"Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma." Augusto Boal
domingo, 22 de novembro de 2009
Por Zumbi
Rap: Faveláfrica
Do grupo A Família
Certa noite, ouvi gritos estridente e dolorosos
Os gritos eram de tamanha dor e tortura
Que eu me aproximei daquela triste e bela mulher negra
E perguntei o que havia
Ela cheia de dor, mágoa e tristeza
Respondia:
Lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele
Não compreendendo eu perguntei: Ele quem? Ele quem?
Melancolicamente ela bradava
O insano genocida, carrasco afanador de vidas
vai levar meus filhos inocentes por esses mares em tristes correntes
castigo, sangue, porões, pelourinho, chibata, grilhões
Filho do ódio, parasita, hospedeiro, filho do mal
chakal, condutor do pesadelo
Lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele, lá vem ele
E ainda sem compreeder novamente perguntei
Mas ele quem? Ele quem? Ele quem? Ele quem?
A Mãe África arduamente, incansavelmente respondia
O chakal carniceiro, abutre, bandido do estrangeiro
Destruindo nossos filhos simplesmente por dinheiro
Ele é! O NAVIO NEGREIRO
Reflito e sinto pena daquela preta ingênua
Que aceita ser chamada de mulata ou morena
Valéria, Valença, valei-me meu grande Deus,
De tanta inconsciência, porque ela se esqueceu
Do tapa na cara, a dor da chibata
O tronco, a senzala Na boca amordaça, da preta Anastácia
Chefe Ganga Zumba, Zumbi e Dandara
O racismo não passa, é tudo fachada
É jogada armada
É tapa na cara da nossa raça
O corpo na vala, a rota que passa, polícia que mata
Mais um preto arrasta, o capitão lá da mata
Do branco a risada, racista piada
É mesmo uma praga, pra mim isso basta,
tô pegando minhas facas
Minha língua é navalha, palavra que rasga
E fogo que se alastra, deflagra e conflagra
Mas não quero só fala, eu parto para prática
Olha lá no templo o irmão desiludido
Louco muito louco por um pouco de alívio
Sacaram de uma sacola era esmola era o dízimo
Fogueira, fumaça, carvão, forca, fogo, a inquisição
Católica religião, demagogia preconceito
Eu vejo o desrespeito. Simplesmente eu não aceito
Miscigenação forçada, Mãe África estuprada
Nunca descobridores. Invasores só canalha
Torturaram minhas raízes e nos deram as marquises
Agora surge o revide,o Gato Preto lhe agride
O guerreiro vai atacar, yalorixá, yoruba
Keto e nação banto, nago povo africano
Nos roubaram a riqueza, a beleza e a nobreza
A terra, a natureza, dizimaram a realeza
Arquitetura, estrutura, medicina e cultura
Diamantes, agricultura, e todo poder de cura
Na minha religião, a inquisição e tortura
O ataque, o massacre, o abate os combates
As brigas, as intrigas na Serra da Barriga
Negros combatentes, luzitanos covardes
A trincheira tá armada, a arena e Palmares
Católica covarde, com o apoio do padre
Resultado do pecado, esticado lá na esquina
Pro negro só chacina, nos roubaram a auto-estima
Ter cabelo crespo é vergonha pra menina
So somos lembrados, no pesado ou na faxina
Luther King, Zumbi, Marighela,
Malcon X e Nelson Mandela
O povo preto avante na guerra
Sabotage e Jr Abu-Jamal e Donizete
Eu quero a parte que nos cabe,
Eu quero a parte que nos cabe
Eu quero a parte que nos cabe
E o reparo dos massacres
Dr Rui Barbosa de mente majestosa
Ação mediculosa, pra mim foi criminosa
Fogo nos documentos, fogo em toda prova
fogo na minha vida, fogo na minha história
Devastaram o império, saquiaram o minério
Era a peste branca, apoiada pelo clero
Mais eu quero, quero, e espero, sigo reto meu critério
Porque?
Chicote rasgou corpo, sangue rolou no rosto
O carrasco achou pouco, era sangue de um porco
Assim ele dizia,o chicote, chibata descia
O irmão traidor me persegue no asfalto
Hoje quatro rodas, mas ontem cavalo
Hoje é polícia, ontem capitão do mato
Fato do meu passado, não me faço de rogado
Conheço, reconheço, muito bem todos esses fatos
Não me sinto derrotado, vou além conquisto espaço
o Preto não é aceito, é simplesmente tolerado
Quero a parte no meu prato, do bolo meu pedaço
Patroa muito boa, falsa como um dragão
escraviza Seu João
Só gosta da Maria, de vassoura na mão
No tanque lava roupa, e a barriga no fogão
Uma falsa dialética de forma sintética
Ausência de ética, falando em estética
Negro marcado, intitulado plebeu
A África não vale, só padrão europeu
Diz que o branco é bonito,o feio aqui sou eu
O Professor me fale, dos meus líderes, meus mártires
Chega de contrastes, ascenção sociedade
Quero a parte que me cabe. Educação e faculdade
Não quero as calçadas, eu preciso é de aulas
Trabalho informação, não um copo de cachaça
O tolo quer maconha, eu prefiro um diploma
Informado, doutorado, diplomado e graduado
Igual a Milton Santos, foi lá no passado
Eu parto pro debate, digo não à todas grades
Incentivo o ataque, agrupamento pro combate
Quero reparação por todo o massacre
E se eu sou oitenta, cota oitenta pra minha classe
E pra você ouvir, eu vou lhe repetir
Quero a parte que me cabe, quero a parte que me cabe
Eu quero a parte que me cabe e o reparo dos massacres
Eles querem guerra eu quero é paz
mas se quer, eu quero é mais, defender meus ancestrais
e por isso corro atrás Gato Preto é sagaz
bola plano eficaz, destruindo os capatais
porque?
Criaram novos termos, camuflando o preconceito
Fingindo encobrindo, o desastre que causou
Pretinho, moreninho, mulato homem de cor
Não aceito eu sou negro, eu sou afro-brasileiro
Herdeiros de Zumbi, eu também sou guerreiro
Cartola, Mandela, Portela.
Marcos Garvei, Marighela
Revolta da Chibata a Revolta dos Malés
Desmontutu minha nação gege
Meu black, minhas tranças, Referência pras crianças
Minhas tranças, o meu black, referência pros moleques
Candomblé, capoeira, feijoada caseira
Foi minha mãe quem criou
Besteira muita asneira, o livro já falou
Princesa Isabel, PUTA, nunca me libertou
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Um comentário:
Conheço esse Gato Preto, e o grupo dele, tem alguma coisa gravada?
Tem esquema de baixar?
Abs!
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