segunda-feira, 15 de junho de 2009

Após conflito, vice-reitor da USP promete tirar tropa de choque do campus

Fonte: Revista Fórum

Por Camila Souza Ramos [Quarta-Feira, 10 de Junho de 2009 às 12:34hs]

Após os policiais da tropa de choque avançarem contra manifestantes da USP dentro da cidade universitária, no Butantã, uma comissão formada pelos deputados Carlos Gianazzi (PSol), Raul Marcelo (PSol) e pelos professores Chico Miraglia, Lisete Arelaro e Sandra Nitrini reuniu-se com o vice-reitor Franco Lajolo e o chefe de gabinete da Reitoria, Alberto Carlos Amadio, com o objetivo de negociar a retirada da tropa do campus. A reitora Suely Vilela não participou da comissão e nãodeu motivos para sua ausência.

O vice-reitor garantiu que retiraria a tropa, mas que manteria até duas viaturas dentro do campus para “o restabelecimento da ordem”, conforme informou o deputado Gianazzi. Lajolo também afirmou que a força tática da PM só seria acionada em caso de “piquete violento”. A comissão afirmou que Lajolo não deixou claro o significado para ele de “violento”.

No entanto, até agora vários carros da PM e da Força Tática estão presentes no campus. De acordo com a assessoria de imprensa da PM, os policiais da força tática estão lá para garantir que não ocorra nenhuma manifestação violenta. “Eles têm que estar lá, porque até acontecer algo violento, demora para chegar”.

Segundo o capitão Marcelo Gonzalez Marques, há policiais dentro do prédio da Reitoria também “para evitar a possibilidade de uma nova invasão do prédio”. Ele afirmou que a polícia também está atenta aos prédios da Antiga Reitoria, da Prefeitura do Campus e do Centro de Práticas Esportivas (CEPE). O capitão afirmou que a PM continuará no campus até que seja retirada a ordem de reintegração de posse.

Agressão
A investida da PM com bombas e balas de borracha iniciou-se às 17h, quando a manifestação de estudantes e funcionários na frente do portão principal já estava se esvaziando. De acordo com o capitão, a tropa de choque foi acionada após um grupo de 500 manifestantes cercar quatro policiais da PM que estavam dentro do campus e manifestarem-se de forma “agressiva”. Já a estudante Kraly de Castela, diretora do DCE, dá outra versão para o fato: “os manifestantes estavam voltando para dentro da USP e falando palavras de ordem, como ‘Fora PM’. Mas ninguém tocou nos policiais, nem nada. Vieram então umas viaturas e cercaram os manifestantes, acuaram. Foi quando começou o confronto”. Ela afirma que, mesmo que algum estudante tivesse empurrado ou tocado, a reação foi “totalmente desproporcional”.

Já a polícia alega que realizou um procedimento padrão para manifestações. “Nós usamos equipamentos de controle de distúrbio, utilizados para dispersar manifestações e manter a ordem”, afirmou o capitão, com relação ao uso de bombas de gás lacrimogêneo e balas de elastômero, as balas de borracha. Ele alega que os equipamentos são não-letais e utilizados não só pela polícia no Brasil, “mas no mundo inteiro”.

Apesar da PM só reconhecer o ferimento de um estudante, que foi levado para o Hospital Universitário (HU), estudantes afirmam que vários outros foram agredidos por cacetetes e foram atingidos por estilhaços de bombas.

A estudantes de Letras Paola Morales relatou que estava andando em direção ao portão principal, de onde estavam voltando os manifestantes, quando veio em direção a ela a tropa de choque. “Eu subi na calçada, levantei a mão e disse ‘eu não sou do movimento, eu não estou fazendo nada’. Daí um policial pegou o cacetete que tava atrás do escudo e falou: ‘então corre, filha da puta’. Eu virei as costas, daí um outro policial pegou a arma de bala de borracha e atirou na minha direção, mas eu consegui desviar. Só que a bala bateu numa árvore, voltou e atingiu a perna de um menino que estava do meu lado”.

Em meio ao confronto, o líder do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SintUSP), Claudionor Brandão, foi detido acusado de desacato e resistência à prisão. Já o sindicalista diz que foi questionar, junto ao tenente-coronel Carlos Longo, o porquê da prisão do funcionário Celso, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). “estavam arrastando o funcionário e eu fui perguntar pro Longo o que estava acontecendo, quando ele me falou: ‘você está preso por desacato’. Daí eu falei que não tinha desacatado e ele falou: ‘e pro resistência também’”. Também foi detido um estudante de História. O policial Claudenir Fogaça, que depôs contra os três, afirmou que eles estavam desacatando a autoridade policial. Os detidos permaneceram aproximadamente três horas no 93º Batalhão da Polícia Militar, onde foi registrado um termo circunstanciado. Segundo o documento, não houve depredação de viaturas da PM nem policiais feridos.

Jornalistas que estavam cobrindo o ato também foram agredidos por policiais, como o fotógrafo Danilo Verpa, da Folha, que foi atingido por um cacetete após ter fotografado um jovem agredido pela polícia.


Assembleia dos estudantes
Após o confronto, os estudantes reuniram-se em frente ao prédio da História e realizaram uma assembleia, onde foi rechaçada a ação do dia e marcada uma passeata para hoje da USP em direção à avenida Paulista.

O professor Luiz Renato Martins, da ECA, defendeu que agora o movimento dos estudantes, funcionários e professores devem ignorar a Reitoria e o Conselho Universitário, órgão máximo de deliberação na USP. Os estudantes entraram em greve na quinta-feira passada, 4, após assembleia geral, e tiraram como um dos eixos principais a exigência da saída da reitora Suely Vilela e eleições diretas para reitor.

No Congresso Nacional
O confronto entre a polícia militar e os estudantes e funcionários da USP chegou ao Congresso Nacional. O deputado Ivan Valente (PSol) protocolou em meio a uma sessão ordinária, um requerimento para a constituição de uma comissão externa de deputados para acompanhar a situação na USP. “Repudio a atitude da reitora Sueli Vilela em não dialogar com a categoria e solicitar a presença da PM”, afirmou o deputado. “A universidade é um local sagrado, de conhecimento e saber. Invasão em instituições de ensino acontecia na época da ditadura militar”, afirmou.


A deputada Maria do Rosário manifestou apoio à criação da comissão e acusou a bancada do PSDB de ter obstruído o plenário alongando votações e impedindo ue se votasse a proposta. "Caso o PSDB volte a obstruir o plenário na próxima terça, as comissões de Educação e Cultura e de Direitos Humanos irão para São Paulo para conversar com os estudantes e acompanhar o caso".


Manifestações de repúdioA comunidade acadêmica tem repudiado veementemente a ação da tropa de choque de ontem e a presença da PM no campus desde 1º de junho.


Cerca de 200 professores, reunidos em assembleia hoje de manhã, manifestaram seu repúdio ao ocorrido e exigem a renúncia da reitora, além da saíde imediata da PM do campus. Os professores defendem que ocorram eleições diretas para reitor e a instalação de uma comissão estatuinte.


"A polícia não entrou aqui sem autorização da reitora, assim como do governador. A nossa situação hoje é inaceitável. Nos reuniremos novamente na próxima segunda e esperamos que até lá exista alguma abertura para diálogo", afirmou o professor Otaviano Helene, presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp).


Os centros acadêmicos e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) também enviaram notas à imprensa manifestando repúdio à ação. O centro acadêmico das Ciências Sociais afirmou, em documento que "ao contrário do que se expõe pela mídia, a agregação não foi um ataque aos manifestantes, mas sim um ataque a toda comunidade universitária. A USP, perplexa, não assistiu a um confronto entre policiais e manifestantes, mas sim um ataque frontal e descabido das forças policiais aos defensores da Educação Pública". O centro acadêmico de São Carlos sustenta que "tais fatos são reflexos da estrutura de funcionamento antidemocrática da Universidade, explicitada pela inaceitável postura de seus dirigentes".


Em carta aberta, o DCE afirmou que defende a "expulsão da Reitora Suely Vilela do seu cargo devido sua administração truculenta e incompetente".

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