | ||||
17h30 | Encontro sobre o Ativismo na Mídia com Jasmina Tesanovic | |||
Terça 30/11 | Quarta 01/12 | Quinta 02/12 | Sexta 03/12 | |
16h | Como vive o trabalhador berlinense (curta) + Kuhle Wampe: ou A quem pertence o mundo? | Os carrascos também morrem | Como vive o trabalhador berlinense (curta) + Kuhle Wampe: ou A quem pertence o mundo? | Os mistérios de uma barbearia (curta) + A ópera dos três vinténs |
19h | Os carrascos também morrem | Os mistérios de uma barbearia (curta) + A ópera dos três vinténs | SESSÃO ESPECIAL O abraço corporativo | Como vive o trabalhador berlinense (curta) + Kuhle Wampe: ou A quem pertence o mundo? |
Nenhum comentário:
Postar um comentário