quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E onde está o reconhecimento, o pedido de desculpas públicas, além da abertura dos arquivos?

Fonte: Fazendo Media
Verdades já conhecidas se confirmam oficialmente
Por Mário Augusto Jakobskind, 18.08.2009

Os arquivos implacáveis liberados pelo Departamento de Estado norte-americano confirmam o que se sabia a boca pequena: 38 anos depois, confirma-se a participação da ditadura brasileira no golpe que derrubou o Presidente constitucional chileno, Salvador Allende. Dois anos antes da ocorrência, o presidente de fato do Brasil, Emílio Garrastazu Médici se reuniu com o seu colega estadunidense Richard Nixon e afirmou que “estava trabalhando” para derrubar o governo do chileno Salvador Allende.

O encontro, segundo revelam os documentos compilados pelo instituto de pesquisa não-governamental Arquivo Nacional de Segurança, divulgados agora pela Folha de S. Paulo, aconteceu no Salão Oval da Casa Branca, às 10h do dia 9 de dezembro de 1971. O gorila Médici estava acompanhado de um intérprete de triste memória para o Brasil, o general Vernon Walters, adido militar dos EUA que teve participação ativa no golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart. Na reunião esteve presente também o famigerado assessor de Segurança Nacional e futuro secretário de Estado Henry Kissinger.

Nenhum diplomata brasileiro esteve na reunião, pois, segundo o pesquisador Matias Spektor, citado pela Folha, o general presidente de fato e a Casa Branca não confiavam no Itamaraty e até acreditavam que o órgão estava tentando frustrar a visita de Médici.

Esta mancha na história brasileira não fica mais oculta. Em várias ocasiões se falava da participação ativa de representantes da ditadura brasileira no golpe contra o povo chileno, mas os direitistas de sempre nunca tiveram a coragem de assumir esse posicionamento.

Mas os leitores que imaginam que não falta mais nada em matéria de arquivos implacáveis estão enganados. Figuras que continuam circulando por aí e até ocupando cargos de importância seguem ocultos. Um deles é um tal de Aristóteles Drumond, jornalista, hoje âncora de um programa de entrevistas num canal a cabo da Igreja Católica. À época era introdutor de armamentos no Chile, distribuídos para grupos de extrema direita conspiradores contra o governo constitucional de Allende, como afirma o saudoso René Dreifuss em um de seus importantes livros sobre o tenebroso período da história brasileira (A Internacional Capitalista – Estratégias e táticas do empresariado transnacional – 1918-1986), leitura obrigatória para quem estuda história brasileira contemporânea.

Documentos da mesma natureza que os agora tornados púbicos e que se encontram nas gavetas de alguns Ministérios brasileiros, sobretudo o da Defesa, poderiam confirmar muitos fatos ocorridos. Não se trata de revanchismo, como afirmam representantes dos setores conservadores envolvidos em ocorrências tenebrosas, mas apenas esclarecimento das verdades, fundamental para inclusive evitar a repetição da história.

É isso aí, no meio de tudo isso, a mídia hegemônica conservadora, que até hoje não fez autocrítica pelo posicionamento exercido naquele período da história brasileira, segue defendendo os mesmos interesses econômicos apoiadores do golpe, mas atualmente com uma outra estratégia. Não que tais grupos tenham mudado, mas simplesmente, tal qual camaleões, adaptam-se ao sopro dos ventos, que hoje tomaram novos rumos. Em outras palavras: seria desgastante para esses setores midiáticos repetirem a mesma estratégia da época.

A melhor forma de virar em definitivo a página da história de triste memória é escancarar os documentos sobre o período. É a melhor forma também de se conhecer personagens que hoje se apresentam como democratas desde criancinha.

Na Argentina, no Uruguai, no Chile e no Paraguai, a história de personagens escabrosos que torturaram e mataram opositores não só está sendo contada, como também os responsáveis por crimes contra a humanidade estão sendo julgados.

Como diria o jornalista David Nasser, em termos de Brasil “falta alguém em Nuremberg”. E para melhor entendimento do período é necessário colocar o alguém no plural. Enquanto isso não for feito, o Brasil continuará com o título comprometedor de paraíso da impunidade para quem cometeu crimes imprescritíveis.

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