quarta-feira, 3 de setembro de 2008

DESCOLAndo Lucro

Há algum tempo, um empresário convidou-me para conhecer sua indústria e participar da reunião de diretoria, onde os responsáveis pela produção buscavam compreender como seria possível otimizar os resultados na linha de montagem.
Logo no inicio, o diretor geral leu em voz alta a missão da empresa e destacou a pauta central daquele encontro: qualidade, afinal, era tempo de competição e as peças deveriam ser produzidas dentro dos padrões internacionais de qualidade. Qualquer deformidade deveria ser notada e resolvida, caso contrário, o produto era excluído da moldagem e do processo de embalagem. Os aprovados deveriam ser etiquetados com um certificado que garantisse a procedência do produto, facilitando o seu ingresso em mercados extremamente concorridos. Entre ISOS para lá e cá, completou o diretor, que o selo deveria estar em inglês, respeitando o fenômeno da Globalização.
Um dos coordenadores dizia de modo enfático e disciplinado: "não podemos permitir qualquer desvio nos produtos, e o gradiente deve alcançar uma média maior que 70%". E concluiu afirmando que "as exigências do mercado estão cada vez mais rígidas, e a única forma de manter a rentabilidade é a aprovação nas avaliações desenvolvidas pelas instituições respeitadas pelo mercado". O coordenador de testes explanou em tom frio e técnico, sobre os métodos de avaliação dos produtos, explicando que todas as avaliações seguiam os padrões das melhores instituições, o que valorizava a marca da empresa.
Depois, apresentando o Boletim de ocorrência (B.O.) relatou os defeitos mais comuns apresentados pelos produtos, destacando a inadequação ao sistema internacional de rolamento, a falta de firmeza durante a execução dos testes e níveis de aproveitamento abaixo da média das peças saudáveis.
O analista de mercado, um exemplo de capital humano e apresentado como o guru do dono da empresa, buscou interpretar as novas tendências mercadológicas, alegando que o setor privado gere melhor que o público, e que as privatizações são inevitáveis, possibilitando em médio prazo a expansão dos negócios e o alcance de maiores receitas.
O representante dos investidores estava atento a tudo, com olhar de fiscal de preços tabelados e, em vários momentos, fez intervenções extremamente interessantes. Por exemplo, repetiu por diversas vezes que o investimento que fazia era de longo prazo, a um custo elevado e que suas vontades deveriam ser respeitadas, conforme um tal artigo do Regimento Interno. Concluia seu argumento afirmando que "pagava para ter resultados, e que estava cansado de discursos teóricos e pouca prática".
O ambiente ficou tenso, mas ao término da reunião, o Diretor geral falou durante alguns minutos e conseguiu seduzir todos com uma citação de algum livro de auto-ajuda (possivelmente fornecido pelo guru), algo parecido com "a união revela o caminho, se Deus quiser". Todos sorriram e sairam comentando sobre a inteligência daquele diretor. O mais empolgado era o representante dos investidores que dizia: "É um filósofo, é um pensador".
Ao sair daquela pálida construção, percebi que era uma escola. Dormi assustado com o pesadelo.
Acordei.

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