sábado, 28 de agosto de 2010

Kassab sempre desce o cacete em artistas de rua!


fonte: Cooperativa Paulista de Teatro

“Teatro de Rua está na Constituição”


Artistas morrem simbolicamente em frente à Prefeitura. Crédito da foto: Alessandra Perrechil

Por Alessandra Perrechil

“Não precisa de dinheiro prá se ouvir meu canto, eu sou canário do reino e canto em qualquer lugar. Em qualquer rua de qualquer cidade, em qualquer praça de qualquer país, levo meu canto puro e verdadeiro, eu quero que o mundo inteiro se sinta feliz”.

Com os versos acima cantados em coro por mais de cinquenta artistas, aconteceu na última segunda-feira, 23 de agosto, no Dia do Artista e Dia Contra a Injustiça, uma mobilização promovida pelo Movimento de Teatro de Rua de São Paulo (MTR/SP), em favor da liberdade dos espaços públicos abertos (ruas, praças, vielas, jardins, parques) para realização das suas atividades artísticas. O ato nacional aconteceu simultaneamente em várias regiões, incluindo Rio de Janeiro, Belém do Pará, Presidente Prudente e Sorocaba.

A ideia de promover esse ato nacional surgiu depois que foram constatados diversos casos de artistas de rua que tiveram dificuldades de se apresentar em locais públicos, e de espaços culturais geridos por coletivos ameaçados de fechar. Aurea Karpor, do Núcleo Cênico ProjetoBaZar, explicou que em Fortaleza artistas foram agredidos por policiais e lembrou de casos em que os eventos tinham autorização da sub-prefeitura, mas a fiscalização apareceu no local, como aconteceu com o Grupo Mamulengo da Folia. Durante o 1º Encontro de Mamulengo em São Paulo, na Praça do Patriarca (centro), uma equipe da sub-prefeitura da Sé apareceu e tentou barrar as apresentações, sob o argumento de que só poderia haver barulho das 12h às 13h, ou só depois das 17h30. Mesmo com os grupos participantes não microfonando os principais instrumentos, e com a autorização de uso do espaço público em mãos, eles foram ameaçados de terem seus instrumentos recolhidos.

Selma Pavanelli, do grupo Buraco D’Oráculo, explicou que no ano passado, durante a Mostra Lino Rojas de Teatro de Rua, foi pedida a autorização de uso de espaço na sub-prefeitura da Sé. Mas, quando foram realizar a mostra, havia outro evento agendado para o mesmo lugar e horário. “As praças do Centro de São Paulo estão sendo privatizadas”, protestou Marcos Pavanelli, do Núcleo Pavanelli, que depois completou: “A praça é do povo!”.

Foram lembrados também os casos do Cicas (Centro Independente de Cultura Alternativa e Social), parceiro do Núcleo Pavanelli, que teve seu espaço desocupado pela polícia militar. E da II Trupe de Choque, grupo que está em constante luta pela liberação da Usina de Compostagem de Lixo de São Mateus, espaço já utilizado pelo grupo durante mais de cinco anos.

Além de lembrarem constantemente que os espaços públicos deviam ser de livre uso da população e cantarem “Se o povo soubesse o valor que ele tem, não aguentava desaforo de ninguém”, os artistas também leram o trecho do artigo 5º, termo IX, da Constituição Brasileira, que diz: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica, e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

A mobilização se concentrou a partir das 10h30 no Largo do Paissandu para depois seguir em passeata até à Prefeitura de São Paulo. Primeiro, os artistas cantaram, dançaram, e depois encenaram a história de Feliciano – cidadão humilde que perdeu a língua depois de enfrentar “o Estado”. Após fechar o cruzamento em frente ao Teatro Municipal, perto do Viaduto do Chá, os manifestantes morreram simbolicamente em frente à Prefeitura. Com cruzes brancas perto dos “corpos”, foi montado um cemitério a céu aberto enquanto eram lidas as dificuldades enfrentadas pelos artistas de rua para realizarem seus trabalhos. Depois da “ressurreição”, houve uma roda de ciranda, enquanto uma comissão entrava no prédio da prefeitura para protocolar a carta destinada ao Prefeito de São Paulo.

Participaram do evento na capital paulista os grupos: Buraco d’Oráculo, Cia As Marias, Cia dos Inventivos, Cia do Miolo, Como Lá em Casa, Grupo Teatral Parlendas, Mamulengo da Folia, Populacho e Pic Nic, Núcleo Cênico ProjetoBaZar, Núcleo Pavanelli, Pombas Urbanas, Trupe Artemanha e TUOV (Teatro União e Olho Vivo).

No Rio de Janeiro, o evento teve a participação de mais de 100 pessoas, entre elas Amir Haddad (do grupo Tá na Rua), e contou com o apoio de Marcelo Bones e Marcos Correa, da Funarte. Com a presença de estudantes, operários, advogados, turistas, parlamentares municipais, estaduais e federais, entre outros, teve apresentação de música, circo, teatro e muito improviso.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR), criada em 2007, atualmente é formada por movimentos e grupos de 27 estados brasileiros. Já o Movimento de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo (MTR/SP) existe desde 2002 e agrega diferentes grupos e companhias de teatro de rua, pensadores e afins que visam a construção de políticas públicas permanentes que garantam a continuidade de pesquisa, produção e circulação do teatro de rua nessa cidade. Para saber mais, acesse o blog do movimento: www.mtrsaopaulo.blogspot.com.

Carta Aberta

CARTA ABERTA DO MTR/SP A FAVOR DA LIBERAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS ABERTOS
PARA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES ARTfsTICAS.
Esta carta é um protesto contra as perseguições abusivas por parte do aparelho estatal contra
as artes populares. Chegamos à primeira década do século XXI e os artistas populares e a arte
que produzem continuam relegadas ao esquecimento ou sofrendo constantes ameaças.
Perseguição aos artistas, fechamento ou ameaça de fechamento de espaços culturais geridos
por coletivos, rígida fiscalização, atores apanhando da polícia, proibição de eventos em praças
públicas, tudo isso ocorrendo em 2010 em diversos lugares do Brasil. O que está ocorrendo?
Onde ficam os direitos garantidos pela Constituição?
"é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença"
Constituição Brasileira, artigo 5!! termo IX
Toda e qualquer arte que se coloca como contra hegemônica, vem sofrendo perseguições. A
constatação é dura, mas a realidade pode ser ainda muito mais.
Após a realização do FORUM da 5º MOSTRA UNO ROJASDE TEATRO DE RUA em julho de 2010,
discutindo as dificuldades dos grupos em realizar suas atividades pelas ruas, nós do MTR/SP
(Movimento de Teatro de Rua da cidade de São Paulo) coletamos diversos relatos de grupos
de teatro de rua a respeito desses entraves. Os relatos denunciam a falta de respeito ao artigo
52 da Constituição Brasileira.
Porém, ao investigarmos, facilmente nos deparamos com casos onde grandes produções ou
jovens artistas que se enquadram na ditadura do mercado tem sido apoiados com muito
dinheiro via leis de incentivo como a Rounet.
Enquanto isso as artes populares sofrem com despejos, falta de apoio e reprimendas policiais.
Exigimos um posicionamento das gestões públicas e o apoio da população para que seja
garantida aos artistas populares a liberdade de expressão e de trabalho com dignidade.
Arte não é luxo, nem lixo. Ela pode e deve ser feita na rua.
São Paulo, 23 de Agosto de 2010
MTR/SP
Movimento de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo
(O Movimento de Teatro de Rua da Cidade de São Paulo (existente desde 2002) agrega
diferentes grupos e companhias de teatro de rua, pensadores e afins que visam a construção
de políticas públicas permanentes que garantam a continuidade de pesquisa, produção e
circulação do teatro de rua nessa cidade. O Movimento propõe ações que possibilitam o
desenvolvimento de reflexões sobre o teatro de rua em âmbito nacional, bem como sobre sua
relação com a cidade. Os integrantes do movimento de teatro de rua da cidade de São Paulo
defendem a valorização do espaço público aberto como local de criação, expressão e encontro,
compreendendo que assim esse espaço toma-se ambiente propício à ampliação da cidadania de
quem com ele se relaciona.)

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