quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Desabafo de psicanalista doutora da PUC- SP

*Desabafo
por Suely Rolnik*

Vale a pena ler o excelente e corajoso texto que Maria Rita Khel publicou em
sua coluna no Estadão na véspera do primeiro turno (Nota do blogueiro: texto publicado nesse blog). Para os que não sabem, a publicação deste texto causou sua demissão do jornal. A censura (do tipo velhos métodos, não tão longínquos quanto gostaríamos), teve como objeto o simples fato de uma jornalista (diga-se de passagem, de alta respeitabilidade, também como intelectual e psicanalista) ter ousado expressar uma mínima parcela do que todos nós temos obrigação de pensar, face à situação perigosamente perversa que vem se apresentando nestas
eleições.

Ao que ela escreve, eu acrescentaria que não podemos bobear de agora até o
segundo turno (pelo menos). Estejamos alertas aos estragos provocados pelo
monopólio da informação em nosso país (o tal PIG: política de informação
golpista), que expressa os interesses de apenas uma parcela mínima da
população, profundamente bichada por
subjetividades tacanhas. Um monopólio que convoca o que temos de
mais reativo: a memória colonial e escravocrata inscrita em nossos corpos de
classe média e elite brasileiras, amputada de sua dimensão de vida pública,
intoxicada de preconceitos de classe e de raça, etc., etc. Sintomas de um
narcisismo ancestral, que se aterroriza face à
desestabilização de nossos contornos, causada pela pulsação da alteridade em
nossos corpos; um terror que projetamos sobre nossos (não tão) outros com
nojo, ódio e desprezo (mesmo quando, no melhor dos casos, este sentimento se
transveste da inofensiva e estéril bondade politicamente correta). São estes
microfascismos que estão
subindo à superfície midiática sem disfarce, sem o menor pudor e cada vez
mais violentamente. O buraco de onde emergem estas forças reativas está bem
mais embaixo do que o simples ódio ao PT ou à Dilma. Este é apenas sua
atualização mais explícita no momento. E é isto o que nos deixa indignados
e, sobretudo, nos assusta.

Ativemos nosso senso de responsabilidade na construção da realidade (que
nada mais é que nossa responsabilidade perante a vida), senso tão debilitado
na história que nos constitui. Não podemos responsabilizar um candidato ou
um partido pela corrupção que certos “elementos” do mesmo possam ter
cometido, senão teríamos que responsabilizar todos aqueles que participam ou
participaram do Estado brasileiro, desde a fundação da República (o que
aliás funda o triste argumento, bastante comum em nosso país, de que todos
os políticos são igualmente corruptos e oportunistas, e que a política não
tem outro sentido, senão o de servir os interesses desta corja). É ridículo
cairmos neste argumento da mídia, que explora a despolitização doentia de
nosso país. Tampouco podemos decidir nosso voto em função de nossa
simpatia ou antipatia por este ou aquele candidato, mas sim em função de
nossa maior ou menor identificação com um projeto político e de nosso
desejo de que este projeto se imponha na condução de nosso destino, a
cada momento que nos é dada a possibilidade de escolha.

Não estou me referindo a projeto político no sentido de um puro blábláblá
retórico e/ou ideológico, mas daquilo que, de fato, se traduz na ação de um
partido. Votarei na Dilma baseada naquilo que o governo regido pelo PT sob a
presidência de Lula realizou neste 8 anos (segue, em anexo, uma lista mínima
destas realizações, comparadas às do governo FHC, que circulou na internet
antes do primeiro turno). Sabemos dos grandes avanços conquistados, seja por
nossa própria participação direta ou indireta nas diferentes ações levadas
nas áreas da educação, saúde, cultura, economia, etc., seja pela
participação de
amigos ou amigos de amigos (já que não temos quaisquer outros meios
de informação). Foram muitas, mas muitas mesmo, as pessoas que
vararam noites e mais noites, anos a fio, para fazer mover o mais que
pudessem o estado de inércia patológica do pensamento em nosso
país pós-ditadura, de modo a abrir espaços inéditos de
exercício democrático, na reinvenção permanente de nossas existências
individual e coletiva, em função do que a vida nos indica e nos exige.
Infelizmente, a grande maioria não tem acesso a estas
informações, exatamente em razão do poder absoluto do tal PIG no Brasil
(aliás, nesse aspecto, nosso país se distingue de quase todo o resto
do planeta, a começar por nosso próprio continente). Muitos de nós
nos angustiamos com esse monopólio descarado da informação que
tem emporcalhado de microfascismos as páginas dos jornais e revistas e
a tela das TVs, mas na hora H as forças reativas tendem a vencer em
nós mesmos, talvez por nossa incapacidade de lidar com o que nos
causa tamanho desconforto com a situação atual, um desconforto que,
inclusive, traz à tona a memória do trauma da ditadura, que até hoje não
conseguimos sequer começar a elaborar. É patético, por exemplo, deixarmos
passar a operação sinistra do pior de nossas elites, via mídia, que
transforma a resistência à ditadura em coisa de vagabundo e assassino (o que
é mais espantoso ainda, quando esse tipo de argumento é usado para a
campanha eleitoral de um candidato que tem um “passado de esquerda” e o
reivindica como parte de seu show) . Morro
de vergonha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Bem é um desabafo. Espero contar com muitos outros ousando pensar e agir
contra esta situação, como vem ocorrendo pelo menos via internet, esta zona
franca que escapa por todos os lados ao confinamento imposto pelo PIG.

Abs, Suely.

*Suely Rolnik é psicanalista, Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e ensaísta.
Viveu em Paris de 1970 a 1979, onde fez grande parte dos estudos universitários e iniciou a carreira de psicóloga, analista institucional e professora de Psicologia.


*Governo Lula:*

1) reduziu a inflação de 12,5% (2002) para 5,9% (2008) ao ano; a taxa média
anual de inflação no governo Lula (6% ao ano) é menos da metade da que
tivemos no governo FHC (12,5% ao ano);

2) aumentou o salário mínimo para o seu maior patamar em 40 anos, com um
aumento real de 46%;

3) reduziu a relação dívida/PIB de 55,5% para 37% do PIB;

4) acumulou um superávit comercial de US$ 229 Bilhões;

5) pagou toda a dívida com o FMI e com o Clube de Paris e o Brasil se tornou
credor do FMI, algo inédito na história do país, para quem emprestou US$ 10
Bilhões;

6) reduziu o déficit público nominal de 4% do PIB (2002) para 1,5% do PIB
(2008);

7) ampliou a capacidade de investimentos do Estado; Os investimentos do
governo federal e das estatais par a 2009 estão previstos em R$ 90 Bilhões;

8) aumentou as exportações de US$ 60 Bilhões/ano (2002) para US$
198 bilhões/ano (2008) acumulando um crescimento de 230% em 6 anos;

9) aumentou as reservas internacionais líquidas de US$ 16 Bilhões (2002)
para US$ 209 Bilhões (2009);

10) ampliou o Pronaf de R$ 2,5 Bilhões/ano (2002) para R$ 12,5 Bilhões/ano
(2008);

11) a concentração de renda e as desigualdades sociais
diminuíram sensivelmente; o índice de Gini atingiu o menor patamar da
História;

12) gerou 7,7 milhões de empregos formais entre 2003/2008;

13) reduziu o percentual da população brasileira que vive abaixo da linha de
pobreza de 28% (2002) para 19% (2006), segundo o IPEA;

14) elevou os gastos sociais públicos para 18% do PIB;

15) o BNDES emprestou R$ 92 Bilhões em 2008 para o setor produtivo, contra
cerca de R$ 20 Bilhões em 2002;

16) fez o Brasil se tornar credor externo, com um saldo positivo de US$ 23
Bilhões, algo inédito na História do país;

17) criou programas sociais inclusivos, como o Bolsa-Família, ProUni, Brasil
Sorridente, Farmácia Popular, Luz Para Todos, entre outros, que beneficiaram
aos pobres e miseráveis;

18) iniciou novas grandes obras de infra-estrutura (rodovias, ferrovias,
usinas hidrelétricas, etc) financiadas tanto com recursos públicos como
privados. Exemplos: Usinas do Rio Madeira, Transnordestina, Ferrovia
Norte-Sul, recuperação das rodovias federais, duplicação de milhares de
quilometros de rodovias;

19) anulou portaria do governo FHC que proibia a construção de
escolas técnicas federais e iniciou a construção de dezenas de novas
unidades e que foram transformadas em Institutos Superiores de
Educação Tecnológica;

20) criou o Reuni, que iniciou um novo processo de expansão
das universidades públicas, a umentando consideravelmente o número
de universidades, de campus e de vagas nas mesmas;

21) os lucros do setor produtivo cresceram quase 200% no primeiro mandato em
relação ao governo FHC;

22) fez o Estado voltar a atuar como importante investidor da economia.
Exemplos disso: a criação da BrOI, que têm 49% do seu capital nas mãos do
Estado; a compra e incorporação de bancos estaduais pelo Banco do Brasil (da
Nossa Caixa, do Piauí, Santa
Catarina e Espírito Santo) evitando que fossem privatizados; a participação
da Petrobras em 2 grandes petroquímicas nacionais (a Braskem, com 30% do
capital nas mãos da Petrobras; a Ultra, com 40% do capital nas mãos da
Petrobras); o aumento da participação dos bancos públicos (BNDES, CEF, BB,
BNB) no fornecimento de crédito para a economia do país;

23) elevou o volume de crédito na economia brasileira de cerca de 23% do
PIB, em 2002, para 43% do PIB, em 2009;

24) cr iação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que
prevê investimentos públicos e privados de R$ 646 Bilhões entre
2007/2010; até 2013 os investimentos previstos chegam a R$ 1,14 Trilhão;

25) reduziu a taxa de desemprego de 10,5% (Dezembro de 2002) para
6,8% (Dezembro de 2008);

26) reduziu os gastos públicos com pagamento de juros da dívida pública para
5,9% do PIB (em 2008),representando uma queda de cerca de 36% quando
comparado com o segundo mandato de FHC.

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