domingo, 28 de fevereiro de 2010

PRIVATIZAÇÔES: Kassab e Serra são os culpados pelas enchentes, sim! A


nchentes de São Paulo estão ligadas às privatizações
> Em pronunciamento do parlamento o deputado federal Ivan
> Valente (PSOL – SP) comenta como as privatizações do governo Serra
> estão relacionadas às enchentes da cidade de São Paulo. Leia o
> pronunciamento na íntegra:
> “Sr Presidente, senhoras e senhores deputados,
> A cidade de São Paulo está sob as águas há meses. Sempre que
> uma prefeitura de esquerda está à frente da gestão da cidade, as
> enchentes são batizadas nas manchetes da grande imprensa com o nome da
> gestão de plantão. Em plena gestão Kassab e depois de décadas seguidas
> de administração tucana no estado de São Paulo, no entanto, os
> veículos de comunicação atribuem as enchentes ao óbvio elevado volume
> de chuvas para o período.
> De fato, o volume de chuvas no começo deste ano esteve acima
> da média, mas isso não explica por que regiões como o Jardim Pantanal,
> na capital paulista, estão alagados desde as primeiras chuvas de
> dezembro de 2009. Nesse momento, os veículos de comunicação, que
> formam em grande parte a consciência política da população paulistana
> e brasileira, se calam diante de fatos de inteira responsabilidade das
> gestões municipal e estadual. As periferias da zona leste de são Paulo
> estão cheias de água desde dezembro porque as comportas do sistema do
> Alto Tiête estão abertas desde então.
> As comportas do Sistema Produtor de Água do Alto Tietê – o
> SPAT – estão abertas porque estavam com 90% da sua capacidade máxima
> no período imediatamente anterior ao que antecedia a época de chuvas.
> Os noticiários têm omitido também que o SPAT foi privatizado pela
> gestão tucana e o consórcio privado recebe incentivos para manter os
> reservatórios cheios. Esta lógica privatista leva a uma dinâmica que
> sacrifica enormes áreas habitacionais em troca da margem de lucro das
> empreiteiras que hoje controlam o SPAT. O sistema não foi
> paulatinamente esvaziado desde agosto justamente por essa lógica.
>
> Outra conduta comum da mídia é culpar o munícipes por
> habitarem áreas sujeitas a inundação, como se não fosse a Prefeitura
> municipal a responsável pela distribuição urbana segundo o Plano
> Diretor correspondente e como se o direito à habitação digna fosse
> contraditório ao direito ao meio ambiente, quando na verdade são
> direitos complementares. O direito à habitação é também parte do
> direito ao meio ambiente. A criação de um parque linear na região do
> Jardim Pantanal não pode servir de pretexto para a decisão de permitir
> que esta região da cidade seja inundada de modo a induzir a simples
> remoção das famílias que ali vivem sem qualquer solução concreta para
> o problema da moradia, desenhado historicamente e não por vontade ou
> opção dos munícipes.
> Não há o que se possa fazer nesse momento para esvaziar a
> região do Jardim Pantanal até que o volume de chuvas diminua, pois as
> comportas que estiveram fechadas até dezembro para garantir o lucro
> das empreiteiras ficarão abertas até que o fluxo das chuvas diminua
> para evitar um transbordamento. Dizer que esse problema pode ser
> resolvido no curto prazo é no mínimo desonesto. O prefeito Gilberto
> Kassab e o Governador José Serra têm pedido aos cidadãos paulistanos
> que se acalmem, pois as medidas que estão sendo tomadas já estariam
> surtindo efeito. De fato, podemos sentir os efeitos da terceirização
> de 53% do funcionários da SABESP e da redução da verba de limpeza
> urbana da cidade de São Paulo.
> Além disso, recentemente o transporte público da cidade de
> São Paulo teve aumento em sua tarifa, transformando-se em uns dos mais
> caros do mundo. Isso ilustra com clareza os recentes dados que
> demonstram que, apesar da maior arrecadação, os investimento
> municipais diminuíram.
> O elevado volume de chuvas nunca foi culpa da esquerda ou da
> direita, por mais que os cotidianos noticiários insistam no contrário.
> Mas a lógica privatista, sempre relacionada à eficiência pelos mesmos
> noticiários e nunca à exclusão ou à privação de direitos, essa sim, é
> de responsabilidade da direita brasileira.
> Muito obrigado.
> Ivan Valente
> Deputado federal – PSOL/SP
> Plenário da Câmara dos Deputados – 4/2/2010

Filme do filho do Gláuber Rocha, Eryk Rocha, foca a força indígena boliviana!

Documentário "Pachamama" foca ebulição indígena pós-Evo Morales

Fonte: Vermelho e Cappacete

Em seu terceiro longa, "Pachamama", o diretor carioca Eryk Rocha atravessa a tríplice fronteira entre o Brasil, o Peru e a Bolívia, no Acre, para realizar um documentário em que investiga a ebulição que atinge os povos indígenas na América do Sul, especialmente na Bolívia, sob a presidência de Evo Morales.

O filme, que estreia em São Paulo e no Rio de Janeiro, foi viabilizado como um projeto para a TV, que rendeu também uma minissérie já exibida no Canal Brasil e a ser mostrada também no Canal Futura. Em abril, "Pachamama" será lançado no cinema em La Paz.

Filho do lendário Glauber Rocha ("Deus e o Diabo na Terra do Sol"), cuja memória explorou em seu filme de estreia, "Rocha que Voa" (2002), Eryk herda do pai esta preocupação com uma identidade latino-americana que atravessa fronteiras. Mas assume um ponto de vista bem diferente, com registro temporal atualizado, ao focar a retomada da cultura ancestral por parte dos quéchuas, aymaras e outros povos nativos.

Fazendo ele mesmo a câmera do filme, Eryk toma o pulso de uma inquietação que vem tomando as nações de maioria indígena da América do Sul, a partir da chegada ao poder do boliviano Morales -- o primeiro presidente indígena do continente, eleito em 2005 e reeleito em 2009.

O cineasta anda no meio da rua, entra em discussões espontâneas, em que surgem as mais diversas teses. Um homem defende a volta a uma nação aymara original, hoje dividida entre Peru, Bolívia e Argentina, e acha inevitável o derramamento de sangue. Outros discordam. De todo modo, a reavaliação da herança indígena que resistiu à colonização de espanhois e portugueses está na ordem do dia.

Filmando em meados de 2007, Eryk acompanha parte das grandes manifestações e assembleias para debate sobre novas formas de organização e divisão comunitárias da terra, bem como a nacionalizações de alguns setores, temas candentes da Bolívia sob Morales. Flagra também um momento de crise em Santa Cruz, província que luta historicamente para emancipar-se da Bolívia -- e cujo representante, numa entrevista, elogia para o cineasta o que encara como a pouca disposição agressiva dos brasileiros para resolver seus conflitos, preferindo o "jeitinho".

Louro e de olhos claros, Eryk tem que lidar também com a desconfiança que desperta entre as pessoas, que o confundem com um "gringo" (norte-americano) ou jornalista -- categoria que também desperta a desconfiança de muitos, devido ao viés crítico que enxergam na maioria das reportagens, especialmente de televisão, ao retratarem a movimentação popular.

Não falta também a exposição de uma das teses internacionalmente mais polêmicas de Morales -- um ex-cocalero que defende o tradicional consumo das folhas de coca pelos indígenas contra o cansaço e a fome. "Não vejo porque a coca seja ilegal para os índios e legal apenas para a Coca-Cola", costuma dizer.

Umas das sequências mais impressionantes é a visita a Potosí que, no período da colonização espanhola, chegou a ser a maior mina de prata do mundo. Hoje com uma produção apenas residual, a mina é um cenário fantasmagórico, em que os mineiros mantêm bonecos de entidades mágicas para espantar o maior fantasma local -- o risco de morte. Segundo autores como o escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor do clássico livro "As Veias Abertas da América Latina", oito milhões de mineiros teriam morrido ali desde o século XVI.

Proporcionalmente, o Brasil ocupa pouco espaço no filme, ao contrário do que acontece na série. O único país falante de português do continente, entretanto, é mencionado às vezes, seja de maneira realista ou equivocada. Num dado momento, alguém diz que o Brasil tem "70% de analfabetos", um número absurdo. Quase sempre, o Brasil é lembrado como o vizinho maior e mais rico.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O câncer das marginais do rio Tietê


"Das 4.589 árvores existentes na Marginal do Tietê, 935 serão replantadas e 559 serão retiradas (destas, 127 são árvores mortas, com problemas como cupim)..." http://www.novamarginal.sp.gov.br

Ontem passei pela marginal Tietê, fazia tempo, evito essa paisagem tenebrosa a todo custo. O que vi não foi nada de melhorias, como sempre ouço desse (des)governo. Fiquei novamente espantado, como todas as vezes que vejo um rio imenso ser assassinado: a grande maioria das árvores das margens estão MORTAS! Pelo que vi, todas as 935 árvores replantadas não aguentaram a poluição, a terra contaminada, o barulho infernal, a iluminação esfumaçada, a chuva ácida, o ar pútrido e estão mortas, galhos secos, imagem do sertão nordestino, que pelo menos têm a fauna e flora adaptadas. Só resistiram, não sei por quanto tempo, as árvores mais antigas, que foram se adequando ao ambiente hostil, as mesmas que foram escolhidas para serem retiradas para a ampliação de pistas. Crime ambiental evidente. Tristeza na cidade triste, menos cor na cidade cinza, morte na cidade sem vida...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ah! Se fosse possível... 1 parlamentar por 344 professores!


TROQUE 1 PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES
EU APOIO ESTA TROCA
344 professores que ensinam = 1 parlamentar que rouba
Essa é uma campanha que vale a pena!
Troque um parlamentar por 344 professores
Prezado amigo!
Sou professor de Física, de ensino médio de uma escola pública em uma cidade do interior da Bahia e gostaria de expor a você o meu salário bruto mensal: R$650,00.
Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$650,00. Isso mesmo! E olha que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior como eu e recebem minguados R$440,00. Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar com professores competentes e dispostos a ensinar?
Não querendo generalizar, pois ainda existem bons professores lecionando, atualmente a regra é essa: O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e a escola aprova o aluno mal preparado. Incrível, mas é a pura verdade! Sinceramente, eu leciono porque sou um idealista e atualmente vejo a profissão como um trabalho social. Mas nessa semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro!
Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$10,2 milhões por ano... São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$11.545.
Na Itália, são gastos com parlamentares R$3,9 milhões, na França, pouco mais de R$2,8 milhões, na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$850 mil e na vizinha, Argentina, R$1,3 milhões.
Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior !
Diante dos fatos, gostaria muito, amigo, que você divulgasse minha campanha, na qual o lema será:
'TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES'.
COMO VOCE VAI VOTAR DEPOIS DE LER ESTA MATÉRIA?
REPASSEM, EU JÁ ADERI À CAMPANHA!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Arte contra "calamidade pública" ! E vamos barrar o aumento da passagem em sampa...


Caros artistas, ativistas e demais indignados,
A cidade de São Paulo está conflagrada. Ainda assim o prefeito e o
governador continuam forjando um clima de bem estar social. Mas quando
bairros da cidade são declarados em "calamidade pública", famílias sendo
obrigadas a viver debaixo d´água, as tarifas do transporte público
aumentam...fica claro que não vão nada bem.
Sabemos também que nos últimos anos a prefeitura arrecadou mais e investiu
menos, que investe mais em propaganda do que em serviços básicos, que
recebeu verba ilegal para sua campanha eleitoral e permite que as empresas
do transporte público aumentem os seus lucros em detrimento do bem estar
da população. Mas pouco disso tem sido falado na mídia e pouco tem sido
feito para mudar essa situação.
Muitos dizem que a arte só floresce de verdade em momentos de grande
tensão social. E conseguimos entender porque. Quando a maioria por muito
tempo se cala, a necessidade de expressão fica a ponto de explodir.
É por isso que fazemos esse chamado:
Para transformar todos os cantos de São Paulo em meios de expressão.
Se a cidade é página em branco, todos os muros, ruas e espaços públicos
são um convite ao discurso e à ação.
O desafio é mobilizar o maior número de ativistas, artistas e qualquer
indivíduo indignado com a política de exclusão do governo.
Muitos grupos já estão organizados para ações. Mas é também da
espontaneidade que surge intervenções de grande impacto.
No dia 25 de Fevereiro não nos calemos! Vamos ocupar a cidade com arte por
toda parte!
Nossa intenção é criar um fato artístico que desperte a população de São
Paulo sobre o absurdo que é o aumento de passagens de trem, metrô e
ônibus.
Entre no site
http://arte.barraroaumento.org/
e cadastre como você vai se manifestar de forma criativa e ousada contra os abusos da classe política.
TODA CIDADE PARA TODOS!!!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Honduras Urgente: Assassinaram uma jovem trabalhadora da resistência hondurenha!


fonte: Mov. A Plenos Pulmões

Voltaram porque esse canalhas nunca se foram

Por Jessica Isla, Feministas en Resistencia (Honduras)

Ontem (04/02) assassinaram Vanessa Zepeda de 29 anos. Seu cadáver apareeu jogado na colônia Loarque, aqui em Tegucigalpa. Ela era integrante da resistência e do Sindicato de Trabalhadores do Instituto Hondurenho de Seguridade Social. É um aviso para nós. Divulgo, porque apesar de saber que temos que nos cuidar, não posso com a indiganção e a raiva. Isto é preciso ser conhecido, ainda que não sei bem para que, porque estes canalhas pouco se importam com a pressão internacional.

Abraço

"La de siempre"

Vanessa Zepeda era enfermeira do Instituto de Seguridade Social Hondurenho, ativista sindical e integrante da resistência ao golpe.

Marcelo Rubens Paiva: Carta aos milicos!

Fonte: TERRA BRASILIS

"CAROS GENERAIS, ALMIRANTES E BRIGADEIROS
Marcelo Rubens Paiva ESTADAO, 30.02.2010

Eu ia dizer "caros milicos". Não sei se é um termo ofensivo. Estigmatizado é. Preciso enumerar as razões? Parte da sociedade civil quer rever a Lei da Anistia. Sugeriram a Comissão da Verdade, no desastroso Programa Nacional de Direitos Humanos, que Lula assinou sem ler. Vocês ameaçaram abandonar o governo, caso fosse aprovado. Na Argentina, Espanha, Portugal, Chile, a anistia a militares envolvidos em crimes contra a humanidade foi revista. Há interesse para uma democracia em purificar o passado. Aqui, teimam em não abrir mão do perdão. E têm aliados fortes, como o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que apesar de civil apareceu num patético uniforme de combate na volta do Haiti. Parecia um clown. Vocês pertencem a uma nova geração de generais, almirantes, tenentes-brigadeiros. Eram jovens durante a ditadura. Devem ter navegado na contracultura, dançado Raul Seixas, tropicalistas. Usaram cabelos compridos, jeans desbotados? Namoraram ouvindo bossa nova? Assistiram aos filmes do Cinema Novo? Sabemos que quem mais sofreu repressão depois do Golpe de 64 foram justamente os militares. Muitos foram presos e cassados. Havia até uma organização guerrilheira, a VPR, composta só por militares contra o regime. Por que abrigar torturadores? Por que não colocá-los num banco de réus, um Tribunal de Nuremberg? Por que não limpar a fama da corporação? Não se comparem a eles. Não devem nada a eles, que sujaram o nome das Forças Armadas. Vocês devem seguir uma tradição que nos honra, garantiu a República, o fim da ditadura de Getúlio, depois de combater os nazistas, e que hoje lidera a campanha no Haiti. Sei que nossa relação, que começou quando eu tinha 5 anos, foi contaminada por abusos e absurdos. Culpa da polarização ideológica da época. Seus antecessores cassaram o meu pai, deputado federal de 34 anos, no Golpe de 64, logo no primeiro Ato Institucional.

Pois ele era relator de uma CPI que investigava o dinheiro da CIA para a preparação do golpe, interrogou militares, mostrou cheques depositados em contas para financiar a campanha anticomunista. Sabiam que meu pai nem era comunista? Ele tentou fugir de Brasília, quando cercaram a cidade. Entrou num teco-teco, decolou, mas ameaçaram derrubar o avião. Ele pousou, saltou do avião ainda em movimento e correu pelo cerrado, sob balas. Pulou o muro da embaixada da Iugoslávia e lá ficou, meses, até receber o salvo-conduto e se exilar. Passei meu aniversário de 5 anos nessa embaixada. Festão. Achávamos que a ditadura não ia durar. Que ironia... Da Europa, meu pai enviou uma emocionante carta aos filhos, explicando o que tinha acontecido. Chamava alguns de vocês de "gorilas". Ri muito quando a recebi. Ainda era 1964, a família imaginava que fosse preciso partir para o exílio e se juntar na França, quando ele entrou clandestinamente no Brasil. Num vôo para o Uruguai, que fazia escala no Rio, pediu para comprar cigarros e cruzou portas, até cair na rua, pegar um táxi e aparecer de surpresa em casa. Naquela época, o controle de passageiros era amador. Mas veio a luta armada, os primeiros sequestros, e atuavam justamente os filhos dos amigos e seus eleitores - ele foi eleito deputado em 1962 pelos estudantes. A barra pesou com o AI-5, a repressão caiu matando, e muitos vinham pedir abrigo, grana para fugir. Ele conhecia rotas de fuga. Tinha um aviãozinho. Fernando Gasparian, o melhor amigo dele, sabia que ambos estavam sendo seguidos e fugiu para a Inglaterra. Alertou o meu pai, que continuou no País. Em 20 de janeiro de 1971, feriado, deu praia. Alguns de vocês invadiram a nossa casa de manhã, apontaram metralhadoras. Depois, se acalmaram. Ficamos com eles 24 horas. Até jogamos baralho. Não pareciam assustadores. Não tive medo. Eram tensos, mas brasileiros normais. Levaram o meu pai, minha mãe e minha irmã Eliana, de 14 anos. Ele foi torturado e morto na dependência de vocês. A minha mãe ficou presa por 13 dias, e minha irmã, um dia. Sumiram com o corpo dele, inventaram uma farsa (a de que ele tinha fugido) e não se falou mais no assunto. Quando, aos 17 anos, fui me alistar na sede do 2º Exército, vivi a humilhação de todos os moleques: nos obrigaram a ficar nus e a correr pelo campo. Era inverno. Na ficha, eu deveria preencher se o pai era vivo ou morto. Na época, varão de família era dispensado. Não havia espaço para "desaparecido". Deixei em branco. Levei uma dura do oficial. Não resisti: "Vocês devem saber melhor do que eu se está vivo." Silêncio na sala. Foram consultar um superior. Voltaram sem graça, carimbaram a minha ficha, "dispensado", e saí de lá com a alma lavada. Então, só em 1996, depois de um decreto-lei do Fernando Henrique, amigo de pôquer do meu pai, o Governo Brasileiro assumiu a responsabilidade sobre os desaparecidos e nos entregou um atestado de óbito. Até hoje não sabemos o que aconteceu, onde o enterraram e por quê? Meu pai era contra a luta armada. Sabemos que antes de começarem a sessão de tortura, o brigadeiro Burnier lhe disse: "Enfim, deputadozinho, vamos tirar nossas diferenças." Isso tudo já faz quase 40 anos. A Lei da Anistia, aprovada ainda durante a ditadura, com um Congresso engessado pelo Pacote de Abril, senadores biônicos, não eleitos pelo povo, garante o perdão aos colegas de vocês que participaram da tortura. Qual o sentido de ter torturadores entre seus pares? Livrem-se deles. Coragem".

Postado por GUERRILHEIROS VIRTU@IS

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010