domingo, 14 de junho de 2009

Como o teatro caminha com as próprias pernas?

Fonte: Revista Bravo!

Milhões são destinados às artes cênicas no país, tanto em nível federal como municipal, todos os anos. Mas não é suficiente. As companhias têm de recorrer a caminhos alternativos para montar espetáculos e sustentar a própria estrutura. Conheça alguns deles.

Sheyla Miranda

Ao longo de 2008, o Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, destinou exatos R$ 165.602.162,42 a 14 projetos de Artes Cênicas de todo o Brasil. Já para 2009, a Lei de Fomento ao Teatro em São Paulo concedeu uma verba de R$ 9.575.445,94 para as 14 iniciativas aprovadas em editais do município. É provável que muitos desavisados considerem a soma excessiva. Mas para grande parte das pessoas que fazem teatro no país esse valor não tem sido suficiente.
Para se ter uma idéia, o valor máximo permitido por projeto (previsto em lei e corrigido anualmente) nesta edição da lei municipal era de R$ 627.280,31. Em 2009, o projeto que receberá o maior valor será o Qui.me.ras - Diálogos Utópicos e A Nova Ordem do Dia, da Cia. do Feijão. Ele terá o montante de R$ 455.729 para os 20 meses de duração do projeto. Isso significa aproximadamente R$ 22.800 reais por mês para todas as despesas com atores, aluguéis de sede e teatros, técnicos, seminários e atividades paralelas.

Patricia Barros, atriz e produtora do grupo Folias D"Arte, contemplado em janeiro deste ano com Lei de Fomento pelo projeto Homem Cordial, explica que a verba não é usada apenas para montar um espetáculo. "O dinheiro que recebemos é usado também para a manutenção do grupo, do espaço em que ele existe. Também em palestras e seminários promovidos por nós. Há toda uma estrutura a ser sustentada, não é só o que está ali no palco". Para Patrícia, a pior consequência de uma verba insuficiente é o salário baixo dos atores. "Nós acabamos por penalizar o ator e é claro que ficamos muito insatisfeitos com isso, mas não temos como pagar bem o profissional com tantos outros gastos".
Quando a orçamento aperta, uma das alternativas mais usadas pelo Folias D"Arte é a permuta. Em troca de verba concedida por algumas empresas privadas, o grupo coloca o logo delas em cartazes das peças, ou oferece ingressos para funcionários. Esse caminho também é seguido pela Companhia de Teatro Os Satyros, que completa 20 anos neste mês.

Sem qualquer incentivo estatal há um ano e meio, o grupo tem recorrido a permutas e apresentações fora de seu espaço, localizado na Praça Roosevelt, em São Paulo. "O dinheiro do fomento é uma complementação de renda muito importante quando é concedido. A bilheteria representa cerca de 20% da receita do grupo, está longe de ser renda suficiente. Completamos o orçamento viajando com os espetáculos, com permutas e com o incentivo do governo, quando há", comenta o diretor e dramaturgo Rodolfo García Vásquez, criador da companhia ao lado de Ivam Cabral.

Sem verba pública, as condições de trabalho estão mais precárias. Os atores do espetáculo "Justine", que estreou no final de abril nos Satyros, ensaiavam o texto à noite, depois do horário comercial. Também sem apoio privado, a peça foi toda bancada com recursos da companhia. "Muita coisa foi reciclada e a produção teve de ser mais simples", diz Rodolfo.

A atriz e produtora Carolina Manica decidiu não depender de um edital para levar Brutal, texto do dramaturgo Mario Bortolotto aos palcos. Acompanhada de Luciana Caruso, também atriz e produtora, Carolina resolveu montar uma exposição com obras doadas por artistas como Laerte e Lourenço Mutarelli. Representantes das letras, quadrinistas e vídeo-artistas também concederam algumas peças para a mostra, que aconteceu entre 22 de abril e 3 de maio. "Tentamos um edital, mas perdemos. Em vez de esperar que novas verbas surgissem, fomos tentar que a arte promovesse a própria arte. As artes plásticas podem contribuir para o teatro, assim como a literatura e qualquer outra área. Os segmentos artísticos podem e devem se integrar", diz Carolina.
No dia 2 junho, a casa noturna Studio SP abriga a festa Brutal, que também reunirá fundos para o espetáculo. E o dinheiro vai dar para financiar a produção, Carolina? "Olha, não vai ser uma produção super rica, mas vamos conseguir montar a peça. E é esse o nosso objetivo".

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