Ajudem a divulgar.
O descaso do Governo Federal com a Cultura não é novidade e vem de
longe. Prova disso são os orçamentos irrisórios do Minc, a falta de
planejamento e capacitação, a definição de prioridades equivocadas e,
sobretudo, uma visão de cultura que desconhece ou minimiza a dimensão
potencialmente emancipadora da arte e da cultura.
Neste momento,
cabe denunciar a política desastrosa de ocupação dos espaços públicos
geridos pelo Minc. Este Ministério, sem qualquer interlocução
consequente com a sociedade, com os artistas e suas organizações de
representação, nos impõe de cima para baixo editais de ocupações de
espaços cênicos em diversas cidades brasileiras. Em poucas palavras:
modelo de ocupação, critérios de seleção, formas de gestão e avaliação,
dotação orçamentária, nada é debatido com o conjunto dos interessados.
Não bastasse isso, exigências burocráticas bizantinas, como a imensa
quantidade de cartas de anuência, atestam o desconhecimento da dinâmica
cultural.
Qual a razão da introdução dessas normas que não constavam de outros editais da Funarte?
No edital de ocupação lançado no final de 2013, TODOS os projetos
inscritos para a sala Carlos Miranda e para o Teatro de Arena Eugênio
Kusnet foram inabilitados. A argumentação técnica, para a quase
totalidade desses projetos, menciona a ausência de cartas de anuência de
envolvidos nas atividades. Com a desqualificação de TODOS os projetos, e
por conseguinte dos coletivos envolvidos, sem justificativa plausível, a
Funarte expõe em público o seu descompromisso com um movimento
artístico e cultural que atravessa décadas de formação, história e luta
social. Mas como o que é ruim sempre pode piorar, as coisas não param
aí. Ao invés de reconhecer questionamentos legítimos das categorias
teatral e de dança, a Funarte relançou o edital mantendo as mesmas
exigências e, num lance autoritário, sugeriu aos novos proponentes “a
leitura atenta do edital”, entre outras recomendações que, na hipótese
remota de terem alguma utilidade, fariam mais sentido para os burocratas
da Funarte.
Duas grandes e importantes ocupações da sede da Funarte
em São Paulo, em 2009 e 2011, mostraram que artistas e ativistas
culturais, de horizontes e preocupações diversas, estavam fartos das
arbitrariedades do governo em relação à gestão pública da cultura no
Brasil. Hoje, a indignação aumenta com as constantes investidas do
governo em prol da burocratização e da privatização e sucateamento da
cultura e de seus espaços.
Ou a Funarte se emenda, reconhecendo e
corrigindo seus equívocos ou vai ser lembrada de que a crítica é um dos
motores da arte e da cultura, e que estas saberão defender-se contra a
burocracia esterilizante e a política neoliberal. Iremos nos mobilizar
sem trégua contra o autoritarismo e a burocratização que esvaziam a
entidade e atentam contra a cultura e a arte, desvinculando-as de sua
construção histórica e social.
RECUSA
Rede Cultural de Solidariedade Autônoma
São Paulo, fevereiro de 2014
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