terça-feira, 1 de junho de 2010

Representante do circo faz duras críticas ao Serra em evento ns Secretaria Municipal de Cultura



Segue carta de um grande representante de famílias circenses do Brasil, Francisco Confort, o principal secretário de grandes companhias circenses que estiveram em São Paulo de 1970 a 2000, como o Circo Garcia, Tihany, Orlando Orfei, Bartholo, Vostok, Spacial e Stancowitch. Apesar do tom da carta ser de admiração ao Serra, quando a recebi do próprio autor, no evento “Circo: Café dos Artistas”, do dia 31/05, ele fez duras críticas ao Governo Estadual, repúdiando o tratamento do Serra aos artistas brasileiros e sua exaltação às grandes coorporações, até porque a carta nunca teve resposta.
Educador que não se cala.

"Ao
Secretário do Meio Ambiente
Francisco Graziano Neto
E ao Excelentíssimo Governador do Estado de São Paulo
José Serra
Como cidadão brasileiro, é com muita tristeza que me dirijo a V. Exa. para manifestar o sentimento de indignação que tomou conta de mim e de toda a classe circense, pelos motivos que exponho abaixo.
A razão de tal sentimento é a autorização da instalação do Cirque du Soleil, de nacionalidade estrangeira, em área do Estado no Parque Villa Lobos, sob administração dessa Secretaria do Meio Ambiente, inclusive com apoio cultural divulgado na mídia escrita e falada.
Mesmo que o Cirque du Soleil tenha, reconhecidamente, um bom nível de espetáculo, que tenha em seu plantel artistas brasileiros e uma ótima estrutura preparada para receber até 3000 pessoas por espetáculo, não é cabível a cobrança mínima de R$400,00 por um ingresso. Por ser um evento cultural, esse valor finda elitizando o público. Como poderia, Sr. Secretário, uma família da classe pobre do nosso país, com dois ou três filhos, ter a oportunidade de exercer o seu direito à educação com um valor desses? Nem mesmo a grande maioria da classe artística circense do nosso país teria condições.
Causa um profundo sentimento de tristeza que essa classe sofrida, que é a classe circense, não tenha o mesmo apoio e que tenha que pagar os mesmos R$400,00 que qualquer outro espectador, mesmo apresentando documentação de que pertence ao meio artístico.
Representando essa classe, existe no Brasil a Academia Brasileira de Circo. Ela forma artistas circenses em diversas modalidades. Aquela Academia solicitou, por meio de ofício, convites promocionais para quarenta alunos e cinco professores, não fazendo exigência quanto a dia e horário. Em resposta a esse ofício, foram cedidos apenas três convites, fazendo com que o Diretor da Academia, mesmo apresentando suas credenciais, tivesse que arcar com o valor mínimo do ingresso.
De igual desconsideração foi alvo um dos ícones do circo brasileiro: o globista Marcondes, que percorreu todo esse país e vários países da América do Sul e do Norte, demonstrando a sua arte e divulgando a cultura brasileira. Mesmo se identificando, também foi obrigado a pagar o seu ingresso como qualquer outro espectador, além de arcar também com o valor de R$20,00 referentes a uma vaga de estacionamento.
Esse tratamento que tem sido dado aos artistas brasileiros é que provoca esse sentimento de profunda indignação.
Quero lembrar que os circos brasileiros de grande porte cobram ingressos de, no máximo, $20,00 para adultos e R$10,00 para crianças.
A indignação aumenta quando se tem conhecimento que o Circo Espacial, um produto brasileiro e do qual V. Exa. Já deve ter conhecimento, solicitou à administração do Parque Villa Lobos a cessão da referida área por 60 (sessenta) dias, pelo que recebeu “não” como resposta e a justificativa de que naquela área “não é permitida a instalação de circos (brasileiros?), pelo fato de não ser permitida a cobrança de ingressos.”
Pergunto: como é que vai ficar, Senhor Governador, daqui por diante, o atendimento aos circos de grande porte nacionais? Como justificar a dualidade de tratamento dada a uma atração estrangeira e a uma nacional, como o Circo Espacial?
Os circos brasileiros não têm qualquer apoio de nenhuma esfera governamental, quer seja municipal, estadual ou federal. Para que o senhor tenha uma idéia, o Circo ARTE e CULTURA tem se apresentado, com muita dificuldade, ao nosso público brasileiro. Esse circo vem lutando, cada dia com mais dificuldades, para conseguir uma área pública por 60 dias. Estas áreas estão cada dia mais escassas e sempre são negadas pelo Poder Público. Os nossos circos só conseguem mostrar a sua arte em áreas particulares, mediante pagamento de aluguéis. Mesmo estas áreas particulares estão ficando escassas e, para os próximos anos, elas tendem a não estarem mais disponíveis.
Quero lembrar, Exmo. Sr. Governador, que, mesmo com todas as dificuldades que os nossos circos atravessam, eles não deixam de atender a todas as solicitações originadas dos órgãos públicos como Prefeituras Municipais e o Estado. Frequentemente os nossos circos são solicitados, mediante ofício desses órgãos públicos, a atender gratuitamente crianças carentes, orfanatos, escolas municipais e estaduais. Já é tradição esse atendimento às 5ª e 6ª feiras. Isso sim é coisa de brasileiro: o atendimento e a valorização do seu povo.
É muito triste, senhor Governador, ver que tão carente e sofrida classe cultural do nosso país não receba apoio e que ainda dependa de pessoas abnegadas como este que vos escreve, nos autos dos seus 86 anos de idade, com a saúde extremamente debilitada, mas que acredita no produto nacional e a ele presta a sua modesta colaboração.
Por tudo exposto acima, venho, representando a classe circense, solicitar de V. Exa. Ações no sentido de determinar ao Senhor Secretário do Meio Ambiente, Sr. Francisco Graziano Neto, apoio e autorização para que os circos brasileiros possam se instalar, mediante solicitação por ofício, em áreas públicas determinadas por aquele Secretário, dando a eles igualdade de tratamento como a outras atrações estrangeiras.
Conhecedor que sou da boa vontade, sentimento de justiça e competência de V. Exa., eu e toda a classe circense temos aprovado a sua administração. Por isso ficamos no aguardo de um pronunciamento positivo de V. Exa.
Subscrevo-me, desejando-lhe um forte abraço.
São Paulo, 11 de maio de 2008.

Francisco Gimenez Confort"

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