Fonte: www.tarifazero.org
A urgência da notícia me obriga ir direto ao ponto, sem rodeios: o Jornal da Tarde de 26 de abril (segunda-feira) informa que o Governo do Estado de São Paulo deixou de investir R$ 1,3 bilhão na expansão da rede de metrô da capital paulista em 2009.
Segundo as informações obtidas no próprio site do Programa de Expansão SP, o montante previsto paras as obras metroviárias era de R$ 3,3 bilhões. No entanto, a prestação de contas divulgada no Diário Oficial do Estado pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) indica até o momento foram aplicados R$ 2 bilhões.
Levando em conta os dados aqui apresentados, restam algumas questões a serem respondidas.
Em primeiro lugar, quais foram as obras e trechos prejudicados devido a essa contenção de recursos? A Linha 5-Lilás foi a principal afetada pela redução dos investimentos. Os números destacam que o trecho deixou de receber R$ 1 bilhão – cerca de 80% da verba estimada. Isso mesmo: 80% não foi investido! Em decorrência disso, as Estações Adolfo Pinheiro e Brooklin-Campo Belo, que segundo as previsões da Companhia seriam inauguradas ainda este ano, são prometidas agora apenas para 2011.
E não foi só a Linha 5 que teve seus recursos contingenciadas. O atraso nas obras e a falta de investimento total previsto também ocorreu na Linha 4-Amarela – que, segundo as informações obtidas também no diário oficial, contou com um investimento de R$ 699 milhões, cerca de 20% a menos do que estava previsto pelo planejamento do Programa Expansão SP. É mole?! Assim, as já alardeadas estações Faria Lima e Paulista, que deveriam estar em operação e funcionamento integral desde março, ainda não foram abertas ao público.
Por fim, a prestação de contas do Metrô também relatou que a Linha 6-Laranja não recebeu o investimento de R$ 70 milhões que estavam no orçamento para a continuidade das obras. Quanto dinheiro parado, não é!?
Já a Linha 2-Verde recebeu integralmente os recursos que estavam previstos. Que bom...
Bem... Não é bem assim... Na verdade, mesmo com o repasse e utilização da verba prevista, o cronograma desse trecho também está atrasado! Segundo as informações obtidas do planejamento do próprio Programa Expansão SP, as Estações Tamanduateí e Vila Prudente deveriam ter sido inauguradas em março. No entanto, até aqui, sua abertura foi adiada para junho! Ainda pior é a situação da extensão da linha até o bairro de Cidade Tiradentes, via monotrilho, que recebeu apenas R$ 50 milhões dos R$ 228 milhões orçados.
Diante de tamanho atraso na inauguração dos trechos e na abertura de estações, somado aos investimentos contingenciados para a concretização das obras, qual a justificativa apresentada pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) para esses fatos?
Pois é, caros e caras amigas... O Metrô de SP não é muito de falar... – exceção seja feita e lembrada pelas centenas de propagandas nas TVs, Jornais e Estações (quanto dinheiro!) para propagandear suas iniciativas.
Com efeito, a Companhia do Metropolitano de São Paulo informou que não houve falta de recursos nas obras de expansão do sistema. Na verdade, segundo a empresa, a redução dos investimentos foi ocasionada pelo atraso nas obras da Linha-5 – previstas para serem iniciadas no começo do ano passado. Só no mês de Agosto de 2009 é que as obras tiveram seu ponta-pé inicial.
Daí fica a sugestão de charada implícita na fala da Companhia do Metrô: o atraso das obras atrasa os investimentos... e o atraso nos investimentos atrasa as obras...
Claro que não se pode ser injusto: as obras do metrô demandam fortes investimentos, planejamento e envolvem inúmeras questões para seu equacionamento e execução.
A referida ampliação da Linha 5-Lilás, por exemplo, vem passando por vários contratempos desde o início. Assim, a demora e dificuldade para realizar as desapropriações nas áreas correspondentes aos canteiros de obras, somado ao recente rompimento dos cabos de fibra ótica da Telefônica, em Santo Amaro (Zona Sul da cidade de São Paulo), certamente são fatores importantes a serem levados em conta. Agora o Metrô aposta todas as suas fichas na liberação de empréstimos de US$ 1,13 bilhão (US$ 650,4 milhões do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento/Bird e US$ 481 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento/BID) para a continuidade das obras.
O Metrô ainda afirmou, em nota oficial, que as obras previstas não podem ser consideradas de forma pontual. Assim, o cronograma pode variar “em aproximadamente cinco meses para mais e um para menos” – sem que isso caracterize, segundo a empresa, em atraso ou descumprimento da entrega.
O problema, cara (desde a tarifa) Companhia do Metrô, é que as obras estão atrasadas a décadas! Não somente essas, do Plano de Expansão. Mas sim todas as inciativas e planejamentos que previam, há mais de 30 anos, a ampliação e priorização do transporte coletivo sobre trilhos!
No entanto, ainda mais uma questão fica no ar: as obras atrasam... o Governo do Estado deixa de investir mais de um bilhão... mas, a tarifa dos trens e do metrô aumentou novamente – e rapidinho! Isso parece nunca atrasar! Nunca ninguém esquece de tratar o transporte como uma mercadoria!
Como já falei por aqui em outra postagem, o alardeado Programa de Expansão dos metrôs e trens pode estar significando, de fato, uma verdadeira expansão das tarifas, da exclusão do transporte coletivo e da desigualdade social em nossa cidade.
Nesse contexto, cada vez mais, os serviços públicos de transporte e mobilidade urbana acabam por ser pensados e encarados concretamente a partir da lógica de seu equilíbrio financeiro – e, ainda mais, do lucro que visam obter. Nesse caso, o transporte coletivo está longe de ser público de verdade.
Assim, é possível concluir que a notícia alardeada – R$ 1,3 bilhão que deixaram de ser investidos na expansão do metrô – se insere numa concepção atual de transporte coletivo vigente em nossas cidades. Uma concepção que, como já afirmei aqui em outra oportunidade, está claramente na contramão dos interesses e anseios da maioria da população que utiliza cotidianamente esse transporte. Na verdade, esse é um transporte que não garante nossos direitos (de estudar, trabalhar, ir ao cinema, ao teatro, ver a família e amigos, se movimentar por nossa cidade, enfim) – mas sim que causa todos os dias stress, atrasos, desconforto (vejam só essa foto do post!) e dificuldade para pagar seu alto preço.
Mas, precisa ser assim? Não tem outro jeito? Devido a extensão dessa postagem, prefiro deixar para falar mais sobre isso – um outro transporte possível – numa próxima oportunidade (assim, também, aproveito e falo mais – e contextualizo melhor – sobre a política atual do Governo do Estado de São Paulo para os trens e metrôs).
Com efeito, textos pensando e ações que apontam para uma outra concepção de transporte coletivo já existem. Fica a sugestão de vocês visitarem as seções do sítio www.tarifazero.org Aproveitem!
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