Fonte: passapalavra.info
Com uma população vivendo na miséria, o povo do Haiti se revoltou em defesa de sua sobrevivência, foi às ruas em grandes protestos, saques, fazendo até greves gerais. No início de 2004, aconteceu uma intervenção do governo dos Estados Unidos, forçando o então presidente (Aristide) a renunciar e deixar o país. O fato de o governo Lula estar interessado em ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU faz com que esteja pronto a atender qualquer pedido daquela organização. E se aproveitando disso, a ONU pede que o Brasil envie tropas para sufocar a revolta popular.
hip-hop1Em 2005 a SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), sob o comando da então ministra Matilde Ribeiro – aquela que gastou R$ 171.000 [64.000 euros] do nosso dinheiro em futilidades como salão de beleza, free-shop, entre outras – convidou organizações de Hip Hop de integridade negociável para preparar em conjunto a Campanha Pense no Haiti, Zele pelo Haiti, com shows, seminários e arrecadação de material escolar. Os grupos de Hip Hop comprometidos com a luta dos povos oprimidos entenderam que essa campanha, assim como o jogo da seleção brasileira de futebol, pretendia maquiar [maquilhar] o verdadeiro caráter da invasão - chamada de Força de Estabilização. Não vemos verdade nas intenções pacificadoras de uma Organização das Nações Unidas que permitiu a invasão do Iraque pelos EUA e, apesar dos apelos, se negou a enviar suas tropas para o Ruanda, permitindo aos hutus matarem 800.000 tutsis em 100 dias (8.000 assassinatos por dia).
No momento em que uma delegação haitiana viaja pelo Brasil, estado por estado, para denunciar as atrocidades cometidas pelas forças de ocupação da ONU, lideradas pelos militares brasileiros, o rapper MV Bill apareceu no Domingão do Faustão [programa de televisão muito popular no Brasil] propagando as “benesses” da invasão militar naquele país. A aparição super-anunciada de MV Bill no Faustão, no dia 12/07, foi simplesmente desastrosa. MV Bill defende a ocupação militar do Haiti! Para ele as criancinhas do Haiti ficam alegres quando vêem as tropas de ocupação! Sabemos que MV Bill não é tolo, não é desinformado, talvez mal intencionado, pois para a Globo ele é hoje um grande líder político. Aliás, ele muito bem sabe quem é a Globo, aquela emissora que “mostra os pretos chibatados pelas costas”, conforme expressa uma de suas antigas músicas. Mas os pretos do Haiti também são pretos, são pobres, são favelados, e são chibatados pelas costas. MV Bill negou a existência de grupos de rap no Haiti dizendo que não os encontrou porque o país é muito pobre. Mas o rap não é a música da favela? De certo MV Bill teve que negar o rap haitiano tal como a Globo há muito tempo tenta ofuscar o contestador rap brasileiro. Para essa emissora os maiores artistas do rap sempre foram Gabriel o Pensador, Marcelo D2 e agora MV Bill.
Quem não lembra que, antes de MV Bill aderir à Globo, essa emissora o perseguiu acintosamente? Disseram, no Jornal da Globo, que o clipe “Soldado do Morro” era só “Armas, Drogas e música mal feita”. Mas num passe de mágica “global” MV Bill passou de “bandido musical” ao bom menino, da boa música, parceirão da compromissada Rede Globo, via “Criança Esperança”. Para obter esse status global MV Bill teve que se desculpar sobre as críticas outrora feitas ao “Criança Esperança” e à própria emissora. Em seu site MV Bill e CUFA também dizem-se favoráveis à ocupação dos morros cariocas pelo B.O.P.E. [Batalhão de Operações Policiais Especiais], com algumas ressalvas. Já há alguns dias a Cidade de Deus, tão cantada por MV Bill, está ocupada pela PM, que, de acordo com relatos de moradores, tem lançado mão de práticas autoritárias como proibir que jovens circulem pela favela com cabelos pintados de amarelo, entrarem em algumas casas e abaixarem os volumes dos aparelhos de som, vasculharem aparelhos de MP3 para ver se encontram algum Funk, a música proibida pelas autoridades fluminenses. E, desde então, nenhuma declaração do nosso “herói”, pelo menos em meios de grande repercussão, como num Domingão do Faustão.
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Parceria CUFA / Rede Globo: Luiz Erlanger (diretor-geral de Comunicação da TV Globo), Zezé (coordenador da CUFA Ceará) e MV Bill
Tudo isso demonstra que a CUFA é hoje um braço do Estado e da burguesia na favela. Sua parceria com organismos imperialistas como o Consulado dos EUA e o Banco Mundial não é à toa. Eles, juntos com outras entidades e empresas, financiaram golpes e mais golpes militares na América Latina, ao mesmo tempo em que financiavam também movimentos sociais pró-imperialistas. No Maranhão a CUFA encabeçou um Encontro de Hip Hop tirado da cartola pelo governo para se contrapor às atividades da Marcha da Periferia organizada pelo Quilombo Urbano (ver Governo e CUFA versus 3ª Marcha da Periferia) e na Cidade de Caxias se juntou à TV Difusora, ligada ao grupo do senador Edson Lobão, para organizar uma batalha de break no mesmo dia em que o grupo Ministério das Favelas (MINFA) realizaria a sua tradicional batalha break, já em sua sexta edição. A batalha organizada pelo MINFA trazia como tema “Negro Cosme” o herói da revolta da balaiada. Na semana seguinte a essas atividades a prefeitura desta cidade mandou confeccionar uma cartilha exaltando Duque de Caxias, assassino de Negro Cosme. O apresentador da Batalha da Difusora, era o coordenador da CUFA-MA, conhecido como Billy.
A guerra estourou: de que lado ele está?
A guerra estourou: de que lado ele ficou?
“Se amanhã uma guerra estourar sei de que lado vou estar” dizia em uma das músicas o MV Bill pré-global. Mas a guerra estourou no Haiti, nos morros do Rio de Janeiro, nas periferias brasileiras, o governo Lula criou a Força de Segurança Nacional em paralelo com a invasão do Haiti, e de que lado MV Bill ficou? Do mesmo lado que o mestiço Domingo Jorge Velho – o assassino de Zumbi - ficou quando a revolta negra estourava nas senzalas resultando em construções de quilombos. Claro que a CUFA não vai pegar em armas para assassinar os pretos como faziam os capitães do mato, ela apenas legitima os assassinos de nossa gente. Quando lançou o vídeo Falcões Meninos do Trafico, que não mostra quem são os grandes traficantes, a Globo elogiou e anunciou: comprem! comprem! E logo em seguida lançou uma infinidade de programas que apresenta ela, a Globo, salvando vidas de crianças pobres e pretas, divulgando artistas pobres e pretos, a exemplo do programa Central da Periferia, enquanto por outro lado detonava [indignava-se] com a política de cotas e exigia que os governos diminuíssem seus gastos sociais. MV Bill legitima a Globo e as forças imperialistas como única via de salvação dos favelados, quando são eles na verdade os responsáveis pelas condições de existência das favelas que crescem assustadoramente em todo o mundo. MV Bill e a CUFA “tá junto e misturado” com a burguesia, então não serve pra favela!
De nosso lado, estamos dispostos a cooperar com qualquer iniciativa de solidariedade ao povo haitiano, desde que ela respeite a sua luta, a sua autodeterminação. Não caímos no engodo de que as tropas brasileiras lá estão para controlar a desenfreada violência das gangues marginais locais.
Para isso basta entendermos que todo o indivíduo ou grupo que luta contra uma classe dominante está sujeito a esses rótulos desqualificantes como no caso das FARC - taxada de quadrilha de traficantes – ou mesmo nossos heróis e heroínas que deram suas vidas lutando contra a ditadura civil-militar brasileira, mas que as autoridades e as grandes corporações de comunicação referiam como assaltantes, seqüestradores e terroristas.
hip-hop4-elementosNós pensamos no Haiti e defendemos que zelar pelo Haiti é, também, através da nossa arte, gritarmos pela retirada das tropas brasileiras daquele país. E por esse manifesto, convidamos grupos, posses, crews, organizações, B. Boys/Girls, graffiteiros/as, MCs e DJs para, juntos, construirmos uma campanha de mobilização para exigir do governo brasileiro a desocupação do Haiti, retirando já o seu exército de lá.
[*] Resistência Cangaço Urbano (CE), Coletivo de Hip Hop LUTARMADA (RJ), Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão Quilombo Urbano (MA), Cartel do RAP (PR), Liberdade e Revolução (SP), Ministério das Favelas (MA), Atividade Interna (PI)
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