Um lugar após o outro: anotações sobre site-specificity. Miwon Kwon


 Um lugar após o outro:
anotações sobre site-specificity
Miwon Kwon
A autora analisa a origem da arte site-specific a partir da escultura pública e das práticas
pós-minimalistas, abordando também as transformações do conceito de site-specificity:
da adequação dos trabalhos aos espaços físicos em que se inserem às práticas em que
o trabalho se constrói a partir de uma dimensão discursiva específica.
Site-specificity, site-specific, site-oriented, arte pública

Mark Dion, On tropical
nature, campo perto da
bacia do Rio Orinoco,
1991
Foto: Bob Braine
Mark Dion, materiais
configurados para o New
York Bureau for Tropical
Conservation, instalação
no American Fine Arts
Co., 1992
Foto: A. Cumberbirch
Fonte das imagens: October n. 80:
85-110. Cambridge: The MIT
Press, 1997
T E M Á T I C A S • M I W O N K W O N
Site-specificity costumava implicar algo
enraizado, atrelado às leis da física.
Freqüentemente lidando com a gravidade,
os trabalhos site-specific costumavam ser
obstinados com a “presença”, mesmo que
fossem materialmente efêmeros e inflexíveis
quanto à imobilidade, mesmo em face do
desaparecimento ou destruição. Fosse dentro
do cubo branco ou no deserto de Nevada,
orientada para a arquitetura ou para a
paisagem, a arte site-specific inicialmente
tomou o “site” como localidade real, realidade
tangível, com identidade composta por
singular combinação de elementos físicos
constitutivos: comprimento, profundidade,
altura, textura e formato das paredes e salas;
escala e proporção de praças, edifícios
ou parques; condições existentes de iluminação,
ventilação, padrões de trânsito; características
topográficas particulares. Se a
escultura moderna absorveu seu pedestal/
base para romper sua conexão com ou expressar
sua indiferença ao site, tornando-se
mais autônoma e auto-referencial, e portanto
transportável, sem lugar e nômade, então
trabalhos site-specific, quando emergiram no
despertar do minimalismo, no final da década
de 1960 e início da seguinte, forçaram
dramática reversão nesse paradigma modernista.
1 Contrariando a afirmação “Se você
tem que trocar uma escultura por um site,
há algo errado com a escultura”,2 a arte sitespecific,
quer interruptiva ou assimilativa,
desistiu de si própria por seu contexto
ambiental, sendo formalmente determinada
ou dirigida por ele.3
Por sua vez, o espaço estéril e idealista puro
dos modernismos dominantes foi radicalmente
deslocado pela materialidade da paisagem
natural ou do espaço impuro e ordinário
do cotidiano. O espaço de arte não
era mais percebido como lacuna, tabula rasa,
mas como espaço real. O objeto de arte ou
evento nesse contexto era para ser experimentado
singularmente no aqui-e-agora pela
presença corporal de cada espectador, em
imediatidade sensorial da extensão espacial
e duração temporal (o que Michael Fried,
brincando, caracterizou como teatralidade),
mais do que instantaneamente “percebido”
em epifania visual por um olho sem corpo.
O trabalho site-specific em sua primeira formação,
então, focava no estabelecimento de
uma relação inextricável, indivisível entre o
trabalho e sua localização, e demandava a
presença física do espectador para completar
o trabalho. A (nova-vanguardista) aspiração
de exceder as limitações das linguagens
tradicionais, como pintura e escultura, tal
como seu cenário institucional; o desafio
epistemológico de realocar o significado interno
do objeto artístico para as contingências
de seu contexto; a reestruturação radical
do sujeito do antigo modelo cartesiano
para um modelo fenomenológico da experiência
corporal vivenciada; e o desejo
autoconsciente de resistir às forças da economia
capitalista de mercado, que faz circularem
os trabalhos de arte como mercadorias
transportáveis e negociáveis – todos
esses imperativos juntaram-se no novo apego
da arte à realidade do site.
Nessa corrente, Robert Barry declarou em
entrevista de 1969 que cada uma de suas
instalações com fios era “feita para o lugar
no qual eram instaladas. Elas não podem ser
removidas sem ser destruídas”.4 De modo
semelhante, Richard Serra, 15 anos mais tarde
em carta ao diretor do Art-in-Architecture
Program do General Services Administration
em Washington D.C., declarou que sua escultura
de aço Cor-Ten de 36m intitulada
Tilted Arc foi “encomendada e projetada
para uma localização específica: a Federal
Plaza. É um trabalho site-specific e como tal
não é para ser realocado. Removê-lo é destruí-
lo”.5 Em 1989 ele explicou sua posição:
Como eu destaquei, Tilted Arc foi concebido
desde o início como uma escultura
site-specific e não pretendia ser
“site-adjusted” ou... “realocada”. Trabalhos
site-specific lidam com componentes
ambientais de determinados lugares.
Escala, tamanho e localização dos
trabalhos site-specific são determinados
pela topografia do lugar, seja esse urbano
ou paisagístico ou clausura
arquitetônica. Os trabalhos tornam-se
parte do lugar e reestruturam sua organização
tanto conceitual quanto
perceptualmente.6
Barry e Serra ecoam um no outro aqui. Porém,
onde o comentário de Barry anuncia o
que foi no final da década de 1960 uma nova
radicalidade na prática da escultura de vanguarda,
marcando uma primeira etapa nas
experimentações estéticas que se seguiriam
durante a década de 1970 (por exemplo,
land/earth art, process art, instalação, arte
conceitual, performance/body art e várias
formas de crítica institucional), a afirmação
de Serra, 20 anos mais tarde no contexto
da arte pública, é uma defesa indignada, sinalizando
o ponto de crise para a sitespecificity
– pelo menos para uma versão
que iria priorizar a inseparabilidade física entre
o trabalho e seu local de instalação.7
Informadas pelo pensamento contextual do
Minimalismo, várias formas de crítica
institucional e arte conceitual desenvolveram
um modelo diferente de site-specificity que
implicitamente desafiou a “inocência” do espaço
e a concomitante pressuposição de um
sujeito/espectador universal (apesar de possuidor
de corpo físico) tal como defendia o
modelo fenomenológico. Artistas como
Michael Asher, Marcel Broodthaers, Daniel
Buren, Hans Haacke e Robert Smithson, tal
como muitas artistas mulheres, incluindo
Mierle Laderman Ukeles, de forma variável
conceberam o lugar não só em termos físicos
e espaciais, mas como uma estrutura
cultural definida pelas instituições de arte. Se
o Minimalismo devolveu ao espectador um
corpo físico, as práticas de teor críticoinstitucional
insistiram no padrão social de
classe, raça, gênero e sexualidade do espectador.
8 Além disso, enquanto o Minimalismo
desafiava o hermetismo idealista do objeto
de arte autônomo ao atribuir seu significado
ao espaço de sua apresentação, a posterior
abordagem crítico-institucional complicou
ainda mais esse deslocamento ao enfatizar
o hermetismo idealista do espaço de apresentação
em si. O espaço moderno da galeT
ria/museu, por exemplo, com suas impecáveis
paredes brancas, luz artificial (sem janelas),
clima controlado e arquitetura pura, era
percebido não só em termos de dimensões
básicas e proporção, mas como um disfarce
institucional, uma convenção normativa de
exposição a serviço de uma função ideológica.
Os aspectos arquitetônicos aparentemente
benignos de um museu/galeria, em
outras palavras, eram considerados mecanismos
codificados que ativamente dissociam
o espaço de arte do mundo externo,
potencializando o imperativo idealista da instituição
que definia a si e aos seus valores
hierárquicos como “objetivos”, “desinteressados”,
e “verdadeiros”.
Já em 1970, Buren afirmou: “Se o lugar onde
o trabalho é mostrado imprime e marca esse
trabalho, seja ele qual for, ou se o trabalho
em si é diretamente – conscientemente ou
não – produzido para o museu, qualquer
trabalho apresentado nessa estrutura, se não
examinar explicitamente a influência desse
formato sobre si mesmo, cai na ilusão de
auto-suficiência – ou idealismo.”9 Mais, porém,
do que apenas o museu, o site inclui
uma gama de vários espaços e economias
diferentes que se inter-relacionam, entre eles
o ateliê, a galeria, o museu, a crítica de arte,
a história da arte, o mercado de arte, que
juntos constituem um sistema de práticas que
não está separado, mas aberto às pressões
sociais, econômicas e políticas. Ser “específico”
em relação a esse local [site], portanto,
é decodificar e/ou recodificar as convenções
institucionais de forma a expor suas operações
ocultas mesmo que apoiadas – é revelar
as maneiras pelas quais as instituições
moldam o significado da arte para modular
seu valor econômico e cultural, e boicotar a
falácia da arte e da autonomia das instituições
ao tornar aparente sua imbricada relação
com processos socioeconômicos e políticos
mais amplos da atualidade. Novamente,
nas palavras um tanto militantes de Buren
em 1970:
A arte, não importa onde esteja, é exclusivamente
política. O que importa é
a análise dos limites formais e culturais
(e não um ou outro) em que a arte
existe e luta. Esses limites são muitos e
de diferentes intensidades. Embora a
ideologia dominante e os artistas associados
sempre tentem camuflá-la, e
embora seja muito cedo – as condições
não são propícias – para dar-lhes
demasiada importância, chegou a hora
de lhes tirar o véu.10
Nas primeiras formas da abordagem críticoinstitucional,
de fato, as condições físicas do
espaço de exposição permaneceram o ponto
de partida principal para essa retirada do véu.
Por exemplo, em trabalhos como o
Condensation Cube (1963-65), de Haacke,
a série Measurements (1969), de Mel
Bochner, os recortes de parede de Lawrence
Weiner (1968) e Within and Beyond the
Frame (1973), de Buren, a tarefa de expor
aqueles aspectos que a instituição obscurecia
era feita literalmente em relação à arquitetura
do espaço de exposição – enfatizando
o nível de umidade da galeria ao permitir
que o ar úmido “invadisse” o objeto de arte
Minimalista puro (uma configuração mimética
do espaço da galeria em si); insistindo no
fato material das paredes da galeria enquan-
to dispositivos de “moldura” ao apontar para
suas dimensões diretamente; removendo
porções de uma parede para revelar a realidade
básica por trás do cubo branco “neutro”;
e excedendo os limites físicos da galeria
ao fazer com que o trabalho de arte saísse
literalmente pela janela, ostensivamente
para “emoldurar” a moldura institucional.
Tentativas tais como essas de expor o
confinamento cultural dentro do qual os artistas
operam – “o aparato no qual o artista
está enredado” – e o impacto de suas forças
sobre o significado e o valor da arte tornaram-
se, como previu Smithson em 1972, “a
grande questão” para os artistas da década
de 1970.11 À medida que essa investigação
se estendeu década de 1980 adentro, ela se
apoiou cada vez menos nos parâmetros físicos
da galeria/museu ou em outras áreas de
exibição para articular sua crítica.
Na prática paradigmática de Hans Haacke,
por exemplo, o site passou da condição física
da galeria (tal como em Condensation
Cube) para o sistema das relações socioeconômicas
dentro das quais a arte e seu
programa institucional acham suas possibilidades
de existência. Sua exposição baseada
em fatos ao longo da década de 1970, que
deflagrou as amarras inextricáveis da arte
com o poder ideologicamente suspeito senão
moralmente corrupto da elite, repensou
o site da arte enquanto moldura
institucional em termos sociais, econômicos
e políticos, e enfatizou esses termos como
o próprio conteúdo do trabalho artístico.
Exemplificando uma abordagem diferente da
moldura institucional estão os projetos de
deslocamento com precisão cirúrgica de
Michael Asher, que avançaram o conceito
de site para abranger dimensões históricas e
conceituais. Em sua contribuição à 73rd
American Exhibition, no Art Institute of Chicago
em 1979, por exemplo, Asher revelou
os locais da exposição ou mostra como sendo
situações culturalmente específicas e geradoras
de expectativas e narrativas particulares
no que diz respeito à arte e à história.
A inserção da arte na instituição, em outras
palavras, não só distingue um valor econômico
e qualitativo, mas também (re)produz
formas específicas de conhecimento que
estão historicamente localizadas e culturalmente
determinadas – que não são absolutamente
padrões universais ou perenes.12
Dessa forma, o “site” da arte vai para longe
de sua coincidência com o espaço literal da
arte, e a condição física de uma localização
específica deixa de ser o elemento principal
na concepção de um site. Quer articulado
em termos políticos ou econômicos, como
no caso de Haacke, ou em termos
epistemológicos, como em Asher, mais importantes
são as técnicas e os efeitos da instituição
de arte uma vez que circunscrevem
a definição, produção, apresentação e disseminação
da arte que se tornou o local de
intervenções críticas. Concomitante a esse
movimento na direção da desmaterialização
do site é a progressiva desestetização (por
exemplo, recuo do prazer visual) e a
desmaterialização do trabalho de arte. Indo
contra o menor sentido dos hábitos e desejos
institucionais, e continuando a resistir à
mercantilização da arte no/para o mercado
de arte, a arte site-specific adota estratégias
que são ou agressivamente antivisuais – informativas,
textuais, expositivas, didáticas –,
ou imateriais como um todo – gestos, eventos,
performances limitadas pelo tempo. O
“trabalho” não quer mais ser um substantivo/
objeto, mas um verbo/processo, provocando
a acuidade crítica (não somente física)
do espectador no que concerne às condições
ideológicas dessa experiência. Nesse
contexto, a garantia de uma relação específica
entre um trabalho de arte e o seu
“site” não está baseada na permanência física
dessa relação (conforme exigia Serra, por
exemplo), mas antes no reconhecimento da
sua impermanência móvel, para ser experimentada
como uma situação irrepetível e
evanescente.
Mas se a crítica do confinamento cultural da
arte (e do artista) pela via de suas instituições
foi a “grande questão”, um impulso
dominante de práticas orientadas para o site,
hoje é a busca de maior engajamento com
o mundo externo e a vida cotidiana – uma
crítica da cultura que inclui os espaços não
especializados, instituições não especializadas
e questões não especializadas em arte (na
realidade, borrando a divisão entre arte e
não-arte). Preocupada em integrar a arte
mais diretamente no âmbito do social, seja
para reendereçar (num sentido ativista)
problemas sociais urgentes, como a crise
ecológica, o problema de moradia, Aids,
homofobia, racismo e sexismo, ou mais amplamente
para relativizar a arte como apenas
uma entre as muitas formas de trabalho
cultural, as manifestações de site-specificity
tendem a tratar as preocupações estéticas
e históricas (da arte) como questões secundárias.
Considerando o foco na natureza
social da produção e recepção de arte como
sendo exclusivista demais, até elitista, esse
engajamento expandido com a cultura favorece
locais “públicos” fora dos confins
tradicionais da arte em termos
físicos e intelectuais.13
Levando adiante as tentativas
(às vezes literais) de levar a
arte para fora do espaço-sistema
museu/galeria (lembrem
das telas listradas de
Buren saindo pela janela da
galeria, ou das aventuras de
Smithson nas terras remotas
de Nova Jersey ou locais isolados
de Utah), trabalhos
contemporâneos que são orientados
para o site ocupam
hotéis, ruas urbanas, projetos
de moradia, prisões, escolas,
hospitais, igrejas, zoológicos, supermercados,
etc., e infiltram-se nos espaços da mídia, como
o rádio, o jornal, a televisão e a internet. Além
dessa expansão espacial, a arte site-oriented
também é informada por uma gama mais
ampla de disciplinas (por exemplo, antropologia,
sociologia, crítica literária, psicologia,
história cultural e natural, arquitetura e urbanismo,
informática, teoria política) e em
sintonia fina com discursos populares (como
moda, música, propaganda, cinema e televisão).
Mas além dessa expansão dual da arte
na cultura, que obviamente diversifica o site,
a característica marcante da arte siteoriented
hoje é a forma como tanto a relação
do trabalho de arte com a localização
em si (como site) como as condições
sociais da moldura institucional (como
site) são subordinadas a um site determinado
discursivamente que é delineado como
um campo de conhecimento, troca intelectual
ou debate cultural. Além disso, diferente
dos modelos anteriores, esse site não é
definido como pré-condição, mas antes é
gerado pelo trabalho (freqüentemente
como “conteúdo”), e então comprovado
mediante sua convergência com uma formação
discursiva existente.
Por exemplo, no projeto On Tropical Nature
(1991) de Mark Dion, várias definições diferentes
de site operaram concomitantemente.
Primeiro, o site inicial da intervenção de Dion
era um lugar desabitado na floresta tropical
perto da nascente do Rio Orinoco, fora de
Caracas, Venezuela, onde o artista acampou
durante três semanas coletando espécies de
várias plantas e insetos, assim como penas,
cogumelos, ninhos e pedras. No final de cada
semana, eram entregues em recipientes ao
segundo site do projeto, Sala Mendonza, uma
das duas instituições da exposição em Caracas.
No espaço da galeria, as espécies,
descarregadas e dispostas como trabalhos
de arte em si, eram contextualizadas no que
constituía um terceiro site – a estrutura
curatorial de uma exposição coletiva
temática.14 O quarto site, no entanto, embora
fosse o menos literal, era o site com o
qual Dion pretendia uma relação duradoura.
On Tropical Nature procurava tornar-se
parte do discurso que diz respeito à representação
cultural da natureza e a crise
ambiental global.15
Às vezes, a custo de uma derrapagem semântica
entre conteúdo e site, outros artistas
que estão similarmente engajados em
projetos site-oriented, operando em múltiplas
definições de site, acabam achando sua
âncora “localizacional” no âmbito discursivo.
Por exemplo, enquanto Tom Burr e John
Lindell têm produzido, cada um por si, projetos
diversos em uma variedade de meios
para muitas instituições diferentes, seu
engajamento consistente com assuntos que
concernem à construção e à dinâmica da
(homo)sexualidade e o desejo tem estabelecido
tais assuntos como o “site” de seu trabalho.
E em projetos de artistas como Lothar
Baumgarten, Renée Green, Jimmie Durham
e Fred Wilson, os legados do colonialismo,
escravidão, racismo e a tradição etnográfica,
uma vez que causam impacto nas políticas
de identidade, emergiram como importante
“site” de investigação artística. Em algumas
instâncias, artistas como Green, Silvia
Kolbowski, Group Material e Christian Philip
Müller refletiram sobre os aspectos da prática
site-specific em si como um “site”, interrogando
seu uso geral em relação aos imperativos
estéticos, demandas institucionais,
ramificações socioeconômicas ou eficácia
política. Desse modo, diferentes debates
culturais, um conceito teórico, uma questão
social, um problema político, uma estrutura
institucional (não necessariamente uma instituição
de arte), uma comunidade ou evento
sazonal, uma condição histórica, mesmo
formações particulares do desejo, são agora
considerados sites.16
Isso não é dizer que os parâmetros de um
lugar em particular ou instituição já não importam
mais, porque a arte site-oriented hoje
ainda não consegue ser pensada ou feita sem
as contingências das circunstâncias institucionais
e de lugar. Mas o site principal endereçado
pelas manifestações atuais de sitespecificity
não está necessariamente amarrado
a, ou determinado por, essas contingências
a longo prazo. Conseqüentemente,
embora o site de ação ou intervenção (físico)
e o site dos efeitos/recepção (discursivo)
sejam concebidos para ser contíguos, eles
são, todavia, afastados. Enquanto, por exemplo,
os sites de intervenção e efeito para o
Tilted Arc de Serra eram coincidentes (Federal
Plaza no Centro de Nova York), o site
de intervenção de Dion (a floresta tropical
da Venezuela ou a Sala Mendoza) e o seu
site de efeito (o discurso da natureza) são
distintos. O primeiro claramente serve ao
último como fonte material e “inspiração”,
mesmo assim não sustenta com ele uma
relação indicial.
James Meyer distinguiu essa tendência na
prática recente do site-oriented em termos
de “functional site”: “[O functional site] é um
processo, uma operação que ocorre entre
sites, um mapeamento de filiações institucionais
e discursivas e os corpos que se
movem entre eles (o do artista sobretudo).
É um site informacional, um local em que se
sobrepõem texto, fotografias e vídeos, lugares
físicos e coisas... É algo temporário; um
movimento; uma cadeia de significados carente
de um foco particular.”17 O que significa
que agora o site é estruturado
(inter)textualmente mais do que espacialmente,
e seu modelo não é um mapa, mas
um itinerário, uma seqüência fragmentária de
eventos e ações ao longo de espaços, ou
seja, uma narrativa nômade cujo percurso é
articulado pela passagem do artista. Similar
ao padrão de movimento nos espaços eletrônicos
da internet e do espaço cibernético,
que de forma parecida são estruturados para
ser experimentados transitivamente, uma
coisa depois da outra, e não como simultaneidade
sincrônica,18 essa transformação do site
textualiza espaços e espacializa discursos.
Uma conclusão provisória pode ser que, na
prática das artes avançadas dos últimos 30
anos, a definição operante de site foi transformada
de localidade física – enraizada, fixa,
real – em vetor discursivo – desenraizado,
fluido, virtual. Mesmo se o domínio de uma
formulação particular de site-specificity
emerge em um momento e desaparece
em outro, as mudanças, todavia, nem sempre
são pontuais ou definitivas. Desse
modo, os três paradigmas de site-specificity
que esquematizei aqui – fenomenológico,
social/institucional e discursivo – embora
apresentados de forma cronológica, não são
estádios em uma trajetória linear de desenvolvimento
histórico. Preferivelmente,
são definições que competem entre si, sobrepondo-
se uma à outra e operando simultaneamente
em várias práticas culturais
hoje (ou mesmo dentro de um projeto
específico de um artista).
Não obstante, esse afastamento da interpretação
literal do site e da expansão múltipla
do site em termos conceituais e físicos
parece mais acelerado hoje do que no passado.
E o fenômeno é abraçado por muitos
artistas e críticos como um avanço que oferece
vias mais eficientes para resistir a forças
institucionais revisadas e mercadológicas
que hoje comercializam práticas artísticas
“críticas”. Além do mais, formas atuais de
arte site-oriented, que prontamente se apropriam
de questões sociais (com freqüência
por elas inspiradas) e que rotineiramente incluem
a participação colaborativa de grupos
de público para a conceitualização e produção
do trabalho, são vistas como uma forma
de fortalecer a capacidade da arte de penetrar
a organização sociopolítica da vida
contemporânea com impacto e significado
maiores. Nesse sentido, as possibilidades
de conceber o site como algo mais
do que um lugar – como uma história étnica
reprimida, uma causa política, um grupo
de excluídos sociais – é um salto
conceitual crucial na redefinição do papel
“público” da arte e dos artistas.19
Esse apoio entusiasmado a esses objetivos
saudáveis precisa, contudo, ser verificado por
um exame crítico dos problemas e contradições
que atingem todas as formas de arte
site-specific e site-oriented hoje, que são visíveis
agora que o trabalho de arte está se
tornando cada vez mais “desapegado” das
condições físicas do site mais uma vez – desapegado
tanto no sentido literal da separação
física do trabalho de arte em relação ao
local de sua instalação inicial quanto em sentido
metafórico, como acontece na mobilidade
discursiva do site em formas emergentes
de arte site-oriented. Esse “desapego”,
no entanto, não indica retrocesso à autonomia
modernista do objeto nômade, desalojado,
embora tal ideologia seja ainda predominante.
Pelo contrário, o desapego atual
da site-specificity é reflexo de novas questões
que pressionam suas práticas hoje –
questões engendradas tanto por imperativos
estéticos quanto por determinantes externos
históricos, que não são exatamente
comparáveis àqueles de 30 anos atrás. Por
exemplo, qual o status de valores estéticos
tradicionais, tais como originalidade, autenticidade
e exclusividade na arte site-specific,
que sempre começa com as precondições
particulares, locais e irrepetíveis do site, seja
lá de que forma isso seja definido? Seria a
ação do artista de relegar a autoria às condições
do site, incluindo colaboradores e/ou
espectadores-leitores, uma continuidade da
performance barthesiana da “morte do artista”
ou uma reedição da centralidade do
artista como um diretor/gerenciador “silen-
cioso”? Além disso, qual o status comercial
do que é anticomercial, ou seja, imaterial,
process-oriented, efêmero, performativo?
Enquanto a arte site-specific uma vez desafiou
a comercialização ao insistir na imobilidade,
parece que agora adota a mobilidade
fluida e o nomadismo pelo mesmo motivo.
Mas, curiosamente, o princípio nômade também
define o capital e o poder em nossos
tempos.20 Seria então o desapego da sitespecificity
uma forma de resistência ao
establishment ideológico da arte ou uma
rendição à lógica capitalista expansionista?
A mobilização da arte site-specific
O “despreendimento” dos primeiros trabalhos
de arte site-specific realizados nas décadas
de 1960 e 1970 é separação articulada
não por imperativos estéticos, mas pelas
pressões da cultura do museu e do mercado
de arte. A documentação fotográfica e
outros materiais associados com a arte sitespecific
(esboços e desenhos preliminares,
anotações de campo, instruções sobre o
procedimento de instalação, etc.) já há muito
têm sido moeda corrente nas exposições
de museus e um selo do mercado de arte.
No passado recente, no entanto, posto que
os valores culturais e mercadológicos dos
trabalhos das décadas de 1960 e 1970 aumentaram,
muitos dos primeiros precedentes
na arte site-specific, que um dia foram
tão difíceis de colecionar e impossíveis de
reproduzir, reapareceram em muitas exposições
importantes, tal como l’art conceptuel,
une perspective, no Musée d’art moderne
de la ville de Paris (1989), The New Sculpture
1965-75: Between Geometry and Gesture
(1990) e Immaterial Objects (1991-92),
ambas no Whitney Museum.21
Para mostras como essas, trabalhos sitespecific
de décadas atrás estão sendo
reposicionados e refabricados do zero no
local ou perto de seu lugar de representação,
seja porque o transporte é difícil demais
e os custos proibitivos ou porque os
originais são frágeis demais, ou porque precisam
de reparo, ou não existem mais. Dependendo
das circunstâncias, algumas dessas
réplicas são destruídas após a situação
específica para a qual foram produzidas; em
outras instâncias, as recriações passam a coexistir
ou mesmo substituir a antiga, funcionando
como novos originais (alguns até encontram
hospedagem em coleções permanentes
de museus).22 Com a cooperação dos
artistas em muitos casos, o público de arte
pode agora ter a experiência estética “real”
das cópias site-specific.
A possibilidade de rever trabalhos
“irrepetíveis”, como Splash Piece: Casting
(1969-70), de Serra, ou Sulfur Falls (1968),
de Alan Saret, oferece a oportunidade de
reconsiderar sua significância histórica, especialmente
em relação à fascinação atual pelo
final dos anos 60 e 70, na arte e na crítica.
Mas o próprio processo de institucionalização
e a concomitante comercialização da arte
site-specific também põem abaixo o princípio
do ‘apego a um lugar’ pelo qual esses
trabalhos desenvolveram sua crítica da autonomia
a-histórica do objeto de arte. Contrária
à concepção anterior de site-specificity,
a atual prática museológica e comercial de
refabricar (para poder viajar) trabalhos que
eram atrelados ao local fez da capacidade
de transferência e da mobilidade novas normas
de site-specificity. Conforme observou
Susan Hapgood, “a expressão ‘site-specific,
que um dia foi popular, acabou tornando-se
‘móvel sob as circunstâncias corretas’”,23 estilhaçando
a idéia de que “remover o trabalho
é destruí-lo.”
As conseqüências dessa conversão, efetuadas
pela descontextualização e centradas no objeto
com a aparência de recontextualizações
históricas, compõem uma série de reversões
normalizantes na qual a especificidade do site
é tida como irrelevante, tornando fácil a
reinserção sub-reptícia da autonomia ao trabalho
artístico, permitindo ao artista reconquistar
sua autoridade como fonte primeira
do significado da obra. O trabalho de arte é
objetificado novamente (e comercializado),
e a site-specificity é redescrita como escolha
estética pessoal da preferência
estilística de um artista mais do que como
reorganização estrutural da experiência
estética.24 Dessa forma, um princípio
metodológico de produção e disseminação
artística é recapturado como conteúdo;
processos ativos são transformados
em objetos inertes novamente. Desse
modo, a arte site-specific vem representar a
criticidade mais do que exercê-la. O “aqui-eagora”
da experiência estética é isolado como
o significado, afastado de seu significante.
Se esse fenômeno representa outra instância
da domesticação dos trabalhos de vanguarda
pela cultura dominante, não é só por
causa das necessidades de auto-engrandecimento
das instituições ou da natureza
orientada para o lucro do mercado. Os artistas,
independente do quão profundamente
possam estar convencidos de um sentimento
antiinstitucional e resistentes com sua
crítica à ideologia dominante, estão, de modo
egoísta ou ambivalente, inevitavelmente envolvidos
nesse processo de legitimação cultural.
Por exemplo, em março de 1990 Carl
Andre e Donald Judd escreveram cartas de
indignação à Art in America para reprovar
publicamente a autoria de duas esculturas
atribuídas a cada um deles, que foram
incluídas em uma exposição em 1989
na Ace Gallery, em Los Angeles.25 Os trabalhos
em questão eram recriações: a escultura
de 15m de Andre, Fall, de 1968, feita em
aço, e uma peça de parede sem título, em
ferro, de Judd, de 1970, ambas da Panza
Collection. Devido às dificuldades e ao alto
custo de embalagem e transporte desses trabalhos
de grande escala da Itália para a
Califórnia, Panza deu permissão aos
organizadores da exposição para refabricálos
no local mediante instruções detalhadas.
Sendo os trabalhos produzidos industrialmente,
a participação dos artistas no processo
de refabricação parecia ser algo de
pouca relevância para o diretor da Ace
Gallery e para Panza. Os artistas, no entanto,
sentiam diferente. Não tendo sido consultados
sobre a (re)produção e instalação
desses substitutos, eles denunciaram as
refabricações como “falsificação grosseira”,
uma “falácia”, apesar do fato de as esculturas
serem idênticas às “originais” na Itália e
terem sido reproduzidas como cópias para
um único uso, sem permissão de venda ou
exposição em outro lugar.
Mais do que meramente um caso de egos
artísticos abalados, esse incidente expõe a
crise referente ao status da autoria e da autenticidade
na arte site-specific de anos atrás,
que encontra novos contextos na década
de 1990. Para Andre e Judd, o que tornou
os trabalhos refabricados ilegítimos não foi
o fato de que cada peça era reprodução de
um trabalho singular instalado em Varese, e
que a princípio não poderia ser reproduzido
em nenhum outro lugar, mas sim o fato de
os artistas não terem autorizado ou supervisionado
a refabricação na Califórnia. Em outras
palavras, as recriações não foram consideradas
autênticas pela ausência do artista
no processo de sua (re)produção e não pela
falta do espaço original de sua instalação. Ao
reduzir variações visuais no trabalho de arte
ao ponto do vazio obtuso e ao adotar modos
de produção industrial, a arte minimalista
tornou nulos os padrões estéticos de distinção
baseados no trabalho manual do artista
enquanto legitimador da autenticidade. No
entanto, conforme o caso da Ace Gallery
amplamente revela, apesar da retirada de tais
legitimações, a autoria e a autenticidade na
arte site-specific permanecem como função
da “presença” do artista no ponto de sua
 (re)produção. Ou seja, com a retirada
dos traços “artísticos”, a autoria do artista
enquanto produtor do objeto é
reconfigurada como sua autoridade em
autorizar na competência de diretor ou
supervisor das (re)produções. A garantia de
autenticidade é finalmente a sanção do artista,
que pode ser articulada por sua presença
física real no momento da produçãoinstalação
ou via certificado de verificação.26
Enquanto Andre e Judd problematizaram a
autoria pelo emprego da produção industrial
em série, embora lamentassem mais tarde
quando suas proposições foram levadas a
uma de suas possíveis conclusões lógicas,27
artistas cujas práticas se apóiam nos modos
de trabalho manual “tradicional” registraram
compreensão mais complexa das políticas da
autoria. Um caso a ser citado: para uma pesquisa
histórica de 1995 da arte feminista,
intitulada Division of Labor: ‘Women’s Work’
in Contemporary Art, no Bronx Museum,
Faith Wilding, integrante original do Programa
de Arte Feminista no California Institute
for the Arts, foi convidada para recriar sua
instalação site-specific que abrange toda uma
sala Crocheted Environment (também conhecida
como Womb Room), do projeto
Womanhouse, de 1972 em Los Angeles.
Como a peça original já não existia mais, o
projeto apresentou uma série de problemas
para Wilding, sendo um dos menores as longas
horas de trabalho físico exigidas para
completá-la. Não aceitar o convite para refazer
a peça em prol da preservação da integridade
da instalação original teria sido ato
de automarginalização, contribuindo para um
auto-silenciamento que inscreveria Wilding
e um aspecto da arte feminista fora da porção
dominante da história da arte (novamente).
Mas, por outro lado, recriar o trabalho
como um objeto de arte independente para
um espaço “cubo branco” do Bronx Museum
também significaria esvaziar seu significado
tal como estabelecido em relação ao local
de seu contexto original. Sem dúvida, enquanto
a legitimação cultural representada
pelo interesse institucional no trabalho de
Wilding permitiu um desenraizamento (temporário)
de uma das trajetórias negligenciadas
da arte feminista, no cenário institucional
do Bronx Museum e mais tarde no Los
Angeles Museum of Contemporary Art,
Crocheted Environment tornou-se um trabalho
lindo, porém inócuo, uma vez que
seu foco no aspecto formal, a natureza
artesanal do trabalho, se tornou tema (trabalho
feminino).28
Ainda que a eficácia da arte site-specific do
passado pareça enfraquecida em suas
reapresentações, as complicações de procedimento,
dilemas éticos e reais dores de cabeça
pragmáticas que tais situações fazem
surgir para os artistas, colecionadores,
galeristas e instituições envolvidas ainda são
significativos. Apresentam linhagem sem precedentes
dos padrões estabelecidos de
(re)produção, exposição, empréstimo, compra/
venda e encomenda/execução de trabalhos
de arte em geral. Ao mesmo tempo,
apesar da regressão de alguns artistas para a
inviolabilidade autoral com o intuito de defender
sua prática site-specific, outros artistas
são muito precisos no desmanche
das presunções críticas associadas com tais
princípios como imobilidade, permanên-
cia e irrepetibilidade. Mais do que resistir
à mobilidade, esses artistas estão tentando
reinventar a site-specificity como prática
nômade.
Artistas itinerantes
O interesse institucional crescente nas práticas
site-oriented que abordam o site como
narrativa discursiva está demandando intenso
trânsito físico do artista para criar trabalhos
em várias cidades ao longo do mundo
de arte cosmopolita. Tipicamente, um artista
(não mais fixo no ateliê como um fazedor
de objetos, trabalhando principalmente sob
encomenda) é convidado por uma instituição
de arte para executar um trabalho especificamente
configurado para a estrutura
fornecida pela instituição (em alguns casos o
artista poderá solicitar à instituição tal proposta).
Subseqüentemente, o artista entra
em acordo contratual com a instituição referente
à encomenda. A seguir, faz inúmeras
visitas ou longas estadas no site; pesquisa as
particularidades da instituição e/ou a cidade
em que ela está localizada (sua história, constituição
do público (de arte), espaço de instalação);
considera os parâmetros da exposição
em si (estrutura temática, relevância
social, outros artistas na exposição); e participa
de muitos encontros com curadores,
educadores e staff administrativo de apoio,
que podem terminar “colaborando” com o
artista para produzir o trabalho. O projeto
será provavelmente demorado e no final terá
envolvido o “site” de múltiplas formas, e sua
documentação terá outra vida no sistema
de publicação do circuito artístico, que por
sua vez irá alertar outra instituição para a
próxima encomenda.
Assim, se o artista obtiver sucesso, viajará
constantemente como freelancer, trabalhando
em geral em mais de um projeto sitespecific
ao mesmo tempo, viajando com freqüência
como hóspede, turista, aventureiro,
crítico temporário ou pseudo-etnógrafo29
para São Paulo, Munique, Chicago, Seul,
Amsterdam, Nova York, etc. A configuração
in situ de um projeto que emerge de tal
situação costuma ser temporária, ostensivamente
inapropriada para reapresentação em
qualquer outro lugar sem alteração do significado,
em parte porque a encomenda é
definida por um grupo único de circunstâncias
geográficas e temporais, e em parte
porque o projeto é dependente de relações
imprevisíveis e improgramáveis no local. Essas
condições, entretanto, apesar das aparências
contrárias, não encerram de vez o
problema da comercialização, porque há hoje
estranha reversão pela qual o artista se aproxima
de ser a “obra”, em vez do contrário,
como se pressupõe comumente (ou seja, a
obra como substituto do artista). Talvez por
causa da “ausência” do artista na manifestação
física do trabalho, sua presença tem-se
tornado pré-requisito absoluto para a execução/
apresentação de projetos siteoriented.
Agora, é o aspecto performativo
de um modo característico de operação de
um artista (mesmo quando em colaboração)
que é repetido e transportado como nova
mercadoria, posto que o artista funciona
como o veículo principal de sua legitimação,
repetição e circulação.
Por exemplo, depois de envolvimento de
um ano com a Maryland Historical Society,
Fred Wilson finalizou seu trabalho sitespecific
Mining the Museum (1992), que consistia
em reorganização temporária de sua
coleção permanente. Como providencial
convergência da crítica institucional do museu
com uma política de identidade
multicultural, Mining the Museum atraiu muitos
novos visitantes à instituição, e o projeto
foi altamente prestigiado tanto pelo mundo
da arte como pela imprensa popular. Subseqüentemente,
Wilson fez uma escavação/
intervenção similar no Seattle Museum, em
1993, projeto também definido pela coleção
permanente do museu.30 Ainda que a
mudança de Baltimore para Seattle, de uma
cidade histórica para um museu de arte, tenha
introduzido novas variáveis e novos desafios,
o projeto de Seattle estabeleceu uma
relação repetitiva entre o artista e a instituição
que o hospedava, refletindo uma tendência
mais ampla da moda museológica –
contratar artistas para redispor as coleções
permanentes. O fato de o projeto em Seattle
ter sido menos bem sucedido do que o de
Baltimore pode ser evidência de como a
repetição continuada de tais encomendas
pode tornar mecânicas e genéricas as
metodologias de crítica. Elas podem facilmente
tornar-se extensões do próprio aparato
autopromocional do museu, e o artista, mercadoria
na compra da “criticalidade”. Como
Isabelle Graw notou, “o resultado pode ser
uma situação absurda na qual a instituição
contratante (o museu ou a galeria) recorre
ao artista como uma pessoa que tem legitimidade
para apontar as contradições e irregularidades
que a própria instituição desaprova”.
E, para os artistas, “subversão a serviço
de convicções próprias consegue achar
fácil transição para subversão para ser contratado;
‘o criticismo torna-se espetáculo’”.31
Dizer, no entanto, que essa mudança representa
a mercantilização do artista não é completamente
acurado, porque não é a figura
do artista per se, como personalidade ou
celebridade à la Warhol, que é produzido/
consumido na troca com a instituição. O que
o padrão atual aponta, de fato, é a extensão
com que a própria natureza do produto
como uma cifra na produção e nas relações
de trabalho não está mais atrelada ao domínio
da manufatura (de coisas), mas definida
em relação à indústria do serviço e da administração.
32 O artista como fazedor de objetos
estéticos superespecializados tem sido
anacrônico já por longo tempo. O que provêm
agora, mais do que produzem, são serviços
estéticos, freqüentemente “artísticocríticos”.
33 Se Richard Serra conseguiu descrever
os procedimentos artísticos com relação
a suas ações físicas elementais (pingar,
dividir, rolar, dobrar, cortar, etc.34 ), a situação
agora demanda um conjunto diferente
de verbos: negociar, coordenar, acordar,
pesquisar, organizar, entrevistar, etc. Essa
mudança foi prevista pela adoção que a arte
Conceitual fez do que Benjamin Buchloh
chamou de “a estética da administração”.35
O que se destaca aqui é o quão rápido essa
estética da administração, desenvolvida nos
anos 60 e 70, converteu-se na administração
da estética nos anos 80 e 90. De modo
geral, o artista era um fazedor de objetos
estéticos; hoje, é um facilitador, educador,
coordenador e burocrata. Além disso, uma
vez que os artistas adotaram funções administrativas
em instituições de arte (curatoriais,
educacionais, arquivísticas) como parte integral
de seu processo criativo, administradores
de instituições de arte (curadores, educadores,
diretores de programas públicos),
que geralmente pegam a deixa dos artistas,
hoje operam como figuras autorais.36
Concomitante a essas mudanças metodológicas
e de procedimento, ou por causa
delas, há uma reemergência da centralidade
do artista como progenitor do significado.
Isso é verdade mesmo quando a
autoria é deferida a outros colaboradores
ou quando a estrutura institucional é
autoconscientemente integrada ao trabalho,
ou quando o artista problematiza seu papel
autoral. De um lado, essa “volta ao autor”
resulta da tematização dos sites discursivos,
que engendra falso reconhecimento deles,
como se fossem extensões “naturais” da
identidade do artista, e a legitimidade da crítica
é medida pela proximidade da associação
pessoal do artista (convertida em
expertise) com o lugar específico, sua história,
seu discurso, sua identidade, etc. (convertidos
em conteúdo temático). Por outro
lado, porque a cadeia de significados da arte
site-oriented é construída principalmente por
movimento e decisões do artista,37 a elaboração
(crítica) do projeto inevitavelmente se
desdobra ao redor do artista. Isto é, a
intrincada orquestração dos sites discursivos
e literais cria uma narrativa nômade que requer
o artista como narrador-protagonista.
Em alguns casos, esse foco renovado no artista
leva a uma implosão hermética de indulgências
subjetivas (auto)biográficas e miopias
narcisistas falhamente representadas como
auto-reflexão.
Sendo assim, uma das trajetórias narrativas
de todos os projetos site-oriented é consistentemente
alinhada com os projetos anteriores
do artista executados em outros lugares,
gerando o que poderia ser chamado
de quinto site a história de exposições do
artista, seu currículo. A tensão entre o intenso
trânsito do artista e a recentralização
do significado em sua volta é ilustrado por
Renée Green em World Tour (1993), conjunto
de quatro reinstalações de projetos
site-specific produzidos em diversas partes
do mundo no período de três anos.38 Ao
reunir vários projetos distintos, World Tour
buscou refletir sobre as condições problemáticas
da situação atual da site-specificity,
tal como a situação etnográfica dos artistas
que são freqüentemente importados por
instituições e cidades estrangeiras como visitantes
exóticos e especializados. World
Tour também fez uma tentativa de imaginar
convergência produtiva entre especificidade
e mobilidade, em que um projeto
criado sob um conjunto de circunstâncias
pode ser deslocado para outro sem perder
seu impacto – ou, melhor, encontrando
novos significados e ganhando precisão crítica
pelas recontextualizações.39 Mas esses
questionamentos não estavam disponíveis
para os visitantes do projeto, cuja reação
interpretativa era considerar a artista a ligação
principal entre os projetos. De fato, o
esforço de deslocar projetos site-oriented
individuais enquanto um grupo coerente
conceitualmente eclipsou a especificidade de
cada um e forçou dinâmica relacional entre
projetos distintos. Conseqüentemente,
a sobreposição das narrações em
World Tour tornou-se o próprio processo
criativo de Green enquanto artista envolvida
com os quatro projetos. E, nesse
sentido, o projeto funcionou como retrospectiva
um tanto convencional.
Ao mesmo tempo em que essa mudança na
reorganização estrutural da produção cultural
altera a forma da mercadoria em arte
(para serviços) e a autoridade do artista (para
protagonista “ressurgido”), valores como
originalidade, autenticidade e singularidade
também são retrabalhados na arte siteoriented
– descolados do trabalho de arte e
atribuídos ao site – reforçando uma cultura
geral de valorização dos lugares como foco
da experiência autêntica e do sentido coerente
de identidade pessoal e histórica.40
Exemplo instrutivo desse fenômeno é Places
with a Past, exposição site-specific de 1991
organizada por Mary Jane Jacob, que tomou
a cidade de Charleston, Carolina do Sul, não
só como seu pano de fundo, mas como
“ponte entre os trabalhos de arte e o públi-
co.”41 Além da quebra de regras do “art
establishment”, a exposição queria expandir
o diálogo entre arte e a dimensão sócio-histórica
dos lugares. De acordo com Jacob,
“Charleston provou ser um terreno fértil”
para a investigação de assuntos que dizem
respeito a “gênero, raça, identidade cultural,
considerações sobre diferença... assuntos
muito em voga na crítica e prática artísticas...
A realidade da situação, o tecido do tempo
e do local de Charleston, ofereceram contexto
incrivelmente rico e significativo para
a feitura e mostra de instalações fisicamente
proeminentes que fossem publicamente visíveis
e legítimas [para o artista] na abordagem
dessas idéias”.42
Enquanto a arte site-specific continua a ser
descrita como refutação da originalidade e
da autenticidade como qualidades intrínsecas
do objeto de arte ou do artista, essa resistência
facilita a tradução e o deslocamento
dessas qualidades do trabalho de arte
para o lugar de sua apresentação, para que
eles retornem para o trabalho de arte
agora que ele se tornou integrante do local.
Assumidamente, conforme Jacob, “localidades...
contribuem para uma identidade específica
das exposições apresentadas ao injetar
a singularidade do lugar na experiência”.
43 Contrário a isso, se a especificidade
social, histórica e geográfica de Charleston
ofereceu aos artistas a oportunidade única
de criar trabalhos irrepetíveis (e, por extensão,
uma exposição irrepetível), então a
implementação programática da arte sitespecific
em exposições como Places with a
Past utiliza, em última instância, a arte para
promover Charleston como lugar único e
especial. Uma das coisas mais celebradas na
arte site-specific ainda é a singularidade e a
autenticidade que parece ser garantida pela
presença do artista não só em termos da
presumida irrepetibilidade do trabalho, mas
na maneira como a presença do artista também
provê distinção “única” para os lugares.
Com certeza a arte site-specific pode levar à
emergência de histórias reprimidas, prover
apoio para maior visibilidade de grupos e assuntos
marginalizados e iniciar a redescoberta
de lugares “menores” até então ignorados
pela cultura dominante. Mas, considerando
que a ordem socioeconômica atual cresce
na produção (artificial) e no consumo (de
massa) da diferença (pela diferença), a
exposição de arte em lugares “reais” pode
também significar uma maneira de extrair as
dimensões históricas e sociais dos lugares
para servir de forma diversificada ao impulso
temático do artista, satisfazer perfis
demográficos institucionais ou preencher
necessidades fiscais da cidade.
Significativamente, a apropriação da arte sitespecific
para a valorização das identidades
urbanas vem em época de fundamental
mudança cultural, em que arquitetura e urbanismo,
anteriormente os principais meios
para expressar a visão da cidade, são deslocados
por outros meios mais íntimos como
o marketing e a publicidade. Nas palavras
do teórico urbano Kevin Robins, “Uma vez
que as cidades se tornam cada vez mais equivalentes
e as identidades urbanas cada vez
mais ‘finas’,... tornou-se necessário empregar
as agências de publicidade e o marketing para
manufaturar tais distinções. É uma questão
de distinção num mundo além da diferença”.
44 Site-specificity, nesse contexto, encontra
nova importância porque provê distinções
de lugares e singularidade de identidades
locais, qualidades altamente sedutoras
na promoção de cidades dentro da
reestruturação competitiva da hierarquia
econômica global. Desse modo, sitespecificity
permanece inexoravelmente amarrado
a um processo que confere à particularidade
e à identidade de várias cidades caráter
de diferenciação de produto. De fato,
o catálogo da exposição Places with a Past
era uma “deliciosa” promoção turística, lançando
a cidade de Charleston como única,
“artística” e significativa enquanto lugar (para
visitar).45 Sob o pretexto de sua articulação
ou ressurreição, a arte site-specific pode ser
mobilizada para acelerar o apagamento das
diferenças via comercialização e serialização
dos lugares.
A combinação do mito do artista como fonte
privilegiada de originalidade com a crença
costumeira de lugares como fontes prontas
de identidades singulares falseia a natureza
compensatória de tal movimento. A junção
de artista e site revela ansioso desejo cultural
de atenuar a sensação de perda e vazio
que permeia ambos os lados dessa equação.
Nesse sentido, Craig Owens talvez estivesse
certo ao caracterizar a site-specificity
como discurso e prática melancólicos,46 tal
como Thierry de Duve, para quem a “escultura
nos últimos 20 anos é uma tentativa
de reconstruir uma noção de site a
partir do ponto de vista de ter admitido
seu desaparecimento”.47
O achatamento de uma topografia irregular
é claramente um gesto
tecnocrático que aspira a uma condição
de absoluta ausência de um lugar,
enquanto o preparo desse mesmo site
para receber uma forma de construção
é um engajamento no ato de “cultivo”
desse site... Essa inscrição... tem
uma capacidade de incorporar, uma
forma embutida, a pré-história do lugar,
seu passado arqueológico e seu
subseqüente cultivo e transformação ao
longo do tempo. Através dessas camadas
do site, as idiossincrasias do lugar
encontram sua expressão sem cair na
sentimentalidade. Kenneth Frampton48
A elaboração de identidades ligadas a
um lugar tem-se tornado mais ao invés
de menos importantes num mundo de
diminuição das barreiras espaciais nas
trocas, nos movimentos e nas comunicações.
David Harvey49
É significativo o fato de que a mobilidade da
arte site-specific de décadas anteriores seja
concomitante com o nomadismo da atual
prática site-oriented. Paradoxalmente, enquanto
apóiam a importância do lugar, juntos
expressam a dissipação do lugar, enredados
na “dinâmica da desterritorialização”,
conceito hoje elaborado mais claramente nos
discursos da arquitetura e do urbanismo.
No atual contexto da expansão da ordem
capitalista, alimentada por crescente
globalização da tecnologia e das teleco-
municações, as condições cada vez mais
intensas de indiferenciação espacial e
desparticularização exacerbam os efeitos de
alienação e fragmentação na vida contemporânea.
50 O impulso em direção a uma civilização
universal e racional, engendrando a
homogeneização dos lugares e o apagamento
das diferenças culturais, é na verdade a
força contra a qual Frampton propõe uma
prática de Regionalismo Crítico conforme
descrito acima – um programa para uma “arquitetura
de resistência”. Se as tendências
universalizantes do modernismo minaram as
antigas divisões de poder baseadas nas relações
de classe apegadas às hierarquias geográficas
de centro e margem, para ajudar o
capitalismo na colonização dos espaços “periféricos”,
então a articulação e o cultivo das
diversas particularidades locais é reação (pósmoderna)
contra esses efeitos. Henri
Lefebvre afirmou: “Considerando que o espaço
abstrato [do modernismo e do capital]
tende na direção da homogeneidade, na direção
da eliminação das diferenças ou peculiaridades,
um novo espaço não pode nascer
(ser produzido) a não ser que ele acentue
diferenças.”51 Talvez não haja nenhuma
surpresa, então, no fato de que os esforços
para resgatar diferenças perdidas ou reduzir
o seu desaparecimento ganhem pesado investimento
em sua reconexão com a “singularidade
do lugar” – ou, mais precisamente,
no estabelecimento da autenticidade do
significado, memória, histórias e identidades
como uma função diferencial dos lugares. É
essa função diferencial associada aos lugares
que as formas primeiras de arte site-specific
tentaram explorar e que as atuais incorporações
de trabalhos site-oriented buscam
reimaginar, que é o atrativo oculto da expressão
site-specificity.
Parece inevitável termos de deixar para trás
as noções nostálgicas do local [site] como
sendo essencialmente amarradas às realidades
físicas e empíricas do lugar [place]. Tal
concepção, se não ideologicamente suspeita,
com freqüência parece estar fora de
sintonia com as descrições predominantes
da vida contemporânea como rede de fluxos
sem âncora. Mesmo uma posição teórica
avançada como a do Regionalismo Crítico
de Frampton parece datada nesse sentido,
pois se baseia na crença de que um
lugar específico já existe com sua identidade
ou propriedades identitárias a priori
sempre que novas formas culturais possam
ser introduzidas ou disso emergir. Em tal concepção
pré- (ou pós-)pós-estruturalismo,
todas as ações site-specific teriam sido entendidas
como reativas, “cultivando” o que
se presume já estar lá, mais do que como
geradoras de novas identidades e histórias.
De fato, a desterritorialização do site produziu
um efeito liberador, deslocando a rigidez
de identidades apegadas ao lugar com a
fluidez de um modelo migratório, introduzindo
as possibilidades para a produção de
múltiplas identidades, fidelidades e significados
não baseados em conformidades
normativas, mas nas convergências não racionais
forjadas pelos encontros e circunstâncias
imprevistos. A fluidez da subjetividade,
identidade e espacialidade, conforme descrita
por Gilles Deleuze e Félix Guatarri em
seu nomadismo rizomático,52 por exemplo,
é poderosa ferramenta teórica para desmanchar
ortodoxias tradicionais que suprimiriam
diferenças, às vezes violentamente.
No entanto, apesar da proliferação dos sites
discursivos e dos “eus ficcionais”, o fantasma
do site enquanto lugar real permanece; e
nosso psiquismo e os apegos costumeiros
aos lugares retornam com freqüência, uma
vez que eles continuam a informar nosso
senso de identidade. E essa aderência persistente,
talvez secreta, à realidade dos lugares
(em memória, em saudade) não é necessariamente
falta de sofisticação teórica,
mas um meio de sobrevivência.
O ressurgimento da violência na defesa das
noções essenciais de identidades nacionais,
raciais, religiosas e culturais em relação a territórios
geográficos é prontamente caracterizado
como extremista, retrógrado e
“incivilizado”. Mesmo assim, o afrouxamento
de tais relações, ou seja, a desestabilização
de subjetividade, identidade e espacialidade
(seguindo as imposições do desejo), também
pode ser descrito como fantasia compensatória
em resposta à intensificação da fragmentação
e alienação causada pela economia
de mercado globalizado (seguindo as
imposições do capital). A defesa da
mobilização contínua das identidades locais
e pessoais como ficções discursivas, como
jogos “críticos” polimorfos sobre as generalidades
e estereótipos, pode terminar sendo
álibi equivocado para a obtenção de curtos
momentos de atenção, reforçando a ideologia
do novo – um antídoto temporário para
a ansiedade do tédio. Talvez seja precoce e
amedrontador admitir, mas o paradigma dos
sujeitos e sites nômades pode ser uma
glamourização do éthos do coringa, que é
na verdade uma reprise da ideologia da “liberdade
de escolha” – a escolha de esquecer,
de reinventar, de tornar ficção, de “pertencer”
a qualquer lugar, todos os lugares e
nenhum lugar. Essa escolha, é claro, não cabe
a todos de forma igualitária. O entendimento
de identidade e diferença como construções
culturais não deveria obscurecer o fato
de que a habilidade de empregar identidades
múltiplas e fluidas é, na verdade, privilégio
de trânsito que tem relação específica
com o poder.
O que significaria, agora, defender a idéia de
que a especificidade cultural e histórica de
um lugar (e sujeito) não é nem simulacro
apaziguador e nem invenção do desejo? Para
a arquitetura, Frampton propõe um processo
de “dupla mediação”, que é na verdade a
dupla negação, desafiando “a otimização da
tecnologia avançada assim como a sempre
presente tendência a regredir ao historicismo
nostálgico ou ao decorativo descontraído”.53
Uma dupla mediação análoga na arte sitespecific
poderia ser achar um terreno entre
a mobilidade e a especificidade – estar fora
de lugar com pontualidade e precisão. Homi
Bhabha declarou que “O globo encolhe para
aqueles que o possuem; para os deslocados
e despossuídos, o migrante ou o refugiado,
nenhuma distância é mais espantosa do que
alguns metros além dos limites ou fronteiras”.
54 As práticas site-oriented de hoje herdam
a tarefa de demarcar a especificidade
relacional que pode suportar a tensão dos
pólos distantes e das experiências espaciais
descritas por Bhabha. Isso significa endereçar-
se às diferenças das adjacências e distâncias
entre uma coisa, uma pessoa, um lugar,
um pensamento, um fragmento ao lado do
outro, mais do que evocar as equivalências
via uma coisa após a outra. Só essas práticas
culturais que têm essa sensibilidade relacional
podem transformar encontros locais em
compromissos de longa duração e intimidades
passageiras em marcas sociais permanentes
e indeléveis – para que a seqüência de
lugares que habitamos durante a vida não se
torne generalizada em serialização
indiferenciada, um lugar após o outro.

Miwon Kwon é Ph.D. em Teoria e História da Arquitetura
pela Universidade de Princeton (1998), tornandose
professora-assistente de história da arte contemporânea
da Universidade da Califórnia (Ucla) no mesmo
ano. Foi editora de Documents, revista de arte, cultura
e crítica (1992-2004), além de ter colaborado com diversas
curadorias no Whitney Museum of American Art,
em Nova York. Desenvolve estudos sobre arte e arquitetura
contemporâneas, bem como sobre a relação entre
arte e cidade.

Texto originalmente publicado na revista
October 80, primavera, 1997: 85-110.
Este ensaio é parte de um projeto maior de
convergência de arte e arquitetura em práticas
site-specific dos últimos 30 anos, especialmente
no contexto de arte pública. Agradeço
os comentários críticos encorajadores de
Hal Foster, Helen Molesworth, Sowon e
Seong Kwon, Rosalyn Deutsche, Mark
Wigley, Doug Ashford, Russel Ferguson, e
Frazer Ward. Tendo recebido o Professional
Development Fellowship for Arts Historians,
agradeço ao College Art Association o apoio.
Tradução: Jorge Menna Barreto
Revisão Técnica: Paulo Roberto Stolz e Ivair
Reinaldim

Notas
1 Douglas Crimp escreveu: “O idealismo da arte modernista,
na qual o objeto em si e por si mesmo era visto como
tendo significado definitivo e trans-histórico, determinava
a falta de lugar do objeto, sua pertença a nenhum
lugar em particular... A especificidade de lugar [site
specificity] opôs-se a esse idealismo – desvendado o sistema
material que ele ocultava – com a recusa da mobilidade
de circulação e com a pertença a um espaço específico
[specific site].” In On the Museum’s Ruins.
Cambridge: MIT Press, 1993: 17 [Sobre as ruínas do
museu. Tradução de Fernando Santos e revisão de Aníbal
Mari. São Paulo: Martins Fontes, 2005: 18]. Ver também
Rosalind Krauss, Sculpture in the Expanded Field (1979),
in Hal Foster (ed.)The Anti-Aesthetic: Essays on
Postmodern Culture. Port Townsend, Wash.: Bay Press,
1983: 31-42 [A escultura no campo ampliado (1979),
tradução de Elizabeth Baez, republicado nesta edição
de Arte&Ensaios].
2 William Turner, apud Mary Miss, From Autocracy to
Integration: Redefining the Objectives of Public Art, in
Stacy Paleologos Harris (ed.) Insights On Sites:
Perspectives on Art in Public Places. Washington, D.C.:
Partners for Livable Places, 1984: 62.
3 Rosalyn Deutsche fez importante distinção entre o modelo
assimilativo de site-specificity no qual o trabalho de
arte é articulado na direção de uma integração ao
ambiente existente, produzindo espaço unificado, “harmonioso”
de totalidade e coesão – e modelo
intervencionista, em que o trabalho de arte funciona
como intervenção crítica na ordem existente do local.
Ver seus artigos: Tilted Arc and the Uses of Public Space,
Design Book Review, n. 23, inverno de 1992: 22-27;
e Uneven Development: Public Art in New York
City, October 47, inverno de 1988: 3-52.
4 Robert Barry, in Arthur R. Rose (pseudônimo), Four
interviews with Barry, Huebler, Kosuth, Weiner, Arts
Magazine, fevereiro de 1969: 22.
5 Richard Serra, carta a Donald Thalacker, de 01/01/1985,
publicada em Clara Weyergraf-Serra e Martha Buskirk
(ed.).The Destruction of Tilted Arc: Documents.
Cambridge: MIT Press, 1991: 38.
6 Richard Serra, Tilted Arc Destroyed, Art in America 77, n.
5, maio de 1989: 34-47.
7 A controvérsia sobre Tilted Arc obviamente envolveu
outras questões além do status do site-specificity, mas,
no final, site-specificity foi a expressão sobre a qual Serra
apoiou toda a sua defesa. Apesar da derrota de Serra,
a definição legal de site-specificity permanece não resolvida
e continua a ser palco para muitos conflitos jurídicos.
Para uma discussão a respeito das questões legais
no caso Tilted Arc, ver: Barbara Hoffman, Law for Art’s
Sake in the Public Realm, in W.J.T. Mitchell (ed.). Art in
the Public Sphere. Chicago: University of Chicago Press,
1991: 113-46. Agradeço a James Marcovitz as discussões
no que se refere à legalidade de site-specificity.
185
8 Ver o artigo de Hal Foster, The Crux of Minimalism,
in Howard Singerman (ed). Individiuals: A Selected
History of Contemporary Art 1945-1986. Los
Angeles: The Museum of Contemporary Art, 1986:
162-83. Ver também: Craig Owens, From Work to
Frame, or, Is There Life After ‘The Death of the
Author’?, in Beyond Recognition. Berkeley: University
of California Press, 1992: 122-39.
9 Daniel Buren, Function of the Museum, Artforum, setembro
de 1973.
10 Daniel Buren, Critical Limits, in Five Texts [1970]. Nova
York: John Weber Gallery, 1974: 38 (reimpressão).
11 Ver Conversation with Robert Smithson, editado por
Bruce Kurtz em Nancy Holt (ed) The Writings of
Robert Smithson. Nova York: New York University
Press, 1979: 200.
12 Esse projeto envolvia o deslocamento de uma réplica em
bronze de uma estátua do século 18 de George Washington
de sua posição normal, do lado de fora da entrada
frontal do Art Institute, para uma das galerias internas,
menores e que expunham pinturas, esculturas e
artes decorativas européias do século 18. Asher afirmou
sua intenção da seguinte maneira: “Nesse trabalho
estou interessado na forma em que a escultura funciona
quando é vista em seu contexto do século 18 em vez
de em sua relação anterior com a fachada do prédio...
Uma vez dentro da Galeria 219 a escultura pode ser
vista em conexão com as idéias de outros trabalhos
europeus do mesmo período” (apud Anne Rorimer,
Michael Asher: Recent Work, Artforum, abril de 1980:
47. Ver também: Benjamin H. D. Buchloh (ed.). Michael
Ahser: Writings 1973-1983 on Works 1969-1979.
Halifax, Nova Scotia e Los Angeles: The Press of the
Nova Scotia College of Art and Design and The Museum
of Contemporary Art Los Angeles: 207-21.
13 Esses interesses coincidem com desenvolvimentos na arte
pública, que reprogramou a arte site-specific para ser
sinônimo de arte baseada na comunidade. Conforme
exemplificado em projetos tais como Culture in Action,
em Chicago (1992-93), e Points of Entry, em Pittsburgh
(1996), a arte site-specific pública na década de 1990
marca a convergência entre práticas culturais enraizadas
em ativismos políticos esquerdistas, tradições estéticas
baseadas na comunidade, arte conceitual nascida da abordagem
crítico-institucional e políticas de identidade. Por
causa dessa convergência, muitas das questões que
concernem às práticas contemporâneas de site-specific
se aplicam à arte pública também, e vice-versa. Infelizmente,
uma análise dos problemas estéticos e políticos
específicos da arena da arte pública, especialmente aqueles
que dizem respeito às políticas espaciais das cidades,
terão que esperar outra instância. Nesse meio tempo,
sugiro aos leitores a análise excelente de Grant Kester
sobre as atuais tendências da arte pública baseada na
comunidade em: Aesthetic Evangelists: Conversion and
Empowerment in Contemporary Community Art,
Afterimage, janeiro de 1995: 5-11.
14 A exposição Arte Joven en Nueva York”, curada por
José Gabriel Fernandez, foi sediada na Sala
Mendonza e Sala RG em Caracas, Venezuela, de 9
de junho a 7 de julho de 1991.
15 Esse quarto site, ao qual Dion retornaria várias vezes em
outros projetos, permaneceu consistente mesmo quando
os conteúdos dos recipientes da viagem ao Orinoco
foram transferidos para Nova York para ser
reconfigurados em 1992 e tornar-se o New York State
Bureau of Tropical Conservation, instalação para uma
exposição na American Fine Arts Co. Ver a conversa
The Confessions of an Amateur Naturalist em
Documents 1/2, outono/inverno de 1992: 36-46. Ver
também minha entrevista com o artista na monografia
Mark Dion. Londres: Phaidon Press, 1997.
16 Ver a discussão da mesa-redonda On Site Specificity in
Documents 4/5, verão de 1994: 11-22. Os participantes
incluíam Hal Foster, Renée Green, Mitchell Kane, John
Lindell, Helen Molesworth e eu.
17 James Meyer, The Functional Site, in Platzwechsel. Zurich:
Kunsthalle Zurich, 1995: 27 [catálogo de exposição]. Uma
versão revisada desse artigo aparece na Documents 7,
outono de 1996: 20-29.
18 Apesar da adoção de terminologia da arquitetura na descrição
dos muitos espaços eletrônicos novos (web sites,
ambientes de informação, infra-estrutura de programas,
construção de home pages, espaços virtuais, etc.), a experiência
espacial no computador é estruturada mais
como seqüência de movimentos e passagens, e menos
como a habitação ou ocupação temporal de um “site”
em particular. O hipertexto é ótimo exemplo. A
(informação) superhighway é analogia mais viável,
pois a experiência espacial da highway é experiência
de trânsito entre lugares (apesar da imobilidade
do corpo que está dirigindo).
19 Novamente, está além da abrangência deste artigo atender
às questões que se referem ao status de “público”
nas práticas da arte contemporânea. Sobre esse tópico,
ver Rosalyn Deutsche. Evictions: Art and Spatial Politics.
Cambridge: MIT Press, 1996.
20 Ver, por exemplo, Gilles Deleuze, Postscript on the
Societies of Control, October 59, inverno de 1992: 3-7;
e Manuel Castells. The Informational City. Oxford: Basil
Blackwell, 1989.
21 Para aprofundamento desse assunto, ver Susan Hapgood,
Remaking Art History, Art in America, julho de 1990:
115-23, 181.
22 The New Sculpture 1965-75: Between Geometry and
Gesture, no Whitney Museum (1990) incluía 14 recria-
T E M Á T I C A S • M I W O N K W O N
186
ções de trabalhos de Barry Le Va, Bruce Nauman, Alan
Saret, Richard Serra, Joel Shapiro, Keith Sonier e Richard
Tuttle. A recriação de Le Va da obra Continuous and
Related Activities: Discontinued By the Act of Dropping,
de 1967, foi comprada pela coleção permanente do
Whitney e subseqüentemente reinstalada em várias
outras exposições em muitas cidades. Com alguns desses
trabalhos há um traço de ambigüidade entre
efemeridade (repetível?) e site-specificity (irrepetível?).
23 Hapgood, Remaking Art History: 120.
24 Essa foi a lógica por trás da defesa de Richard Serra do
Tilted Arc. Conseqüentemente, a questão da realocação
ou remoção da escultura tornou-se debate que dizia
respeito aos direitos criativos do artista.
25 Ver as edições de março e abril de Art in America, 1990.
26 Sol LeWitt, com seu trabalho Lines to Points on a Six-
Inch Grid (1976), por exemplo, fez uma série de seus
desenhos de parede ao abandonar a necessidade de
seu envolvimento na hora da execução do trabalho,
permitindo a possibilidade de infinita repetição do mesmo
trabalho reconfigurado por outros em uma variedade
de locações diferentes.
27 Ver: Rosalind Krauss, The Cultural Logic of the Late
Capitalist Museum, October 54, outono de 1990: 3-17.
28 Para a descrição de Faith Wilding desse dilema, assim como
sua avaliação das revisitações recentes da arte feminista
de 1960, ver seu artigo Monstruous Domesticity, in
Meaning, n. 18, novembro de 1995: 3-16.
29 Ver Hal Foster, Artist as Ethnographer, in The Return of
the Real. Cambridge: MIT Press, 1996 [“O artista como
etnógrafo”, tradução de Alexandre Sá e revisão de Angela
Prada, em Arte&Ensaios, n. 12, 2005: 136-51], sobre os
complexos trânsitos entre arte e antropologia na arte atual.
30 Ver a entrevista de Fred Wilson por Martha Buskirk em
October 70, outono de 1994: 109-12.
31 Isabelle Graw, Field Work, Flash Art, novembro/dezembro
de 1990: 137. Sua observação aqui é em relação à
prática de Hans Haacke, mas é relevante como afirmação
geral que diz respeito ao estado atual da crítica à
instituição. Ver também Frazer Ward, The Haunted
Museum: Institutional Critique and Publicity, October 73,
verão de 1995: 71-90.
32 Ver Saskia Sassen. The Global City: New York, London,
Tokyo. Princeton University Press, 1991.
33 O projeto de Andrea Fraser de 1994-95 em que ela se
contratou pela EA-Generali Foundation em Viena (associação
de arte estabelecida pelas companhias pertencentes
à empresa de seguro EA-Generali Foundation)
como artista/consultora para prover serviços
“interpretativos” e “intervencionistas” para a fundação é
um dos poucos exemplos que posso citar que
autoconscientemente promovem essa mudança nas
condições da produção artística e na recepção em termos
de conteúdo e estrutura do projeto. Ressalte-se que
a própria artista iniciou o projeto ao oferecer tais serviços
com seu “Prospectus for Corporations.” Ver o Relatório
de Fraser. Vienna: EA-Generali Foundation, 1995.
34 Richard Serra, Verb List, 1967-68, in Writings Interviews.
Chicago: University of Chicago Press, 1994: 3.
35 Benjamin H. D. Buchloh, Conceptual Art 1962-1969: From
the Aesthetics of Administration to the Critique of
Institutions, October 55, inverno de 1991: 105-43.
36 Por exemplo, a série de exposições Views from Abroad,
no Whitney Museum, que apresentou a visão “artística”
de curadores europeus, é estruturada de forma muito
parecida com as encomendas site-specific dos artistas
que focam nas coleções permanentes dos museus conforme
descrito acima.
37 De acordo com James Meyer, uma prática site-oriented
baseada em noção “funcional” do site “rastreia os movimentos
do artista ao longo e em torno da instituição”;
“reflete interesses específicos, educações, e decisões formais
do produtor”; e “no processo de deferência, uma
cadeia de significados que transcende as fronteiras físicas
e discursivas,” o functional site “incorpora o corpo
do artista” (grifo meu). Ver Meyer, Functional Site: 29,
33, 31, 35.
38 A instalação consistia em Bequest, apoiada pelo Worcester
Art Museum em Massachussets em 1991; Import/Export
Funk Office, originalmente mostrada na Christian Nagel
Gallery em Colônia em 1992 e depois reinstalada na Bienal
de 1993 no Whitney Museum of American Art; Mise en
Scéne, primeiramente apresentada em 1992 em Clisson,
França; e Idyll Pursuits, produzida por uma exposição coletiva
em 1991 em Caracas, Venezuela. Como um todo,
World Tour, foi exibida no The Museum of Contemporary
Art Los Angeles em 1993 e mais tarde no mesmo ano
viajou para o Dallas Museum of Art. Ver Russel Ferguson
(ed.). World Tour. Los Angeles: The Museum of
Contemporary Art, 1993 [catálogo da exposição].
39 Esse esforço não é exclusivo de Green. Silvia Kolbowski,
por exemplo, propôs a possibilidade de trabalhar com
sites enquanto algo genérico e transferibilidade enquanto
algo específico. Ver Enlarged from the Catalogue: The
United States of America, in Silvia Kolbowski: Projects.
Nova York: Border Editions, 1993: 34-51.
40 Essa fé na autenticidade do lugar é evidente em um amplo
leque de disciplinas. Nos estudos urbanos, ver
Dolores Hayden. The Power of Place: Urban Landscapes
as Public History. Cambridge: MIT Press, 1995. Em relação
à arte pública, ver Ronald Lee Fleming e Renata von
187
Tscharner. Place Makers: Creating Public Art That Tells
You Where You Are. Boston/San Diego/Nova York:
Harcourt Brace Jovanovich, 1981. Ver também Lucy
Lippard. The Lure of the Local: The Sense of Place in a
Multicultural Society. Nova York: The New Press, 1997.
41 Ver Places with a Past: New Site-specific Art at Charleston’s
Spoleto Festival. Nova York: Rizzoli, 1991: 19 [catálogo
da exposição]. A exposição aconteceu de 24 de maio a 4
de agosto de 1991, com trabalhos site-specific de 18 artistas,
incluindo Ann Hamilton, Christian Boltanski, Cindy
Sherman, David Hammons, Lorna Simpson e Alva Rogers,
Kate Ericson e Mel Ziegler e Ronald Jones. O material de
promoção, especialmente o catálogo da exposição,
enfatizava o desafio inovador do formato da exposição
que difere de projetos individuais e salientava o papel
autoral de Mary Jane Jacob mais do que dos artistas.
42 Ibid.: 17.
43 Ibid.: 15.
44 Kevin Robins, Prisoners of the City: Whatever Can a
Postmodern City Be?, in Erica Carter, James Donald, e
Judith Squires (ed.). Space and Place: Theories of Identity
and Location. Londres: Lawrence & Wishart, 1993: 306.
45 A crítica cultural Sharon Zukin afirmou que “parecia ser
política oficial [por volta de 1990] fazer um lugar para a
arte na cidade ser compatível com estabelecer uma identidade
comercial para a cidade como um todo”. Sharon
Zukin. The Culture of Cities. Cambridge: Blackwell
Publishers, 1995: 23.
46 Referindo-se ao Spiral Jetty e ao Partially Buried Wooden
Shed, de Robert Smithson, Craig Owens fez importante
conexão entre melancolia e a lógica redencionista do
site-specificity, em The Allegorical Impulse: Toward a
Theory of Postmodernism, October 12, verão de 1980:
67-86 [O impulso alegórico: sobre uma teoria do pósmodernismo,
tradução de Neusa Dagani e revisão de
Glória Ferreira, em Arte&Ensaios, n. 11, 2004: 112-25].
47 Thierry de Duve, Ex Situ, Art & Design 8, n. 5/6, maio/
junho de 1993: 25.
48 Kenneth Frampton, Towards a Critical Regionalism, in
Hal Foster (ed.). The Anti-Aesthetic: Essays on
Postmodern Culture. Port Townsend, Wash.: Bay Press,
1983: 26.
49 David Harvey, From Space to Place and Back Again:
Reflections on the Condition of Postmodernity, texto
para Ucla GSAUP Colloquium, maio 13, 1991, conforme
citado por Hayden, The Power of Place: 43.
50 Ver Frederic Jameson. Postmodernism, or the Cultural
Logic of Late Capitalism. Durham: Duke University Press,
1991 [Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo
tardio. Tradução de Maria Elisa Cevasco. São Paulo: Ática,
T E M Á T I C A S • M I W O N K W O N
1997]; David Harvey. The Condition of Postmodernity.
Cambridge: Blackwell, 1990 [Condição pós-moderna:
uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Tradução
de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves.
São Paulo: Loyola, 1992]; Margaret Morse, The
Ontology of Everyday Distraction: The Freeway, The
Mall, and Television, in Patricia Mellencamp (ed.). Logics
of Television: Essays in Cultural Criticism. Bloomington:
Indiana University Press, 1990: 193-221; Michael Sorkin
(ed.). Variations on a Theme Park: The New American
City and the End of Public Space. Nova York: Noonday
Press, 1992; e Edward Soja. Postmodern Geographies:
The Reassertion of Space in Critical Theory. Londres:
Verso Books, 1989. Para crítica feminista de algumas dessas
teorias espaciais urbanas, ver Rosalyn Deutsche, Men
in Space, Strategies, n. 3, 1990: 130-37, e Boys Town,
Environment and Planning D: Society and Space 9, 1991:
5-30. Para crítica específica da posição de Sorkin, ver meu
artigo Imagining an Impossible World Picture, in Stan Allen
and Kyong Park (ed.).Sites and Stations: Provisional Utopias.
Nova York: Lusitana Press, 1995: 77-88.
51 Henri Lefebvre. The Production of Space. Tradução para
a língua inglesa de Donald Nicholson-Smith. Oxford:
Blackwell, 1991: 52.
52 Gilles Deleuze e Félix Guattari. A Thousand Plateaus.
Tradução para a língua inglesa de Brian Massumi.
Minneapolis: University of Minnesota Press, 1987 [Mil
platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vários tradutores. Rio
de Janeiro: Editora 34, 1995-1997, volumes 1 a 5].
53 Frampton, Towards a Critical Regionalism: 21.
54 Homi K. Bhabha, Double Visions, Artforum, janeiro de
1992: 88.