sexta-feira, 3 de julho de 2009

Lobos em pele de cordeiro: empresas investindo em educação?



Nada mais me estranha nesses tempos de barbárie. A última que fiquei sabendo é que diversas empresas, por meio de uma (creio eu) ONG chamada “Parceiros da Educação”, sob a coordenação do grupo Pão de Açúcar, resolveram ajudar a população, investindo nas escolas públicas. Algumas delas: Instituto Vivo, Dicico, FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado, Itaú BBA, Suzano Papel e Celulose, Tecnisa, Iguatemi Empresa de Shopping Centers, BASF / Suvinil , Nizan Guanaes – Grupo ABC, Porto Seguro Seguradora.
Com recursos destinados, em sua maioria, para a estrutura física da escola e material pedagógico (como se não tivessem excelentes livros nas escolas aprisionados em bibliotecas trancafiadas), dizem agir de boa vontade, para melhorar o sistema, através de “sua experiência em administração de recursos e gestão de negócios, para tornar a escola brasileira um modelo de eficiência e de resultados” (site do emprendimento). Agora, sabemos que não existe empresa humanista, que pessoa jurídica pensa em lucro, não em pessoas, como explica muito bem no filme canadense “Corporações”, e que se tivessem algum bom senso social, baixariam os preços de seus serviços para pessoas carentes e melhorariam as condições de trabalho de seus funcionários. Qual é a dessa gente? Se alguém souber por favor me digam, há algo de podre no reino do Brasil, onde empresas se infiltram nas instituições públicas, a pretexto de auxiliarem, vão ficando, tomando espaço, formam fundações e acabam administrado todo um sistema, vide o PDI do Serra, a transferência da administração da ULM (Universidade Livre de Música), do Projeto Guri, do Conservatório de Música de Tatuí para empresas privadas, e com discurso de melhorias aparentes (pois melhorias reais ocorreriam com investimentos nas condições sociais da clientela de escola pública, como moradia, emprego, saneamento básico, segurança, saúde), em troca apenas de publicidade?? Siim, pois a condição é que a escola contemplada melhore o desempenho no SARESP (provão das crianças), e eles vão dizer que é graças a empresa que colocou recursos no ambiente! Não é ruim qualquer apoio à alguma instituição pública, mas ficam muitas dúvidas no ar, e suspeitas escabrosas:
_ Se a vontade de ajudar for real, por que o critério do SARESP? E por que não pegar as que tiverem o pior rendimento SARESP, logo as que mais precisam de recursos?
_ O governo dará algum incentivo fiscal para isso? E se der, por que não melhora ele mesmo as condições das escolas, do número de funcionários, dos valores salariais ao invés de pagar as empresas pra isso? (Como no caso do ProUni, ao invés de ampliação de recursos nas Universidades Públicas)
_ Não seria um caminho para lavagem de dinheiro?
_ Quem disse que estudante é máquina para melhorar “a eficiência de resultados”?
_ Estão querendo formar alguma opinião de que o setor privado é muito mais competente que o Estado na administração de recursos?
E se o SARESP avalia principalmente português e matemática, teremos investimentos para disciplinas como Artes, Ed. Física, História e Geografia???
Estou vendo maldade demais? Segue um trecho do texto de um camarada, retirado do site Passa Palavra e republicada nesse blog em 17/06/09: “A educação promovida pelo Estado (assim como a privada) visa manter o sistema capitalista em funcionamento, produzindo a mão-de-obra que será explorada pelos capitalistas. Essa mão-de-obra terá uma falsa formação, pois aprende apenas o suficiente para ler, escrever, fazer contas simples, “ser rápido no olho” e apertar botões. Isso é ideal para os empresários que irão explorar essa massa de pessoas “formadas” no ensino público e que não são capazes de fazer uma reflexão crítica sobre sua situação social de escravidão disfarçada na sociedade capitalista. A falta de ensino de qualidade os fará acreditar que ser explorado pelos empresários, banqueiros e governos é normal. É preciso um clamor por mudanças.” E o caso é que os lobos, agora se fantasiam de cordeiro!

2 comentários:

Cappacete disse...

As pesquisas para o governo de São Paulo apontam Alckmin como favorito, e é bem provável que ele vença, e essa política vai continuar, o quê fazer? Chega dar desespero, como sou um fraco fugi do ensino público, estou na rede privada, no ensino superior, acho que todos vamos pagar por esse modelo de ensino, falo como paulista, sei que felizmente outros estados estão em condições melhores, São Paulo é decadência e barbárie, e o povo tem sua parcela de culpa, pois sempre vota nos mesmos miseráveis. Desabafo de um professor frustrado e mal pago!

educador que não se cala disse...

Caro Cappacete,
Calma com essa do Alckmin, é preciso definir quem será seu concorrente para ver se teremos chances de vencer o PSDB. Nada é permanente, a história sempre dá voltas, pois senão Lula jamais chegaria ao poder! Creio que a politização é um processo lento, e essa blogosfera tem ajudado muita gente a abrir o olho! Você não é fraco por estar na rede privada, só não teve o "privilégio" (como diz Mário Cortella na revista Fórum de junho) de ser um dos poucos que puderam ter esse acesso, como eu tive, mas sou igualmente mal pago! A luta é permanente, por educação pública, gratuita e de qualidade, e a luta é bem dura, companheiro.