quinta-feira, 4 de junho de 2015

Trabalhadores da Cultura: “Não mexe comigo, que eu não ando só!” Manifesto da RBTR


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MANIFESTO
Rede Brasileira de Teatro de Rua – Sorocaba/SP – 17 de Maio de 2015


SOMOS articuladores e articuladoras da Rede Brasileira de Teatro de Rua. Já há oito anos ouvimos, dialogamos, aguardamos, lutamos, rebatemos, sentamos, exigimos desse governo ações concretas e de fato efetivas pela arte pública e pela cultura do nosso país. Agora, o diálogo é única oferta já que o orçamento vergonhosamente vêm sumindo aos nossos olhos, ano a ano. Sentimos que o sim ao diálogo deixou de ser possibilidade de transformação para tornar-se um estado de legitimação de uma falsa democracia, de uma falsa participação, de um falso programa de cultura que nunca houve.
Cansamos! Não da luta, cansamos desse tipo de política da migalha. Não vemos sentido em sentar e dialogar com um ministro ou secretário, se as conversas sempre esbarram na falta de verba. Por quais ralos escoam nosso dinheiro? No pagamento dos juros? No setor de marketing das empresas? Nos gastos com militarização? Nas poucas famílias que controlam a mídia? Nos megaeventos? Nas empreiteiras e sua especulação imobiliária? Nos bancos? Nesse discurso que se diz popular, democrático e participativo, nunca antes na história desse país, as instituições privadas lucraram tanto.
“Não mexe comigo, que eu não ando só!” E por isso, fortalecemos a nossa luta, engrossando esse caldo com os professores, com os movimentos de moradia, com os movimentos pela saúde pública, com as pautas pela desmilitarização da polícia, com o movimento indígena, com as mães de maio, com o movimento contra o genocídio nas periferias, com as pautas de descriminalização da maconha, com os quilombolas, com os povos da floresta, com o movimento LGBT, com as culturas populares, com os movimentos feministas, com o movimento negro, com as periferias, com os trabalhadores e trabalhadoras de todo país.
Não há como produzir pensamentos, pautas, programas e leis mais elaboradas para a cultura do que as já construídas nesses últimos anos. Sabemos o que queremos. Já fizemos inúmeras cartas, documentos, reuniões. O que é necessário para o fomento efetivo dos trabalhadores e trabalhadoras de cultura desse país, já está documentado há muito tempo. Resta pôr em prática.
O dinheiro e energia das caravanas, das conferências e das reuniões, pra nós torna-se agora um desperdício, um falso processo, uma falácia. Estamos reunidos, estamos conversando, continuamos nos organizando, mas agora seremos claros e diretos.
Edital não é política pública. Exigimos:

‐ os editais transformados em leis com dotação orçamentária própria, com comissões eleitas pela sociedade civil.
‐ a criação da LEI PRÊMIO TEATRO BRASILEIRO, nessas condições.
‐ a criação da LEI PRÊMIO PARA AS ARTES PÚBLICAS, nessas condições.
‐ a mínima fatia do orçamento de 2% em nível federal, 1,5% em nível estadual e 1% em nível municipal (PEC 150)
‐ o fim da renúncia fiscal, da Lei Rouanet e de seu simulacro, o Pro-cultura.

No sentido de viabilizar essas pautas, estamos prontos. Unimo‐nos a diferentes frentes de luta porque entendemos que o projeto maior é de uma sociedade que seja de fato pública e igualitária nas condições de sobrevivência de todos os seres humanos. Não faremos figuração em eventos do governo, nem demonstraremos apoio a um governo que não cumpre suas promessas, tampouco aceitaremos nada menos que o mínimo produzido por nossa categoria em oito anos de muita militância e pensamento conjunto.
(...)
Sem mais.

E com os nossos, cada vez mais...

Rede Brasileira de Teatro de Rua – Sorocaba/SP – 17 de Maio de 2015

segunda-feira, 30 de março de 2015

Alkmin e mais um Golpe: Cultura vai acabar!

Manifestação da Cultura
(Dia 1º de Abril às 14h em frente à Sala São Paulo)
O Governo Alckmin promove um dos maiores retrocessos na Cultura por meio de um corte orçamentário que atinge ao ProAC com menos 13 milhões, determina o fechamento de Oficinas Culturais do Estado e a redução de funcionários e programação do MAC, Museu Afro brasileiro, MIS e Pìnacoteca entre outros.
Essa postura atinge diretamente a formação, produção e difusão cultural no Estado, interrompe e põe fim a um processo de democratização da cultura e promoção do acesso, queimando recursos públicos anteriormente investidos e destruindo a possibilidade de futuro para milhares de jovens.
NÃO ACEITAREMOS CALADOS TAMANHA ARBITRARIEDADE CONTRA A CULTURA!
Assim, a Cooperativa Paulista de Teatro, Fórum do Interior, Litoral e Grande São Paulo, Movimentos contra o fechamento das Oficinas Culturais e mais diversos movimentos da Cultura, realizaremos no dia 1º de abril às 14h em frente a Sala São Paulo, uma manifestação em defesa da Cultura no Estado de São Paulo, pela manutenção dos recursos do ProAC e pelo não fechamento das Oficinas Culturais.

quarta-feira, 18 de março de 2015

15 de Março de 2015 – um dia para se lembrar (embora fosse muito melhor esquecer...)

Texto de Matheus José Maria - repórter fotográfico.

Certos dias você já sabe como serão só pela forma que eles começam.
Saindo de Santos para ir realizar a cobertura do protesto contra a presidente Dilma, já no carro conheci um garoto que estava indo também, mas com o propósito de protestar. Não vou discordar do direito dele fazer isso – algo incontestável -, mas não perderei muito tempo nessa história já que em um dado momento da conversa ele diz “Vamos tirar a Dilma e, se o Maluff se candidatar eu voto nele, porque ele rouba, mas pelo menos faz”.
Acho que isso diz muito sobre o povo brasileiro e seus costumes... Enfim, que o Maluff não se candidate novamente.
Bom, eis que chego em São Paulo e a rodoviária do Jabaquara já está tomada por gritos, apitos e camisas da CBF (nem durante a copa vi tantos “torcedores” juntos) que se dirigiam aos gritos em direção ao metrô.
Entro, com dificuldade no vagão lotado e dentro dele, os gritos de Dilma filha da puta, vai tomar no cú se fazem ouvir em alto e bom som.
Desço na estação Praça da Árvore para encontrar outro amigo e também fotojornalista, o Gabriel Chaim. Do momento em que desci e ele chegou, passaram três outras composições até que entramos em outro vagão, mas com o mesmo recheio.
Crianças carregadas pelos pais, idosos com os rostos pintados e usando todo o vocabulário adquirido ao longo de suas vidas e garotas desfilando a última moda em questão de protestos (uma camiseta coberta de lantejoulas que formavam a bandeira do Brasil). Quando chegamos à estação Paraíso, onde descemos para trocar de metrô e seguir em direção a Av. Paulista, eis que escuto a frase de um senhor de cabelos brancos: “Hoje não deviam cobrar o metrô. Deveria ser catraca livre!” Isso me fez pensar de imediato nos protestos contra os 0,50 centavos onde os manifestantes foram recriminados exatamente por pedir a mesma coisa.
Trocamos de linha e seguimos até chegar à estação Trianon – Masp e já de dentro da estação era possível escutar o barulho da manifestação.
A Avenida Paulista estava completamente tomada, era gente chegando de todos os lados e ocupando toda sua extensão.
Se locomover era extremamente difícil e com um pouco de esforço consegui subir em um trio-elétrico para ter uma visão melhor da extensão do protesto. Era um mar nas cores verde e amarelo que me fez pensar em que tipo de associação fizeram essas pessoas, para destacar seu patriotismo, usar a camisa da seleção brasileira, ligada a CBF que também é um ícone da corrupção nacional.
Em cima do trio elétrico, encontro outro fotojornalista famoso que escreve para uma coluna em um grande jornal de São Paulo que sorria satisfeito e me disse “Que lindo isso”. Ao lado, duas pessoas vestidas com roupas de presidiário e máscaras do Lula e da Dilma montaram uma grade de madeira e simulavam a prisão dos dois.
Desci do trio e segui pelo meio da multidão.
Várias mãos carregando latas de cerveja. Corpos sarados desfilando sem camisa exibindo a última tatuagem feita. Rostos maquiados e cabelos bem cuidados. Abercombrie, La Coste, D&G, Apple e outras marcas. Selfies em todos os lugares, poodles e outras raças de pequeno porte no colo. Estou dizendo que todos eram assim? Não, não estou. Seria uma leviandade achar que posso generalizar um movimento com tantas pessoas, mas me atrevo a dizer que era uma grande parte, senão a maioria.
Ao caminhar escutava as coisas mais absurdas e aqui, reproduzo algumas frases que ouvi:
- “ O que falta para tomarmos uma atitude? Esperar que vaze um vídeo de sexo com crianças? Não, isso não vai aparecer então temos que agir ” – Um manifestante do alto do trio-elétrico falando sobre a necessidade de agir contra o PT.
- (som de aplausos conforme policiais da tropa de choque passavam e eram saudados com continências por alguns manifestantes) – “ Isso é um exemplo de protesto direito, feito de forma ordeira e pacífica “ – Resposta de um policial quando perguntei o que ele achava disso.
- “ Tira essa mochila vermelha, tá querendo apanhar comunista? – Manifestante nitidamente alcoolizado (e segurando uma lata de cerveja nas mãos) gritando para uma pessoa que passou por ele, sem camisa, mas com uma mochila nas cores vermelha e preta.
- “ Fiz uma aposta com um amigo e disse que não acreditava que fosse ter tanta gente assim no protesto. Perdi com prazer e agora devo a ele um jantar em Punta del Este. “ – Manifestante falando ao microfone, em cima de um trio-elétrico.
- “A Dilma com certeza cortou o 3G para não deixar falar dela “ – Fala de um manifestante irritado por não conseguir conectar seu celular.
Essas falas e demonstrações mostram o tom que predominava nessa manifestação.
Continuando a circular, me deparo com um grupo de adolescentes segurando um cartaz onde era feito um agradecimento ao exército pelo golpe de 1964 e por isso, ter livrado o Brasil da ameaça comunista. Eu tenho quase 36 anos e sei muito pouco a respeito da ditadura militar, mas o pouco que sei me faz temer e repudiar seu retorno e assim eu pergunto: O que garotos, cuja maior preocupação deve ser qual o novo modelo de celular vai ser lançado e não tem mais que 16 anos, sabem sobre isso?
Mais a frente, uma bagunça em uma esquina e me aproximando vejo Danilo Gentilli, fazendo a festa dos fãs com fotos, selfies, beijos e abraços.
Que fique claro, mais uma vez, que isso foi o que eu vi e não uma generalização impossível de se fazer dado o número de pessoas que lá estavam.
Encontramos com outro colega fotojornalista (Wesley Passos) que junto de nós, seguiu até a rua da Consolação.
Nela, ouviam-se as buzinas de diversos caminhões que aderiram ao protesto e manifestavam sua opinião e apoio aos manifestantes.
Descendo pela rua, vi o que, para mim, foi a cena mais bizarra, triste e revoltante de todo o ato.
Em uma ocupação localizada na Consolação, um grupo de moradores fixaram uma faixa com os dizeres: Que os ricos paguem pela crise. Total apoio à greve dos (as) professores (as). Nenhuma menção ao PT, à presidente Dilma, à Petrobrás, enfim, nenhuma declaração de apoio aos monstros que estavam sendo caçados pela população ali presente.
Isso bastou para que ofensas tais como vagabundos, petistas, miseráveis, bandidos, pobres, filhos do bolsa miséria, filhos da puta e outros fossem dirigidas a eles. No grupo que ali parou havia idosos, jovens, mulheres e skin heads. Uma das manifestantes gritando que eles gostavam de mamar nas tetas do governo tirou seu seio e gritou para que então, mamasse ali. Um dos skin heads socou a porta de aço da casa e desafiou os fotógrafos a fotografá-lo. Enquanto isso, eu, o Chaim e o Wesley, junto de mais outro fotógrafo e dois jovens que ali estavam, nos posicionamos na porta da casa de modo a evitar uma possível tentativa de invasão. Alguns manifestantes chegavam perto e gritavam outras ofensas e os desafiavam a sair lá de dentro e encará-los.
Porque? A luta pela moradia e o apoio aos professores é um crime tão grande que justifica essa ação tão cheia de ódio? Talvez seja o corporativismo já que ali, provavelmente, várias pessoas eram donas de seus próprios imóveis e, como um jovem gritou “aí não é casa de vocês, não invadam o que é dos outros”.
Continuando pela rua, parecia que o grupo de pessoas havia se tornado um touro furioso, que investia contra qualquer pessoa que tivesse a ousadia de colocar uma bandeira vermelha na janela de seu apartamento. De imediato pensei em um touro correndo atrás da bandeira, pronto a atacar sem sequer saber por que fazia isso exatamente.
“Pula, pula, pula!!!!” era o que eles gritavam. Uma divergência política foi o suficiente para desejar a morte a um completo desconhecido.
Essa parte do protesto seguiu e se encerrou na Praça da República, onde pessoas estenderam faixas azuis, verdes e amarelas pela avenida. Dizem que outros grupos se espalharam por outros pontos de São Paulo e pouco a pouco foram indo embora até que a cidade voltou a ter sua respectiva coloração cinza concreto.
Gostaria de deixar claro que esse é um relato completamente pessoal, baseado no que eu vi e destacando as coisas que mais me chocaram no ato deste domingo 15 de março. Foi um protesto pacífico? Sim, até onde eu sei não houve incidentes envolvendo violência física ou depredação. Mesmo sendo nitidamente um protesto composto por uma parcela mais abastada da sociedade, não questiono em momento algum o direito deles irem às ruas e defendo a liberdade deles se manifestarem, mas é preciso que se preste atenção na ausência de uma consciência política embasada, do ódio cego e seletivo – afinal, o cartel do metrô tá aí. Ops não tá mais, foi arquivado – dirigido à apenas uma pessoa, partido, cor ou extrato social.
Se eu concordo com as reinvidicações? Não com as que eu vi ali, mas concordo com a necessidade de ser feita justiça ou, pelo menos, se fazer valer a justiça no país, de forma igualitária.

E se não ficou claro o que eu penso sobre esse protesto eu digo: Não penso nada, vou tentar esquecer...